Campanha australiana criticada por usar mensagens confusas e puritanas sobre consentimento sexual
A campanha Respect Matters, da associação australiana The Good Society, gerou controvérsia com as analogias utilizadas para educar os adolescentes sobre consentimento sexual. Os vídeos da campanha estão a ser alvo de críticas de várias organizações não-governamentais, por promoverem “uma terrível distopia dos anos 50”.
Uma campanha governamental australiana de educação sexual - que utiliza analogias de tacos, batidos e tubarões para falar com adolescentes sobre consentimento - tem sido fortemente criticada por passar mensagens confusas, imprecisas e puritanas. The Good Society, um site que faz parte de um programa denominado Respect Matters (o “Respeito Importa") para reforçar o ensino nas escolas sobre a importância do respeito nas relações interpessoais, tem cerca de 350 materiais audiovisuais e digitais educativos.
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Uma campanha governamental australiana de educação sexual - que utiliza analogias de tacos, batidos e tubarões para falar com adolescentes sobre consentimento - tem sido fortemente criticada por passar mensagens confusas, imprecisas e puritanas. The Good Society, um site que faz parte de um programa denominado Respect Matters (o “Respeito Importa") para reforçar o ensino nas escolas sobre a importância do respeito nas relações interpessoais, tem cerca de 350 materiais audiovisuais e digitais educativos.
Num destes vídeos destinados a jovens de 14-17 anos, uma adolescente convida outro rapaz a experimentar o seu batido e, depois de ele recusar, despeja-o na cara dele. Neste vídeo, por exemplo, o agressor é uma mulher, apesar dos dados oficiais mostrarem que 97% dos agressores sexuais registados na polícia entre 2018 e 2019 são homens, salientou a televisão SBS.
Outros vídeos que abordam o consentimento sexual utilizam analogias, tais como comer tacos ou a hesitação de uma jovem mulher em nadar com tubarões quando um rapaz a tenta convencer a fazê-lo.
A organização não-governamental (ONG) End Rape on Campus Australia defendeu esta segunda-feira, 19 de Abril, no Twitter, que este material não cumpre os padrões de educação de prevenção de agressões sexuais, acrescentando que “há algumas mensagens extremamente preocupantes e desinformação”.
“Se queremos abordar a violência sexual com estudantes, precisamos de os armar com ferramentas que lhes permitam tomar decisões éticas nas suas relações interpessoais emocionais e complicadas”, argumentou a educadora Karen Willis numa declaração conjunta daquela ONG e da Fair Agenda.
Entretanto, outra associação, a Women for Australia chamou à The Good Society “uma terrível distopia dos anos 50”. Já RonniSalt, um popular comentador, destacou ironicamente “os tons puritanos fracos” dos vídeos, bem como o “cheiro religioso da The Good Society”. A senadora do Partido Verde Larissa Waters chamou-lhe “o pior material educativo de sempre em matéria de consentimento”, afirmando que o Governo liderado por Scott Morrison “está desfocado”.
Ao lançar a campanha na semana passada, o ministro australiano da Educação, Alan Tudge, disse que o programa, no qual investiu mais de seis milhões de dólares (cinco milhões de euros), foi concebido com o contributo de especialistas, pais, educadores e comunidade.
A onda de críticas contra o Governo conservador de Morrison surge após o Ministério da Defesa ter proibido na semana passada danças sensuais em actos oficiais na Marinha, na sequência de um escândalo nas redes sociais. Morrison, um pentecostal praticante, também foi fortemente criticado após um escândalo que eclodiu em meados de Fevereiro, quando Brittany Higgins, uma antiga conselheira do seu partido, alegou ter sido violada em 2019 por um colega de trabalho de um gabinete parlamentar.
Para além de três outras queixas contra este alegado violador, surgiu outra contra o então Procurador-Geral, Christian Porter, agora ministro da Indústria, por uma alegada violação há mais de 30 anos, que este nega e que a Polícia arquivou por falta de provas após a morte, em 2020, da alegada vítima.