Somos (mesmo) uma merda a crescer: Filipa escreveu um livro sobre chegar à vida adulta

Procurar emprego, encontrar-se em fases diferentes da vida em relação aos amigos e, acima de tudo, estar indecisa. Filipa Beleza passou por todas estas etapas e usou a experiência para escrever e ilustrar um livro que oferece, desde logo, uma conclusão: Somos (mesmo) uma merda a crescer.

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Foi nas tardes quentes de um Verão já longínquo que Filipa Beleza descobriu o amor e talento para o desenho. Com 11 anos, começou a copiar os seus volumes favoritos de banda desenhada e a fazer fan art dos seus autores predilectos, enquanto esperava que o calor infernal de um “Verão à portuguesa” lhe permitisse sair de casa.

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Foi nas tardes quentes de um Verão já longínquo que Filipa Beleza descobriu o amor e talento para o desenho. Com 11 anos, começou a copiar os seus volumes favoritos de banda desenhada e a fazer fan art dos seus autores predilectos, enquanto esperava que o calor infernal de um “Verão à portuguesa” lhe permitisse sair de casa.

Agora, com 28 anos, Filipa tem as suas próprias ideias, marcadas por um percurso de vida que decidiu transformar em livro. Somos (mesmo) uma merda a crescer, editado pela Suma de Letras, retrata a falta de preparação que temos para a transição entre a adolescência e a vida adulta, “a etapa em que somos confrontados com mudanças, após um trajecto estável e seguro, onde temos de começar a trabalhar e os nossos amigos estão numa fase completamente diferente da nossa”, afirma ao P3.

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Filipa Beleza, "Somos (Mesmo) Uma Merda A Crescer"

A ideia surgiu de uma necessidade pessoal de Filipa. No Instagram, já tinha encontrado uma casa para partilhar as suas ilustrações com o mundo, mas faltava cumprir um sonho de criança, que não esmoreceu com o tempo. A paixão pelos livros, que levava sempre consigo numa mochila para se perder nos mundos que estes ofereciam, tornou-se a semente para a criação do Somos (mesmo) uma merda a crescer.

Dividido em ensaios, nos quais Filipa reflecte sobre a transição da adolescência para a vida adulta, e banda desenhada, a obra não pretende ser uma crítica geracional, até porque “não há uma maneira certa de viver”. Pretende, sim, ser “uma reflexão sobre a incerteza que acompanha toda a gente nesta etapa da vida”, onde o humor funciona como alimento criativo. “Eu tenho uma tendência normal para me rir das coisas e acho que esta ideia de perceber que somos todos uns nabos nesta transição motiva-me”, explica a ilustradora, embora admita que a ideia de estar em “pânico constante” não seja sempre uma mais-valia, tornando-se também a fonte de bloqueios criativos. 

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Filipa Beleza, "Somos (Mesmo) Uma Merda A Crescer"

Para Filipa, a chave é encontrar um “equilíbrio no desespero”, e é essa jornada que o livro documenta. Olha para a obra como uma autobiografia, contaminada pelas experiências e conversas que teve com amigos. O ponto de partida sempre foi fazer um trabalho pessoal, que lhe permitisse lidar com o que sentia de forma divertida e terapêutica, ao mesmo tempo que tentava alcançar a universalidade. “Passamos todos pelos mesmos dramas (...) Acho que, acima de tudo, é uma forma de fazer companhia às pessoas. Ver alguém que expressou o que estás a pensar ajuda-te a relativizar aquilo que estás a enfrentar”, conta.

Para além de intimidade, as ilustrações de Filipa Beleza são ainda pautadas por uma afirmação e um empoderamento feminista, o que Somos (mesmo) uma merda a crescer não descurou. Afirma não ser o ponto central do livro, mas sim uma questão inevitável. Segundo a ilustradora, ainda vivemos numa “sociedade muito conservadora”, onde a simples abordagem de temas como o sexo, trabalho e redes sociais, de um ponto de vista feminino, “irrita muita gente”. “Sendo um tema que me interessa, é mais do que justo falar sobre ele. Há ainda um longo caminho a fazer e é ao falarmos sobre isso que podemos normalizar estes assuntos”, remata.

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Filipa Beleza, "Somos (Mesmo) Uma Merda A Crescer"

Texto editado por Ana Maria Henriques