Biden quer juntar aliados para acelerar na luta contra as alterações climáticas

Biden anuncia redução para metade das emissões de CO2 dos EUA até 2030. Casa Branca organiza cimeira virtual sobre as alterações do clima com 40 chefes de Estado. Países como Brasil, Japão e Canadá anunciaram novos compromissos.

O Presidente Joe Biden declarou que os Estados Unidos “decidiram passar à acção” na luta pelo clima e prometeu reduzir entre 50% e 52% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, tendo como referência os valores do ano de 2005. “Temos de acelerar, para fazer um mundo mais próspero e mais limpo”, disse Biden, ao abrir uma cimeira virtual de dois dias para a qual convidou 40 líderes mundiais.

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O Presidente Joe Biden declarou que os Estados Unidos “decidiram passar à acção” na luta pelo clima e prometeu reduzir entre 50% e 52% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, tendo como referência os valores do ano de 2005. “Temos de acelerar, para fazer um mundo mais próspero e mais limpo”, disse Biden, ao abrir uma cimeira virtual de dois dias para a qual convidou 40 líderes mundiais.

Com este novo objectivo, os EUA esperam levar outros países que são grandes emissores a aumentar os seus compromissos para o combate às alterações climáticas.

Esta é a década em que temos de tomar decisões para evitar as piores consequências da crise climática”, afirmou Joe Biden, que apresentou o desafio de uma forma positiva para os cidadãos norte-americanos – vai criar “novos empregos, bem pagos” – e incentivou todos os países a juntarem-se a esta iniciativa que tem por objectivo evitar que a temperatura média do planeta suba 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. 

“Não podemos resignar-nos a um futuro de alterações climáticas em que são cada vez mais comuns fenómenos extremos, como secas, tempestades, enormes fogos florestais. Temos de aproveitar bem o tempo até Glasgow, em Novembro”, afirmou Biden, referindo-se à 22.ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas naquela cidade da Escócia. Esta cimeira serve de preparação de compromissos para levar até Glasgow.

Biden, um Presidente católico, foi apoiado na sua mensagem do Dia da Terra pelo Papa Francisco: “Agora é a altura de agir. Estamos no limite”, disse o Papa, que tem apoiado o consenso científico sobre as alterações climáticas, e noutros tempos apoiou a política ambiental de Barack Obama. “Quando se inicia a destruição da Natureza, é difícil de parar. Mas ainda temos tempo e seremos mais resilientes se trabalharmos juntos em vez de estarmos sozinhos”, afirmou o Sumo Pontífice. “Não se sai de uma crise na mesma, ou saímos melhor ou pior. Esse é o desafio e se não sairmos melhorados, vamos encetar o caminho da autodestruição”, avisou.

Saudações europeias

Com o anúncio deste novo compromisso, os Estados Unidos procuram retomar a liderança da luta mundial contra as alterações climáticas, perdida com a Administração Trump, que até abandonou o Acordo de Paris. “Estamos muito contentes por ver os EUA de regresso à política do clima, o que é tão necessário para cumprirmos os nossos objectivos ambiciosos”, saudou a chanceler alemã, Angela Merkel, durante a cimeira.

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Os cortes nas emissões de C02 far-se-ão sentir em todos os sectores da economia dos EUA, promete a Administração Biden REUTERS/KACPER PEMPEL

A primeira meta da União Europeia, a alcançar já em 2030, obriga a uma redução líquida de pelo menos 55% das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera – como recordou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao saudar a iniciativa da cimeira convocada por Joe Biden. “A Europa quer ser o primeiro continente neutral em termos de carbono, mas precisamos de salvar o mundo”, sublinhou.

A presidência portuguesa do Conselho da União Europeia fechou, na quarta-feira, um acordo político provisório com o Parlamento Europeu para a adopção da primeira lei europeia do clima, que obriga o bloco a atingir a neutralidade carbónica em 2050 e prevê que, a partir daí, o continente passe a ter “emissões negativas” — isto é, que seja capaz de remover da atmosfera uma quantidade maior de dióxido de carbono do que aquela que é emitida.

O novo objectivo dos Estados Unidos fica aquém do proposto pela União Europeia, que tem 1990 como ano de referência, o que faz toda a diferença: “Na prática, com o ano de 2005 como referência, a redução será de cerca de 40%, comparando com a UE”, disse ao PÚBLICO Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero.

Mas é uma descida significativa em relação ao compromisso fixado pelo Presidente Barack Obama, de uma redução de 25% a 28% até 2025, recorda o The New York Times. O novo objectivo pretende ser um sinal forte da importância que a Administração Biden dá às alterações climáticas e um incentivo a outros países para que avancem no mesmo sentido. O mote é precisamente “juntos conseguimos”.

