Madeira: líder do CDS/PP obtém “confiança política” apesar de suspeitas no financiamento do partido

César do Paço, apontado como financiador do Chega, terá dado dinheiro aos centristas de Rui Barreto na região autónoma.

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Miguel Albuquerque e Rui Barreto brindam pelo acordo autárquico LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

O líder centrista madeirense, Rui Barreto, disse este sábado ter colocado à disposição o cargo de secretário da Economia, no governo PSD/CDS-PP, na sequência de suspeitas sobre o financiamento do partido, mas o chefe do executivo manteve a “confiança política”.

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O líder centrista madeirense, Rui Barreto, disse este sábado ter colocado à disposição o cargo de secretário da Economia, no governo PSD/CDS-PP, na sequência de suspeitas sobre o financiamento do partido, mas o chefe do executivo manteve a “confiança política”.

“Tenho a confiança política da direcção do CDS, assim como a confiança política do senhor presidente do Governo [Miguel Albuquerque]”, declarou Rui Barreto. E reforçou: “Eu não pratiquei nenhuma ilicitude, não pratiquei nenhum acto ilegal, não cometi nenhum crime e não há qualquer financiamento ilícito ao CDS.”

O líder centrista falava após a reunião da Comissão Política Regional do partido, no Funchal, na qual prestou esclarecimentos sobre uma reportagem emitida pela SIC, na quarta-feira, em que foram expostos pormenores sobre o financiamento da estrutura regional durante a campanha para as eleições legislativas de 2019.

De acordo a SIC, o CDS-PP da Madeira recebeu 29.880 euros, provenientes de César do Paço, agora principal financiador do partido Chega, sendo que o dinheiro foi transferido para as contas bancárias de seis membros do partido, incluindo o líder Rui Barreto, actual secretário regional da Economia.

A SIC refere que os seis militantes centristas receberam cerca de 5.000 euros cada, em Agosto de 2019, depois de Rui Barreto ter conhecido, em Lisboa, César do Paço, ex-cônsul de Portugal em Cabo Verde e nos Estados Unidos e então militante e financiador do CDS-PP. Faltavam seis semanas para as eleições na Madeira e a estrutura regional do partido passava por dificuldades financeiras, aguardando resposta a um pedido de empréstimo à Caixa de Crédito Agrícola.

O CDS-PP era, na altura, o maior partido da oposição madeirense, com sete deputados no Parlamento, mas elegeu apenas três, numas eleições em que o PSD perdeu a maioria absoluta com que governava a região há 43 anos. Os dois partidos estabeleceram um acordo de coligação governamental e o CDS-PP colocou dois elementos no executivo - Rui Barreto, na secretaria da Economia, e Teófilo Cunha, na secretaria do Mar e Pescas - e ainda José Manuel Rodrigues na presidência da Assembleia Legislativa da Madeira.

“O que está em causa, na peça, é um financiamento ilícito ao CDS. Não houve financiamento. Não ocorreu. Não entrou um cêntimo na conta do CDS. Nem sob a forma de doação, nem sob a forma de empréstimo. Não há nenhum ilícito, não há nenhum crime”, declarou Rui Barreto, vincando estar “absolutamente com a consciência tranquila”. E realçou: “Foi feito um empréstimo pessoal, que foi totalmente restituído.”

Rui Barreto disse, no entanto, que, devido às suspeitas, colocou o cargo de secretário regional à disposição, mas o chefe do executivo, o social-democrata Miguel Albuquerque, reiterou a “confiança política”. A comissão política aprovou este sábado um voto de confiança ao líder, que obteve apenas o voto contra da presidente da comissão concelhia da Ponta do Sol, Sara Madalena, também vereadora naquela autarquia, na zona oeste da Madeira.

Por outro lado, o Diário de Notícias da Madeira indicou este sábado que o líder parlamentar do PS da Madeira, Miguel Iglésias, apresentou queixa-crime no Ministério Público contra os centristas na sequência da reportagem da SIC. Rui Barreto reagiu: “Também quero dizer-vos que estou totalmente disponível, nas instituições judiciais, para prestar todos os esclarecimentos que forem necessários.” O líder do CDS-PP da Madeira realçou ainda que está a ser “vítima” de um “conjunto de imprecisões e de falsidades” reportadas na reportagem televisiva, sublinhando que o que praticou foi “legal”.