Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo doutorados honoris causa pela Universidade de Lisboa

Fundaram a Cornucópia juntos há quase 50 anos. Agora voltam a encontrar-se para a homenagem da Universidade de Lisboa, que vai distingui-los com o grau de doutor no dia 18 de Maio, na Aula Magna.

Fotogaleria

A Universidade de Lisboa vai atribuir o grau de doutor honoris causa aos encenadores e actores Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo numa sessão conjunta a ter lugar no próximo dia 18 de Maio, pelas 11h00, na Aula Magna da Reitoria, foi anunciado esta quarta-feira. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Universidade de Lisboa vai atribuir o grau de doutor honoris causa aos encenadores e actores Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo numa sessão conjunta a ter lugar no próximo dia 18 de Maio, pelas 11h00, na Aula Magna da Reitoria, foi anunciado esta quarta-feira. 

As distinções a estas duas figuras de referência do teatro e do cinema portugueses são atribuídas pela Universidade de Lisboa sob proposta da Faculdade de Letras (FLUL).  Na fundamentação, Luis Miguel Cintra é descrito como protagonista de “um dos percursos mais exaltantes da recente história do teatro português, que lhe tem merecido – no plano da cultura e das artes, não apenas em Portugal, mas também a nível internacional –​ o reconhecimento unânime como intelectual, artista e criador de excepção”.

A universidade refere ainda que a criação do Teatro da Cornucópia, em 1973, pelo homenageado, “representou, e continua a representar, uma aventura cultural e artística de consequências extraordinárias em muitos dos campos a que se reporta a prática de teatro”.

Fundado em 1973, o Teatro da Cornucópia foi iniciativa de Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, que iniciaram as carreiras no teatro universitário, e reuniram em torno do seu projecto um pequeno grupo de actores profissionais, tornando-se numa das mais prestigiadas companhias nacionais. Viria a encerrar por decisão de Cintra, em 2016, depois de várias polémicas ligadas à falta de apoio.

Formado em Filologia Românica pela FLUL, onde iniciou a carreira de actor e encenador de teatro em 1968, no Grupo de Teatro de Letras, Luis Miguel Cintra frequentou a Bristol Old Vic Theater School, em Inglaterra.

Com a própria companhia de teatro, participou nos Festivais de Teatro da Bienal de Veneza (1984), de Avignon (1988), de Outono de Paris (1989), na Europália de Bruxelas (1991), e na sessão da École des Maîtres, em Udine, Itália, que lhe foi dedicada.

No final da década de 1990, Luis Miguel Cintra actuou no Théâtre de la Commune-Pandora, Aubervilliers/Paris e, em 2005, encenou um espectáculo no Teatro de la Abadia, em Madrid.

A encenação de ópera, a gravação de discos de literatura portuguesa e o trabalho como actor em vários filmes, nomeadamente de Manoel de Oliveira, e Maria de Medeiros, fazem parte do seu currículo, composto por um “invulgar trajecto artístico e cultural”, sublinha a universidade.

Entre quase três dezenas de filmes, Cintra participou em O Gebo e a Sombra (2014), Cristóvão Colombo – o Enigma (2007), O Princípio da Incerteza (2002), Non ou a Vã Glória de Mandar” (1991), de Manoel de Oliveira, e em Capitães de Abril (1999), de Maria de Medeiros.

Jorge Silva Melo, actor, encenador, dramaturgo, realizador e tradutor, licenciado em Filologia Românica pela FLUL, estudou na London Film School. Com Luis Miguel Cintra fundou e dirigiu o Teatro da Cornucópia (1973/1979). Em 1995, viria a criar a sociedade Artistas Unidos, em Lisboa, de que é ainda director artístico.

É autor, entre outros, do libreto de Le Château des Carpathes, que Philippe Hersant compôs a partir do romance de Júlio Verne, das peças Seis Rapazes Três Raparigas; O Fim ou Tende Misericórdia de Nós; Prometeu; ou Num País Onde Não Querem Defender os Meus Direitos, Eu Não Quero Viver

Jorge Silva Melo realizou também várias longas-metragens, documentários e curtas-metragens, como Passagem ou A Meio Caminho, Ninguém Duas Vezes, Agosto, Coitado do Jorge ou António, Um Rapaz de Lisboa.

Na área da tradução, trabalhou obras de Carlo Goldoni, Luigi Pirandello, Oscar Wilde, Bertolt Brecht, Georg Büchner, Lovecraft, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Heiner Müller, Harold Pinter e Max Frisch, entre outros.

Para a atribuição do grau de doutor honoris causa a Jorge Silva Melo, é destacada a “personalidade de reconhecido mérito, atestado pelo seu currículo e pela sua notável intervenção no campo artístico”, bem como “o seu talento no traçar de novos caminhos do teatro português, após a revolução de Abril de 1974”.

Na fundamentação para a homenagem, é destacado igualmente o papel de Jorge Silva Melo “durante a década de 1990, pelo repensar dos modos de produção e dos paradigmas do trabalho teatral, sempre com uma grande atenção ao real, num trabalho reconhecido nacional e internacionalmente”.

Na cerimónia de atribuição do grau de doutor a Luis Miguel Cintra, o elogio ficará a cargo da professora da FLUL Maria João Brilhante, cabendo a outro docente da mesma faculdade, José Pedro Serra, fazer o elogio de Jorge Silva Melo.