Irá a economia cubana mudar após o fim da era dos Castro?
Raúl Castro afastou-se formalmente da chefia do Partido Comunista de Cuba – observadores especulam quantos da chamada “geração histórica” vão realmente afastar-se.
Primeiro Raúl Castro, e de seguida quem mais? Para muitos observadores, a questão de quem irá mesmo deixar os altos cargos no Partido Comunista de Cuba é essencial para responder a outra: quanto é que irá avançar uma reforma económica.
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Primeiro Raúl Castro, e de seguida quem mais? Para muitos observadores, a questão de quem irá mesmo deixar os altos cargos no Partido Comunista de Cuba é essencial para responder a outra: quanto é que irá avançar uma reforma económica.
Peritos citados pela estação de televisão Al-Jazeera dizem que quanto mais membros da chamada “geração histórica” saírem dos cargos de poder, mais espaço deverá haver para reformas económicas.
Na sexta-feira, o primeiro dia do congresso, a mais importante reunião do partido realizada a cada cinco anos, Raúl Castro, 89 anos, passou o cargo de secretário-geral do partido a Miguel Díaz-Canel, de 60, Presidente desde 2018.
Castro tornou-se líder do partido em 2011 (depois de ser Presidente, interino, desde 2006, quando Fidel adoeceu), e foi nesse congresso que anunciou uma série de reformas sociais e económicas. A passagem do testemunho põe fim à liderança contínua dos Castro no partido desde a revolução de 1959.
Mas a concretização destas reformas económicas anunciadas há dez anos tem sido lenta, e a economia assume cada vez mais importância para os cubanos, especialmente os mais jovens, que apenas conheceram os tempos de crise, sublinham alguns analistas citados pela Reuters.
O embargo norte-americano, apertado ainda mais por Donald Trump, e a pandemia do coronavírus deixaram Cuba com mais dificuldades, com falta de bens essenciais e filas de horas à porta das mercearias. Durante a pandemia, a economia teve uma quebra de 11%, segundo dados do Governo. A falta de turistas e da moeda estrangeira que trazem foi um duro golpe. O Governo pareceu reconhecer a urgência, quando o primeiro-ministro Manuel Marrero disse, este mês: “As pessoas não comem planos”.
“Certamente que, de um modo teórico, Díaz-Canel poderia agora assumir as rédeas e rodear-se de pessoas que fossem a sua própria equipa”, disse à Al-Jazeera Richard Feinberg, professor da Universidade de San Diego, Califórnia, e autor do livro Open for Business: Building the New Cuban Economy. “Isso foi o que não aconteceu até agora, que possamos ver. A política económica está nas mãos de pessoas que estão lá há 20 anos ou mais.”
“Raúl Castro está a transferir a autoridade para a próxima geração de líderes, e isto é muito importante porque a próxima geração de líderes baseia-se em performance – e não na herança histórica – para exercer o poder e tem uma fonte de legitimidade”, disse por seu lado Arturo Lopez-Levy, professor na Holy Names University, também na Califórnia, e autor de Raul Castro and the New Cuba: A Close-Up View of Change.