ANA garante que “não tem interesse económico” mas que Montijo é a “solução mais rápida”
O presidente da comissão executiva da empresa do grupo Vinci, Thierry Ligonnière, descarta a ideia de eventuais indemnizações e diz que a ANA vai “colaborar na execução da solução escolhida, seja ela qual for”.
O presidente da comissão executiva da ANA - Aeroportos de Portugal disse esta terça-feira que a empresa “não tem interesse económico” numa das soluções para a expansão aeroportuária em Lisboa em vez de outra, mas que o Montijo é a “solução mais rápida”.
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O presidente da comissão executiva da ANA - Aeroportos de Portugal disse esta terça-feira que a empresa “não tem interesse económico” numa das soluções para a expansão aeroportuária em Lisboa em vez de outra, mas que o Montijo é a “solução mais rápida”.
“A ANA não tem interesse económico numa solução ou outra”, garantiu Thierry Ligonnière, que foi ouvido pela comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa na Base Aérea n.º 6, no Montijo, cujo pedido foi indeferido pela Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), por falta de parecer positivo de todos os municípios envolvidos.
Na sequência do indeferimento, o Estado decidiu avançar para uma avaliação ambiental estratégica, que vai analisar três opções: Aeroporto Humberto Delgado como principal e complementado pelo do Montijo; Montijo como aeroporto principal e complementado pelo Humberto Delgado; ou a construção de um novo aeroporto no campo de tiro de Alcochete.
“Consideramos que Montijo é a solução mais rápida [...] e sem custos para contribuinte, o que não acontece com as outras opções”, acrescentou o presidente da comissão executiva da ANA, que tem um contrato de concessão com o Estado para exploração aeroportuária no país.
Relativamente ao contrato de concessão com o Estado, o responsável explicou que ele contempla duas opções: ou há uma opção de raiz que implica a desactivação do actual aeroporto de Lisboa, ou uma solução alternativa proposta pela concessionária.
O responsável da ANA/Vinci explicou que, qualquer que fosse a solução prevista no contrato escolhida, ela teria de ser “reequilibrada através de um aumento das taxas ou, se isso não for suficiente, o recurso a recursos públicos”, ou seja, a ANA não ficaria a perder.
Cenários sem indemnizações
Questionado sobre uma eventual indemnização devida pelo Estado à ANA, se optar por outra localização que não a do Montijo, sugerida em 2015 pela gestora de aeroportos da Vinci, Thierry Ligonnière garantiu que a ANA é “parceira do Estado português”, que é “soberano” na escolha da localização para o novo aeroporto.
“Assim sendo, não há lugar a indemnização pela escolha de uma ou outra solução prevista no contrato. [...] Somos parceiros do Estado no desenvolvimento das infra-estruturas aeroportuárias e, portanto, vamos, naturalmente, colaborar na execução da solução escolhida, seja ela qual for”, assegurou.
Thierry Ligonnière explicou que a solução do Montijo seria concluída no prazo de quatro anos, a partir da assinatura do contrato que define as condições de implementação, ao passo que uma solução em Alcochete exigiria o recomeço do processo, com a avaliação ambiental e a realização dos estudos necessários, por exemplo, o que demoraria mais tempo a estar concluída.
O preço dessa demora seria, disse, a ausência de receita e a perda de oportunidades, a partir da retoma do tráfego aéreo aos valores pré-pandemia, que a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla inglesa) aponta para 2024.
Questionado sobre um relatório da ANA datado de 2007, em que a gestora desaconselha a opção Montijo para a expansão da capacidade aeroportuária, Thierry Ligonnière disse não conhecer os pormenores do estudo, uma vez que foi efectuado antes da venda da ANA ao grupo francês Vinci, concluída em 2013, mas argumentou que “as circunstâncias que existiam em 2007, já não existem” e que o mundo “mudou drasticamente nos últimos dois anos”.
“Nós estamos sempre disponíveis para acompanhar o Estado português [...] para, de forma objectiva, definir, ajudar, aconselhar sobre as soluções aeroportuárias que melhor encaixam com o caderno de encargos da concessão”, reiterou o responsável, acrescentando que esse caderno de encargos define que “não haja recurso a dinheiros públicos” na construção desta infra-estrutura.
Prejuízos inéditos
De acordo com o gestor, a ANA vai apresentar resultados negativos referentes ao ano de 2020, o que acontece pela primeira vez desde a sua privatização, tendo perdido “cerca de 600 milhões de euros em receitas”.
Ainda assim, sublinhou o responsável, no ano passado, em plena crise provocada pela pandemia de covid-19, a ANA investiu cerca de 76 milhões de euros na sua rede de aeroportos, nomeadamente em melhorias operacionais no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, e no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto.
Para o responsável, os resultados positivos obtidos nos anos anteriores deixaram a gestora de aeroportos numa situação favorável para suportar os efeitos da crise na aviação, um dos sectores mais afectados pelas restrições à mobilidade, para conter a pandemia.