Identificado potencial fármaco para tratamento do glioblastoma multiforme
O glioblastoma multiforme é um tumor cerebral primário mais agressivo e comum nos adultos.
A partir de um algoritmo de inteligência artificial, uma equipa com cientistas portugueses identificou a molécula piperlongumina como potencial fármaco para o tratamento do glioblastoma multiforme. Os resultados foram agora publicados na revista científica ACS Central Science.
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A partir de um algoritmo de inteligência artificial, uma equipa com cientistas portugueses identificou a molécula piperlongumina como potencial fármaco para o tratamento do glioblastoma multiforme. Os resultados foram agora publicados na revista científica ACS Central Science.
O glioblastoma multiforme é um tumor cerebral primário mais agressivo e comum nos adultos. Estima-se que existam cerca de 200.000 doentes no mundo. A sua progressão é muito acelerada e a remoção completa do tumor através de cirurgia só é possível numa pequena fracção de doentes.
Agora, uma equipa liderada por Gonçalo Bernardes (investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em Lisboa) usou a inteligência artificial para identificar potenciais novos fármacos e alvos terapêuticos. Uma das moléculas que a sua equipa tem vindo a estudar é a piperlongumina, um composto natural encontrado em algumas plantas de pimenta específicas da Ásia e Índia e que é descrito como tendo um potencial anticancerígeno, “mas cujo modo de acção ainda não é conhecido”, esclarece o cientista num comunicado sobre o trabalho.
Ao testar-se a piperlongumina com um algoritmo da inteligência artificial, confirmou-se que havia uma interacção da molécula com uns receptores designados TRP, nomeadamente o TRPV2, que está associado a um mau prognóstico em gliomas. A piperlongumina era como uma chave para o TRPV2, que funciona como uma fechadura. Além disso, viu-se que a interacção prevista entre a molécula e o receptor acontecia numa região pouco propensa a interacções, o que permitiu identificar um potencial local de interacção com fármacos.
Já na validação química e funcional desta interacção, confirmou-se a estrutura da ligação entre as duas moléculas. Em ensaios com modelos celulares de glioblastoma multiforme e amostras de tecidos, verificou-se ainda que células com mais TRPV2 são mais susceptíveis à piperlongumina – o que confirma que essa molécula modela a actividade do receptor e isso terá impacto na viabilidade das células tumorais.
Por fim, na validação com modelos animais de glioblastoma multiforme foi usado um hidrogel com piperlongumina. Esse gel permitiu a aplicação local intracraniana com uma libertação controlada desta molécula ao longo dos dias. Resultado: havia uma diminuição significativa de massas tumorais – algo que também se viu em amostras de tumores retiradas de doentes com glioblastoma multiforme. “A piperlongumina apresentou um efeito antitumoral muito potente e selectivo, actuando através de um novo mecanismo de acção, resultando na remissão quase completa da doença, o que mostra o seu potencial para evitar recidivas de glioblastoma multiforme”, conclui-se no comunicado.
“Estes dados foram muito importantes porque demonstram também como é que esta estratégia de aplicação pode resultar neste tipo de tumores, em que a cirurgia necessita de ser complementada com outros meios de tratamento”, refere Gonçalo Bernardes sobre a importância deste estudo. Além do Instituto de Medicina Molecular, este estudo foi feito na Universidade de Cambridge (no Reino Unido) em colaboração com a Universidade da Pensilvânia (nos Estados Unidos).