Excerto de O Deus das Moscas Tem Fome, de Luís Corte Real
Luís Corte Real fundou a editora Saída de Emergência em 2003. Desde então criou a Coleção Bang! e a Revista Bang!, publicação semestral e gratuita dedicada à fantasia, FC e horror. Nesta sua primeira obra, apresenta-nos Benjamim Tormenta:“o famoso detective do oculto que se move na Lisboa do século XIX”. Excerto do segundo capítulo de O Deus das Moscas Tem Fome, onde se revelam os segredos antigos de um homem que se prepara para morrer.
Bateram à porta do prédio, várias vezes, numa cadência urgente, quase desesperada. Tormenta acordou em sobressalto. Pela janela esconsa do quarto entrava a luz mortiça da tempestade que se aproximava, emprestando um tom amarelado às paredes tristes. O bruxeiro não se recordava de se ter deitado. Ainda estava vestido, apenas as botas jaziam arrumadas junto aos pés da cama. Voltaram a bater à porta. O dia anterior era uma nuvem densa e nublada. Chegara de Alcântara, depois de desembarcar. Ainda podia sentir o cheiro a oceano e as semanas de ondulação. Raj arrumara a sua mala num silêncio alegre. Fumara muito. Ah! Uma jovem aparecera. Uma jovem extraordinariamente bela que o acariciara e se desnudara para exibir uma linha do pescoço e do seio que excedia o que ele observara no peito das estátuas e das gravuras. Não!… Não, essa parte fora um sonho, um delírio. Os olhos de Tormenta saltitaram pelas sombras do quarto até que os seus olhos encontraram, no aparador mergulhado ainda numa quase escuridão, o brilho feroz das agulhas. E recordou-se do que fizera perante o espelho na noite anterior.
(…silêncio…)
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Bateram à porta do prédio, várias vezes, numa cadência urgente, quase desesperada. Tormenta acordou em sobressalto. Pela janela esconsa do quarto entrava a luz mortiça da tempestade que se aproximava, emprestando um tom amarelado às paredes tristes. O bruxeiro não se recordava de se ter deitado. Ainda estava vestido, apenas as botas jaziam arrumadas junto aos pés da cama. Voltaram a bater à porta. O dia anterior era uma nuvem densa e nublada. Chegara de Alcântara, depois de desembarcar. Ainda podia sentir o cheiro a oceano e as semanas de ondulação. Raj arrumara a sua mala num silêncio alegre. Fumara muito. Ah! Uma jovem aparecera. Uma jovem extraordinariamente bela que o acariciara e se desnudara para exibir uma linha do pescoço e do seio que excedia o que ele observara no peito das estátuas e das gravuras. Não!… Não, essa parte fora um sonho, um delírio. Os olhos de Tormenta saltitaram pelas sombras do quarto até que os seus olhos encontraram, no aparador mergulhado ainda numa quase escuridão, o brilho feroz das agulhas. E recordou-se do que fizera perante o espelho na noite anterior.
(…silêncio…)