Inteligência artificial “identifica” autores dos Manuscritos do Mar Morto
O recurso a tecnologia de inteligência artificial permitiu perceber que não foi apenas um, como se suspeitava, mas dois escribas que produziram os manuscritos bíblicos.
Investigadores da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, recorreram à inteligência artificial para concluir que os Manuscritos do Mar Morto foram redigidos por vários escribas, o que abre uma “nova janela” para o estudo do mundo antigo.
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Investigadores da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, recorreram à inteligência artificial para concluir que os Manuscritos do Mar Morto foram redigidos por vários escribas, o que abre uma “nova janela” para o estudo do mundo antigo.
Descobertos há cerca de setenta anos nas cavernas de Qumran, os Manuscritos do Mar Morto são famosos por incluírem os textos mais antigos da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento), assim como vários documentos judaicos até então desconhecidos.
O projecto “The Hands that Wrote the Bible” (As mãos que escreveram a Bíblia), financiado pelo European Research Council, e cujas conclusões foram esta quarta-feira publicadas na revista científica PLOS ONE, permitiu decifrar a forma como os escribas trabalhavam estes manuscritos.
“É muito emocionante, porque abre uma nova janela para o mundo antigo, que pode revelar conexões muito mais intrincadas entre os escribas que produziram os manuscritos”, disse Mladen Popović, professor de Judaísmo Antigo na Faculdade de Teologia e Religião da Universidade de Groningen, citado num comunicado da universidade sobre a publicação da investigação.
Segundo o investigador, o estudo detectou indícios de um estilo de escrita muito semelhante, compartilhado por dois escribas do Pergaminho de Isaías, o que “sugere um treino ou origem comum” para esta função.
O estudo agora divulgado, que contraria a tese de que os manuscritos seriam trabalho de um único escriba, conclusão com base na caligrafia, envolveu o recurso à inteligência artificial para analisar, através das características biomecânicas, a forma de escrita dos documentos.
A investigação incidiu sobre o Pergaminho do Grande Isaías, que apresenta uma caligrafia uniforme.
“Este pergaminho contém a letra ‘aleph’, ou ‘a’, pelo menos cinco mil vezes. É impossível comparar todas elas apenas a olho. Os computadores são adequados para analisar grandes conjuntos de dados, como os cinco mil “a” do manuscrito. A imagem digital possibilita todos os tipos de cálculos de computador, ao micro nível de caracteres, medindo a curvatura de cada um”, explicou Lambert Schomaker, professor de Ciência da Computação e Inteligência Artificial da Faculdade de Ciências e Engenharia.
Segundo os investigadores, este estudo do Grande Manuscrito de Isaías “abre uma maneira totalmente nova de analisar os textos de Qumran com base em características físicas”, já que permite uma análise de micro nível de cada um dos escribas.
“Agora somos capazes de identificar diferentes escribas. Nunca saberemos seus nomes. Mas depois de setenta anos de estudo, parece que podemos finalmente cumprimentá-los através da sua caligrafia”, salientou Mladen Popović.