“Cavaco foi um político acidental que só depois se revelou um grande político”
Cavaco? “Não, não tinha uma cultura literária e humanista; sim, as suas características eram as de um ‘fazedor’, cuja vocação foi a de garantir que Portugal entrasse numa certa normalidade nacional e europeia”; não, “nem tudo foi perfeito”. José Manuel Durão Barroso dixit. O cavaquismo teve uma receita? Teve: “Estabilidade, crescimento económico, apego à justiça social.” Outra viagem pela história da democracia.
A cumplicidade antiga de José Manuel Durão Barroso com Cavaco Silva não lhe vetou o rigor na revisão da matéria. Outro devoto, desconfiarão alguns. Nem tanto: se na sua interpretação do cavaquismo há consideração e reconhecimento, também há crítica e contextualização histórica e política. Tal como ocorreu com Sérgio Sousa Pinto na análise que aqui fez do soarismo, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Cavaco Silva foi igualmente lúcido na viagem sobre essa década em S. Bento. Durão Barroso esteve “lá”, do primeiro ao terceiro governo de Cavaco, e lembra-se: quer do modus operandi quer da “personalidade” do então chefe do governo. E de como “alguns círculos económico-sociais sociologicamente mais de direita viram sempre Cavaco Silva como alguém de outro meio social que os embaraçava”, enquanto a esquerda “nunca lhe perdoou a intromissão na política portuguesa, apoiada em duas maiorias absolutas na governação do país”. Após o soarismo, o passismo, o costismo e o marcelismo, o ex-presidente da Comissão Europeia e actual presidente da Aliança Global para as Vacinas revisita hoje mais uma estação da nossa democracia.