Navalny aparece em tribunal magro e abatido mas desafiador

Movimento do opositor russo, em tribunal para ser ouvido em mais um caso, suspende actividades e desmantela rede nacional para evitar mais detenções e sentenças mais duras.

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Navalny participou na audiência sem sair da prisão, através de videoconferência EPA

Alexei Navalny surgiu em tribunal em videoconferência a partir da prisão com um aspecto abatido – é a primeira vez que é visto em público depois de 24 dias em greve de fome. O dissidente do Kremlin começou a pôr fim ao protesto há uma semana, quando foi visto por médicos que o avisaram que poderia morrer a qualquer momento.

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Alexei Navalny surgiu em tribunal em videoconferência a partir da prisão com um aspecto abatido – é a primeira vez que é visto em público depois de 24 dias em greve de fome. O dissidente do Kremlin começou a pôr fim ao protesto há uma semana, quando foi visto por médicos que o avisaram que poderia morrer a qualquer momento.

Apesar de enfraquecido fisicamente, Navalny manteve uma postura desafiadora, rejeitando as acusações num novo caso, onde é acusado de difamar um veterano da Segunda Guerra Mundial. “Exijo que as pessoas que assinaram as declarações [a acusá-lo] e que os procuradores enfrentem a justiça”, afirmou, na ligação de fraca qualidade com o tribunal de Moscovo.

De cabeça rapada, percebe-se que está bastante mais magro – um dos seus advogados disse esta quinta-feira que está a pesar 72 quilos, dos 94 que pesava quando voltou à Rússia.

Fora do tribunal, os seus aliados confirmaram que vão desmantelar a sua rede de gabinetes de campanha, enquanto um outro tribunal considera se a vai declarar – e à sua Fundação Anticorrupção - “extremista”. A confirmar-se esse cenário, as autoridades russas passam a poder prender todos os activistas ligados ao trabalho de Navalny e a congelar as contas bancárias do movimento.

“Manter a rede de sedes do trabalho de Navalny na sua forma actual é impossível: levaria imediatamente a penas de prisão para os que trabalham nas sedes, os que colaboram com eles e os que os ajudam”, afirmou Leonid Volkov, um dos mais próximos colaboradores do rival de Vladimir Putin, num vídeo publicado no Youtube.

Na terça-feira, um pedido do procurador já tinha deixado a Fundação Anticorrupção impedida de aceder às suas contas, de organizar protestos e de publicar artigos em jornais.

Navalny, de 44 anos, está a cumprir uma pena de dois anos e oito meses de prisão por violações na liberdade condicional relativas a uma condenação anterior, que ele diz ter sido politicamente motivada. O opositor foi detido a 17 de Janeiro, assim que aterrou num aeroporto de Moscovo – regressava de Berlim, onde chegara em Agosto depois de ser envenenado com o agente de nervos da família do novichok, que só é produzido na Rússia.

Entrou em greve de fome na prisão dos arredores da capital russa a 31 de Março para exigir tratamento médico adequado às suas dores na perna e no peito – na altura tinha-lhe sido recusada assistência médica. Ao longo de três semanas recusou terminar o protesto sem ser visto pelo seu médico.

As manifestações que se realizaram em várias cidades russas em protesto com a sua detenção, e que foram reprimidos com brutalidade, voltaram à rua para tentar pressionar o regime a permitir-lhe o acesso a médicos em que pudesse confiar. Face às notícias da deterioração do seu estado de saúde, a União Europeia e os Estados Unidos avisaram para consequências graves se o líder da oposição morresse na prisão.

O movimento de Navalny, que agora se vê forçado a pôr fim à maioria das suas actividades, foi criado em 2011 e tem exposto esquemas de corrupção que envolvem membros do regime e até casos sobre a fortuna pessoal do Presidente.