Até agora a temperatura média do planeta já subiu 1,2 graus, recordou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que apelou a que todos os países - a começar pelos maiores emissores de C02 - façam “novas e mais ambiciosas Contribuições Nacionais Determinadas [NDC, na sigla inglesa] para mitigação, adaptação e finanças, apresentando acções e políticas para os próximos dez anos”. Estas devem estar alinhadas com o objectivo de alcançar a neutralidade carbónica em 2050 - algo que se pode alcançar equilibrando as emissões de de CO2 com a sua remoção da atmosfera, seja por esquemas de compensação ou fazendo a transição para uma economia mais verde, também designada “pós-carbono”.

Promessas de Bolsonaro

A cimeira tem dois dias, mas Joe Biden conseguiu já alguns novos compromissos. O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse ter dado indicação para antecipar em dez anos o objectivo da neutralidade carbónica, para 2050 – para acompanhar a maioria dos 40 países convidados pelos EUA para esta conferência. Prometeu ainda acabar com o desmatamento ilegal até 2030 e frisou que o Brasil merece um pagamento justo por ter tanta biodiversidade importante à sua guarda.

Bolsonaro trouxe para a cimeira de Biden – num momento em que o Presidente norte-americano teve de se ausentar – o argumento daquilo a que ele chama o “paradoxo amazónico”: os 23 milhões de habitantes da região da Amazónia viverem com os piores níveis de desenvolvimento humano do país, o que permitiria, segundo este raciocínio, colocar em pólos opostos os interesses do desenvolvimento económico e os da protecção ambiental.

O Brasil está a negociar um acordo com os norte-americanos para receber um avultado apoio financeiro, como contrapartida para parar a desflorestação na Amazónia (que está a suscitar muitas dúvidas entre as ONG, receosas de que os termos desse acordo possam reforçar o poder do Presidente). O acordo não deverá estar concluído por estes dias. 

Mais pacífico foi Justin Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá, que anunciou um aumento no corte das emissões de CO2 no seu país: o novo objectivo é de 40% a 45% em relação aos valores de 2005, quando, até agora, era de 30%. O objectivo final é conseguir a neutralidade carbónica em 2050.

O Japão aumentou o seu objectivo de redução das emissões de CO2 para 46% até 2030, tendo como comparação o nível registado em 2013, em resposta à pressão dos EUA, mas também da pressão doméstica de empresas e de organizações ambientalistas que criticavam o limite anterior de 26%, considerando ter falta de ambição.

O Governo japonês estava a ser pressionado por Washington para impor um objectivo de redução à volta de 50%, disseram à Reuters fontes conhecedoras das negociações. 

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, acenou, na sua intervenção na cimeira, com a possibilidade de abrir condições preferenciais para a entrada de empresas estrangeiras no país que invistam em projectos de energia limpa. Disse que gostaria de receber projectos dirigidos à redução das emissões de metano – um gás que é 25 vezes mais eficiente a absorver calor na atmosfera do que o dióxido de carbono, ao longo de 100 anos. E a Rússia é o maior emissor deste gás – no ano passado, o país produziu cerca de 20% das 70 milhões de toneladas libertadas para a atmosfera, segundo a Agência Internacional de Energia.

Xi Jinping frisou o compromisso da China com o multilateralismo, e com “o princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada”. Esta é uma premissa importante nas negociações sobre as negociações de redução das emissões de CO2, porque prevê que os Estados mais desenvolvidos “façam um esforço para acelerar o desenvolvimento de soluções de baixo nível de carbono para as economias menos desenvolvidas”.

A China é o país que mais consome carvão, e Xi prometeu reduzir o uso deste combustível gerador de CO2 entre 2026-2030, reiterando os objectivos nacionais. As emissões de CO2 devem atingir o máximo em 2030, e o objectivo é chegar à neutralidade carbónica em 2060. “São metas melhores do que as de muitas nações ocidentais”, afirmou o Presidente chinês, que no início da sua intervenção disse que “a mãe-natureza deve ser protegida tal como protegemos os nossos olhos”.

“Estou mesmo entusiasmado com o anúncio que Joe Biden fez, é algo que muda tudo”, afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que elogiou o Presidente norte-americano “por trazer os EUA de volta à vanguarda da luta contra as alterações climáticas”. E depois deu uma demonstração dos caminhos sem regresso para os quais a sua oratória por vezes o leva: “É vital que demonstremos que isto não é apenas uma acção cara e politicamente correcta para abraçar coelhinhos [bunny hugging]”, disse Johnson. “Tem a ver com crescimento económico e emprego.”