Inquérito serológico: 15,5% da população tinha anticorpos para o coronavírus em Março
Os resultados da segunda fase do inquérito nacional indicam que a seroprevalência é mais elevada na população adulta em idade activa e mais reduzida no grupo entre os 70 e os 79 anos.
Menos de um sexto da população residente em Portugal – 15,5% – tinha, no final de Março, anticorpos específicos para o novo coronavírus em Portugal, conferidos pela infecção natural e pela vacinação, indicam os resultados preliminares da segunda fase do inquérito serológico nacional que foram divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Menos de um sexto da população residente em Portugal – 15,5% – tinha, no final de Março, anticorpos específicos para o novo coronavírus em Portugal, conferidos pela infecção natural e pela vacinação, indicam os resultados preliminares da segunda fase do inquérito serológico nacional que foram divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa).
“A prevalência de anticorpos específicos contra SARS-CoV-2 na população residente em Portugal, com idades entre um e 80 anos, foi de 15,5%, sendo 13,5% conferida por infecção”, adianta, em comunicado, o Insa, o coordenador deste inquérito que é realizado em parceria com a Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, a Associação Portuguesa de Analistas Clínicos, além de hospitais do Serviço Nacional de Saúde.
Os resultados preliminares da segunda fase do inquérito serológico nacional – que analisou uma amostra de 8463 pessoas residentes em Portugal e recrutadas entre 2 de Fevereiro e 31 de Março passados – indicam que a seroprevalência estimada nos jovens abaixo dos 20 anos e nas crianças até um ano não é inferior à dos adultos. A presença de anticorpos é mais elevada na população adulta em idade activa do que no grupo entre os 70 e os 79 anos.
A amostra tem uma limitação – não incluiu idosos a partir dos 80 anos –, mas englobou já uma pequena percentagem de pessoas que adquiriram anticorpos através da vacinação. Neste último grupo, “a proporção de pessoas com anticorpos específicos contra SARS-CoV-2 foi de 74,9%, valor que aumentou para 98,5% quando consideradas apenas as pessoas vacinadas com duas doses há pelo menos sete dias”, especifica o Insa.
Estas estimativas, avisa, devem “ser interpretadas com cautela, dado o reduzido número de pessoas vacinadas” incluídas na amostra da segunda fase do inquérito. Seja como for, “corroboram o efeito esperado de aumento da imunidade populacional contra SARS-CoV-2 à medida que o programa de vacinação for sendo implementado”.
Por regiões, o Norte, Lisboa e Vale do Tejo, o Centro e o Alentejo foram aquelas onde se observou uma maior seroprevalência.
Na primeira fase do inquérito serológico nacional – realizada entre 21 de Maio e 8 de Julho do ano passado e com uma amostra substancialmente inferior (2301 participantes recrutados em 96 pontos de colheita de sete laboratórios de patologia clínica e 18 hospitais públicos) – foi estimada uma seroprevalência global de 2,9% na população residente em Portugal, não tendo então sido encontradas diferenças representativas entre regiões e grupos etários.
Os resultados desta segunda fase do inquérito batem certo com os de um estudo divulgado há duas semanas e que estimou que 13% da população portuguesa teria, em 17 de Março passado, anticorpos contra o novo coronavírus após a infecção natural. A percentagem aumentava para 17% quando incluídas as pessoas que já tinham sido vacinadas até essa data.
Intitulado Painel Serológico Longitudinal Covid-19, este estudo analisou a presença de anticorpos para o SARS-CoV-2 em colheitas de sangue feitas entre 1 e 17 de Março, em Portugal continental e ilhas, numa amostra constituída por 2172 pessoas, incluindo 156 que foram vacinadas até ao fim de Fevereiro e 264 que tinham revelado anticorpos contra o novo coronavírus num estudo anterior, de Setembro e Outubro de 2020.
O coordenador de ambos os estudos, Bruno Silva-Santos, investigador e vice-director do Instituto de Medicina Molecular (IMM) João Lobo Antunes, considerou então, em declarações à Lusa, que estes dados indicam que “a vacinação é a única via em tempo útil para se atingir a imunidade de grupo”, essencial para um regresso à normalidade.
“Sem a vacinação, é um processo demasiado lento”, afirmou, sublinhando que apenas 13% da população terá atingido a imunidade por “via natural” passado um ano sobre o início da pandemia e depois de dois confinamentos generalizados. Se o plano nacional de vacinação decorrer sem mais perturbações, com “doses disponíveis” e uma “adesão normal das pessoas”, a imunidade de grupo poderá ser alcançada em Portugal em Setembro, com 75% da população protegida contra a covid-19, estimou.