Insecto da Austrália reduz potencial invasor da acácia-de-espigas em Portugal
Equipa de investigadores recorreu à libertação de um insecto na natureza que funciona como “agente de controlo biológico” para controlo para espécie invasora que se encontra no litoral português
Um insecto australiano libertado em Portugal para controlo da acácia-de-espigas reduz de “forma significativa” a propagação desta espécie, que é “uma das piores invasoras no litoral português”, concluiu uma investigação divulgada esta quarta-feira pela Universidade de Coimbra (UC). De acordo com um estudo que acaba de ser publicado no Journal of Environmental Management, “um pequeno insecto australiano libertado em Portugal para o controlo natural da acácia-de-espigas está a reduzir de forma significativa a capacidade de propagação desta espécie”, refere o comunicado de imprensa da UC.
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Um insecto australiano libertado em Portugal para controlo da acácia-de-espigas reduz de “forma significativa” a propagação desta espécie, que é “uma das piores invasoras no litoral português”, concluiu uma investigação divulgada esta quarta-feira pela Universidade de Coimbra (UC). De acordo com um estudo que acaba de ser publicado no Journal of Environmental Management, “um pequeno insecto australiano libertado em Portugal para o controlo natural da acácia-de-espigas está a reduzir de forma significativa a capacidade de propagação desta espécie”, refere o comunicado de imprensa da UC.
Portugal foi, em 2015, o primeiro país da Europa continental a efectuar a libertação intencional de um agente para controlar biologicamente uma planta invasora, depois de mais de uma década de estudos realizados por uma equipa do Centro de Ecologia Funcional (CFE), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, e da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), do Instituto Politécnico. Os investigadores do CFE e da ESAC, referiu a UC, promoveram a libertação deste “agente de controlo biológico” para “controlar a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), desde 2015, em 61 locais ao longo da costa portuguesa”.
A introdução do insecto - “uma pequena vespa australiana (Trichilogaster acaciaelongifoliae) formadora de galhas” - foi, depois, acompanhada pela equipa de especialistas, para estudar “o estabelecimento, dispersão e efeitos ao longo dos primeiros anos pós-libertação” do animal. Os resultados dessa monitorização, agora publicados, mostram que, embora o estabelecimento inicial “tenha sido limitado pelo facto de o agente ter sido introduzido a partir do hemisfério sul, as taxas de estabelecimento aumentaram muito após a sincronização de seu ciclo de vida com as estações do hemisfério norte e fenologia da acácia-de-espigas”.
“Actualmente, observa-se um crescimento exponencial das populações, que se afastam cada vez mais dos locais de libertação”, sublinharam, citadas pela UC, Hélia Marchante e Elizabete Marchante, coordenadoras do estudo. “Passados poucos anos, os ramos de acácia-de-espigas com galhas de Trichilogaster acaciaelongifoliae diminuíram a produção de vagens (menos 84%), sementes (menos 95%) e ramos secundários (menos 33%)”, destacaram as investigadoras. A acácia-de-espigas, esclareceram, é uma das plantas invasoras “com maior dispersão ao longo do litoral português, onde forma extensas áreas monoespecíficas; produz milhares de sementes anualmente, que se acumulam no solo por várias décadas, e promovem a rápida invasão de áreas intervencionadas”.
Mas “a vespa australiana introduzida promove a formação de galhas nas gemas florais e vegetativas da acácia-de-espigas, reduzindo o seu potencial invasor”. Originário do mesmo país da acácia-de-espigas, o insecto tem a especificidade de formar galhas apenas nas gemas florais desta planta e em mais nenhuma outra (ao longo de várias anos, foram feitos testes em diferentes plantas nativas de Portugal para poder ser introduzida a espécie). Os galhadores são insectos que conseguem colocar ovos nas gemas florais, fazendo depois com que a planta desenvolva uma estrutura, que é a galha e, dentro dessa galha, o insecto vai-se desenvolvendo e completando o seu ciclo de vida.
Francisco López-Núnez, investigador do CFE e primeiro autor do estudo, observou que, “apesar de a introdução e estabelecimento deste agente de controlo biológico ainda ser recente e ter distribuição limitada ao longo do território, os resultados agora publicados confirmam o estabelecimento com sucesso do agente em Portugal e mostram que este está a afectar de forma negativa a capacidade da acácia-de-espigas se reproduzir e crescer”.
As espécies invasoras “são uma das principais causas de perda de biodiversidade a nível global, promovendo também prejuízos elevados a nível económico e de saúde humana. A gestão destas espécies é um desafio complexo e muito dispendioso. O controlo biológico de plantas invasoras é uma ferramenta chave para a gestão mais sustentável destas espécies, mas ainda é muito pouco utilizado na Europa”, concluíram Hélia Marchante e Elizabete Marchante.