Há alguns dias, comentando num canal de televisão a entrevista de José Sócrates na TVI, um convidado utilizou mais de uma dezena de vezes a palavra “narrativa”. É uma palavra cheia de evocações e que foi acumulando à sua volta um corpus teórico de grande alcance e densidade, dando até origem a um campo disciplinar chamado narratologia. Mas não era obviamente o saber da narratologia, com os seus conceitos e categorias, nem o imaginário narrativo que fez do romance o género literário hegemónico do nosso tempo, que o comentador tinha no seu horizonte quando usou de maneira recorrente a palavra “narrativa”. Conhecemos bem esse uso porque ele tornou-se frequente no discurso político: “narrativa” significa uma efabulação ou a criação de um cenário que confere sentido a uma determinada ordem de factos ou de ideias. O critério de validade de uma “narrativa”, entendida neste sentido, é a sua verosimilhança e a sua lógica.
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Há alguns dias, comentando num canal de televisão a entrevista de José Sócrates na TVI, um convidado utilizou mais de uma dezena de vezes a palavra “narrativa”. É uma palavra cheia de evocações e que foi acumulando à sua volta um corpus teórico de grande alcance e densidade, dando até origem a um campo disciplinar chamado narratologia. Mas não era obviamente o saber da narratologia, com os seus conceitos e categorias, nem o imaginário narrativo que fez do romance o género literário hegemónico do nosso tempo, que o comentador tinha no seu horizonte quando usou de maneira recorrente a palavra “narrativa”. Conhecemos bem esse uso porque ele tornou-se frequente no discurso político: “narrativa” significa uma efabulação ou a criação de um cenário que confere sentido a uma determinada ordem de factos ou de ideias. O critério de validade de uma “narrativa”, entendida neste sentido, é a sua verosimilhança e a sua lógica.