Morreu Helen Weaver, que escreveu as memórias do que viveu com Jack Kerouac e a Geração Beat
A tradutora, editora e escritora conheceu o autor de Pela Estrada Fora e outros escritores da Geração Beat em 1956. Décadas mais tarde, em 2009, a City Lights Books publicou as suas memórias: The Awakener: A Memoir of Kerouac and The Fifties. Morreu aos 89 anos, em Woodstock.
Helen Weaver, que passou 20 anos a escrever as memórias The Awakener: A Memoir of Kerouac and The Fifties (City Lights Books, 2009), em que dá conta da sua relação com o escritor Jack Kerouac (1922-1969), a geração Beat e Lenny Bruce, morreu aos 89 anos, na sua casa em Woodstock, nos Estados Unidos, no passado dia 13 de Abril, segundo o New York Times.
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Helen Weaver, que passou 20 anos a escrever as memórias The Awakener: A Memoir of Kerouac and The Fifties (City Lights Books, 2009), em que dá conta da sua relação com o escritor Jack Kerouac (1922-1969), a geração Beat e Lenny Bruce, morreu aos 89 anos, na sua casa em Woodstock, nos Estados Unidos, no passado dia 13 de Abril, segundo o New York Times.
Esta tradutora de francês, que se formou em Língua Inglesa pela Universidade de Oberlin e trabalhou na editora Farrar, Straus & Giroux, escreveu também sobre astrologia (é co-autora do Larousse Encyclopedia of Astrology). Com a sua tradução de Antonin Artaud: Selected Writings foi finalista do National Book Award em 1977.
Helen Weaver conheceu o autor de On the Road/Pela Estrada Fora e outros escritores da Geração Beat em 1956. Nas primeiras páginas do seu livro de memórias, conta que estava ainda de pijama, num domingo de Novembro, no apartamento em Greenwich Village que partilhava com uma amiga que também se chamava Helen , quando tocaram à campainha e Helen Elliott exclamou: “É o Allen e o Jack!”, seus amigos do tempo da universidade.
Quando foi espreitar à janela, Helen Weaver viu um grupo de quatro rapazes com grandes mochilas e ar de quem não trocava de roupa há dias, o que era verdade porque tinham vindo à boleia do México sem parar. Foi nesse dia que conheceu Allen Ginsberg, o seu companheiro Peter Orlovsky, o irmão deste, Lafcadio, e Jack Kerouac, que ela achou “incrivelmente bonito”. Allen disse-lhe que eram todos poetas, “e o modo respeitoso como ele pronunciou a palavra indicava que ser poeta era um passaporte para se ir a qualquer lado”. Logo nesse domingo, quando estavam sentados no chão no meio da sala, Jack Kerouac começou a tirar manuscritos da sua mochila. “Eles tinham títulos estranhos: Tristessa e Mexico City Blues e Angels of Desolation. Pareceram-me todos títulos muito tristes”, conta em The Awakener.
“'Eu escrevi isto’, disse ele, dando-me um livro de capa dura: The Town and The City, por John Kerouac. Wow – ele era um autor publicado! Estava impressionada.” E pouco depois começavam uma discussão apaixonada a propósito da obra de Thomas Wolfe e de Henry James, e sobre se um bom escritor precisa de ser editado por um bom editor. Kerouac acreditava que a escrita devia ser espontânea, como o jazz. “Havia qualquer coisa de natural e despretensioso neste homem, mesmo quando dizia que ele e o Allen eram ambos bons escritores. Disse-me que tinham descoberto uma nova maneira de escrever, e que iam ser famosos. Pela maneira como o afirmou, parecia ser uma missão.”
Nesse dia, Helen Weaver disse a Kerouac que também ela queria vir a ser uma escritora, e ele “não se riu”. “’Que maravilha’, disse ele e fez um sorriso de aprovação.”
Este foi o início da relação dos dois, que acabaria um ano mais tarde por causa da vida desregrada de Kerouac e do seu alcoolismo. Em 1957 Helen pediu-lhe para ele sair de casa. Mais tarde, no romance Desolation Angels (1965), ele criou uma personagem inspirada nela, Ruth Heaper, que terminava a relação por conselho do terapeuta. “Quando pedi a Jack que se fosse embora, não foi porque o meu analista mandou, mas pelo mesmo motivo que a América o rejeitou: ele acordou-nos a meio da noite do longo sonho dos anos 50. Ele interferiu com o nosso sono.”