Alfredo Casimiro rompe acordo da Groundforce com a TAP mas quer “relação saudável”
Turbulência mantém-se na empresa, com o accionista maioritário a defender que o contrato de venda de equipamentos assinado com a TAP, que permitiu pagar salários aos trabalhadores, tem de ser anulado.
O accionista maioritário da Groundforce, Alfredo Casimiro (dono da Pasogal, que detém 50,1% da empresa de handling), anulou o contrato recentemente estabelecido com a TAP (grupo que detém os outros 49,9%) e que permitiu o pagamento dos salários dos trabalhadores nos últimos meses. Para tal, foi convocada uma reunião do conselho de administração da empresa para a tarde desta quarta-feira, na sequência da qual foi tomada a decisão de romper o acordo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O accionista maioritário da Groundforce, Alfredo Casimiro (dono da Pasogal, que detém 50,1% da empresa de handling), anulou o contrato recentemente estabelecido com a TAP (grupo que detém os outros 49,9%) e que permitiu o pagamento dos salários dos trabalhadores nos últimos meses. Para tal, foi convocada uma reunião do conselho de administração da empresa para a tarde desta quarta-feira, na sequência da qual foi tomada a decisão de romper o acordo.
Já de noite, foi enviado um comunicado em nome de Alfredo Casimiro, no qual se afirma que “perante a opinião do conselho fiscal, dos auditores da Deloitte e de alguns juristas, se concluiu serem nulos os contratos de sale & leaseback e arrendamento, celebrados em 19 de Março de 2021 entre a Groundforce e a TAP”.
Os contratos em causa, alega-se, “eram desequilibrados e punham em causa a sobrevivência da Groundforce” pelo que “foram anulados”. Dos cinco elementos do conselho de administração, dois são nomeados pela TAP SGPS, mas que não votaram segundo fonte oficial da Groundforce, “por conflito de interesses”. Já Paulo Neto Leite (ex-presidente executivo, recentemente destituído) absteve-se e Alfredo Casimiro e o outro administrador por si nomeado, Gonçalo Faria de Carvalho, votaram a favor.
No mesmo comunicado afirma-se que a ideia é “iniciar negociações com a TAP até um período máximo de seis meses”, isto com o objectivo de tentar “encontrar uma solução com vista a refazer os contratos de forma justa e equilibrada para ambas as partes”. Nem a TAP (onde o Estado controla 72,5% do capital) nem o Ministério das Infra-estruturas, que detém a tutela, se pronunciaram até ao momento.
Por parte de Alfredo Casimiro, este afirma que “estão assegurados os salários de Maio e espera-se, nas próximas semanas, ter a segurança necessária para garantir os de Junho”. “É intenção do accionista Pasogal manter e desenvolver uma relação saudável com a TAP, como aquela que existiu entre 2012 [ano da privatização] e 2019”, e há, defende-se, “condições para regressar à normalidade”.
O negócio que agora Alfredo Casimiro anulou envolveu 6,9 milhões de euros, consistiu na venda de bens da Groundforce à TAP desde autocarros e outros veículos ligados à logística a escadas de acesso. No entanto, a Groundforce podia alugar estes equipamentos à TAP, tendo ainda uma opção de recompra.
Esta foi a solução encontrada para pagar os salários em atraso de Fevereiro aos cerca de 2400 trabalhadores da Groundforce, bem como os vencimentos de Março e Abril (pelo menos alguns já foram pagos, segundo a Comissão de Trabalhadores). Depois de vários anos com lucros, a Groundforce sofreu um prejuízo de 25 milhões de euros em 2020, e não se prevê que volte aos resultados líquidos positivos este ano.
Sem capacidade para devolver os 6,9 milhões à TAP, a estratégia de Alfredo Casimiro passa agora por negociar um plano de pagamentos.
O referido acordo com a TAP, conforme já noticiou a Lusa, foi fechado na altura com três votos a favor – os dois administradores nomeados pela TAP SPGS e Paulo Neto Leite, –, a abstenção de Alfredo Casimiro, presidente do conselho de administração, e um voto contra por parte do outro administrador nomeado pelo accionista privado, Gonçalo Carvalho.
Depois disso, Paulo Neto Leite foi destituído do cargo por Alfredo Casimiro, que alegou “violação grave dos deveres de lealdade”. O gestor ainda não foi substituído no cargo (ficou como administrador não executivo), e Alfredo Casimiro acumulou as funções de presidente de conselho de administração e de presidente executivo, detendo voto de qualidade.
Com a empresa num impasse, e num clima de crispação entre accionistas, uma solução passaria pela venda da posição de Alfredo Casimiro, que já lhe viu negado o empréstimo de 30 milhões de euros pedido à Caixa Geral de Depósitos e que envolvia garantias a prestar pelo Estado (via Banco de Fomento). O empresário tem estado em negociações exclusivas com um candidato interessado, a espanhola Atitlan, mas, de acordo com fonte oficial da empresa, estas “complicaram-se” nos últimos dias.