Caster Semenya: “O meu corpo está a ficar sem alma”
Em entrevista ao jornal britânico “Guardian”, a atleta sul-africana faz a sua defesa contra os regulamentos que a impedem de competir.
Faltam menos de três meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio e há uma campeã que não sabe ainda se poderá defender os títulos que conquistou em 2012 e 2016. Caster Semenya, a grande dominadora dos 800m na última década, já esgotou quase todos os recursos para tentar anular os regulamentos da World Athletics que a impedem de competir nas suas provas de eleição. E essa incerteza, diz a sul-africana, está a dar cabo dela.
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Faltam menos de três meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio e há uma campeã que não sabe ainda se poderá defender os títulos que conquistou em 2012 e 2016. Caster Semenya, a grande dominadora dos 800m na última década, já esgotou quase todos os recursos para tentar anular os regulamentos da World Athletics que a impedem de competir nas suas provas de eleição. E essa incerteza, diz a sul-africana, está a dar cabo dela.
“O meu corpo está a ficar sem alma. Querem destruir o meu sistema. Eu não estou doente. Não preciso de drogas. Nunca o irei fazer”, garante Semenya numa entrevista ao jornal britânico Guardian, ainda aguardando uma decisão sobre o apelo que fez ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que poderá influenciar a World Athletics a deixá-la competir em Tóquio.
Semenya sofre de hiperandroginismo, uma condição que lhe elevou a produção de testosterona a níveis acima do que é considerado normal nas mulheres. Os regulamentos do organismo que tutela o atletismo internacional definiram limites no que diz respeito aos níveis hormonais permitidos para competir nas provas femininas entre os 400m e a milha.
Semenya tem continuado no atletismo, mas a competir em provas mais longas que estão fora do alcance dos regulamentos. Tem feito algumas corridas de 5000m, mas com tempos muito abaixo dos mínimos para Tóquio, sendo que ela recusou correr provas de velocidade por entender que seriam mais prejudiciais para o seu corpo. Para continuar a competir nas suas provas de eleição (800m e 1500m), a sul-africana teria de recorrer a uma terapêutica de supressão hormonal para baixar os seus níveis de testosterona, mas recusa-se a fazê-lo por entender que os seus níveis hormonais são uma vantagem biológica natural da qual não deve ser obrigada a abdicar. E que não é a única coisa que fez dela uma campeã.
“Treinei como uma escrava para ser a melhor. Eu vi o Usain Bolt treinar. Era uma loucura e eu também sou assim. Os meus níveis altos de testosterona são de nascença, é uma desordem. Não faz de mim a melhor. É aqui que entra o treino e o conhecimento”, assinala a sul-africana, apresentando vários exemplos de desportistas de elite que também têm vantagem biológica sobre a competição.
“Os braços do Michael Phelps são suficientemente grandes para ele fazer o que quiser. Os pulmões dos nadadores são diferentes dos dos outros. Os basquetebolistas, como o LeBron James, são altos. Se os jogadores altos fossem banidos, o basquetebol seria a mesma coisa? O Usain tem fibras musculares fantásticas. Também o vão parar. Os meus órgãos podem ser diferentes e posso ter uma voz grossa, mas sou uma mulher”, reforça.