A Margem do Tempo: Eunice Muñoz comemora 80 anos de carreira despedindo-se do palco e dividindo-o com a neta
Estreia-se esta terça-feira a última peça da grande dama do teatro português. A Margem do Tempo está em cena até sexta-feira em Oeiras, encetando depois uma digressão pelo país.
Estreia-se esta terça-feira a última peça da grande dama do teatro português, Eunice Muñoz, que abandona os palcos com A Margem do Tempo, de Franz Xaver Kroetz. É uma única personagem, mas interpretada em duas idades — a da avó Eunice Munõz e a da sua neta Lídia, com quem escolheu assinalar este marco de carreira e, no que tem descrito publicamente, passar-lhe assim o testemunho. Quando comemora 80 anos de carreira, escolheu uma peça de atmosfera especial, sem diálogos mas sim indicações para avó e neta mergulharem num exercício sobre memória. Sem falar.
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Estreia-se esta terça-feira a última peça da grande dama do teatro português, Eunice Muñoz, que abandona os palcos com A Margem do Tempo, de Franz Xaver Kroetz. É uma única personagem, mas interpretada em duas idades — a da avó Eunice Munõz e a da sua neta Lídia, com quem escolheu assinalar este marco de carreira e, no que tem descrito publicamente, passar-lhe assim o testemunho. Quando comemora 80 anos de carreira, escolheu uma peça de atmosfera especial, sem diálogos mas sim indicações para avó e neta mergulharem num exercício sobre memória. Sem falar.
A Margem do Tempo sobe esta terça-feira ao palco do Auditório Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, com encenação de Sérgio Moura Afonso, que já trabalhou com a actriz por três vezes. Aos 92 anos, Eunice Muñoz interpretará a senhora Rasch, cuja fase de vida mais jovem caberá então à sua neta Lídia. Trabalhadora numa fábrica, Rasch está em palco com a música (neste caso um original de Nuno Feist) e com a decisão radical de se suicidar. A peça é feita de didascálias, as indicações de cena que preenchem o espaço.
Serão poucas as récitas no antigo Cine Teatro de Oeiras — a peça estará em cena até dia 23, sexta-feira — mas A Margem do Tempo irá depois viajar pelo país.
O culminar da digressão será no Teatro Nacional D. Maria II. A Sala Garrett vai recebê-la pela última vez em Novembro, encerrando o círculo de carreira com que a actriz se estreou em teatro na peça Vendaval, em 1941. Tinha 12 anos e trabalhou na peça portuguesa encenada por Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro.
Além das duas salas da região de Lisboa, A Margem do Tempo estará já na próxima semana, a 27 de Abril, no Cine-Teatro Louletano em Loulé, viajando depois até aos Açores para a 7 e 8 de Maio estar em cena no Coliseu Micaelense, em São Miguel, regressando ao continente a 15 de Maio para uma récita na Gafanha da Nazaré e a 21 de Maio estará em Coimbra no Convento de São Francisco. A 29 de Maio termina esta parte da digressão em Pombal. Seguir-se-á Lisboa e o D. Maria II após uma pausa de Verão.
Eunice Munõz não fazia teatro desde 2011, quando no mesmo auditório de Oeiras participou em O Cerco a Leningrado, de José Sanchis Sinisterra; em 2012 deveria voltar ao palco para interpretar O Comboio da Madrugada de Tennessee Williams mas uma queda impediu essa peça e susteve a carreira. Tal como tantos outros espectáculos, a estreia de A Margem do Tempo teve depois de ser adiada devido ao novo confinamento mas concretiza-se esta semana.
Ao longo de 80 anos de carreira, Eunice Muñoz, aluna da Escola de Teatro do Conservatório Nacional, fez novelas na televisão e teatro clássico e moderno no teatro. Foi a agiota Dona Branca na novela A Banqueira do Povo (1993) ou a Mãe Coragem de Bertolt Brecht e tanto tocou textos de Joan Didion quanto o cinema dos portugueses Leitão de Barros, Fernando Lopes, Lauro António, João Botelho ou, no seu último filme, com Tiago Guedes e Frederico Serra.