O que fez a covid a esta série da HBO? Cenas cortadas, dez mil testes e uma bolha para Kate Winslet e Guy Pearce

A pandemia tornou fazer cinema ou televisão mais caro, mais demorado e mais planeado. O impacto vai para além das máscaras e das bolhas, tem consequências nas histórias. Mas também serviu para juntar uma actriz ao seu ídolo de juventude.

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Kate Winslet e Guy Pearce em "Mare of Easttown" HBO

Mare of Easttown é uma série típica dos nossos tempos, com apenas sete episódios e duas “estrelas de cinema” como chamariz. Mas também foi uma das primeiras filmagens retomadas após o confinamento de 2020 e o impacto da pandemia afectou a história, a logística e o ambiente emocional. De resto, Kate Winslet apegou-se mais do que o costume à sua personagem, a detective Mare de Easttown, por ter passado mais tempo do que o normal com ela.

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Mare of Easttown é uma série típica dos nossos tempos, com apenas sete episódios e duas “estrelas de cinema” como chamariz. Mas também foi uma das primeiras filmagens retomadas após o confinamento de 2020 e o impacto da pandemia afectou a história, a logística e o ambiente emocional. De resto, Kate Winslet apegou-se mais do que o costume à sua personagem, a detective Mare de Easttown, por ter passado mais tempo do que o normal com ela.

“Filmámos 106 dias até que a covid se abateu, parámos e depois voltei a filmar em Outubro de 2020. E o que seriam cinco semanas tornaram-se oito por causa dos protocolos da covid, das quarentenas...”, conta numa entrevista colectiva por Zoom em que o PÚBLICO está presente. A extensão dos prazos e o aumento dos custos são duas das consequências práticas da pandemia na indústria audiovisual de todo o mundo, mas o autor Brad Ingelsby partilha que a narrativa também foi impactada.

“[Houve] muita reescrita. Havia cenas de casamentos e de festas que tiveram de ser cortadas, tudo o que faltava filmar teve de ser reavaliado”, explica sobre a paragem da Primavera e do Verão de 2020. “Nunca tinha tido este nível de escrutínio em cada cena, [mas foi necessário] para a segurança de todos. Havia pessoas de risco no set e é muito exigente assegurar que as cenas têm escala e ao mesmo tempo mantê-las seguras.”

Já o realizador Craig Zobel agradece genuinamente a pergunta sobre a covid-19 e a rodagem. Mergulha nas recordações sem esconder a ansiedade. “Estávamos a dois terços da produção quando tivemos de entrar em quarentena. Esse dia foi bastante emotivo. Passado um ano é difícil recordar como na altura pensávamos que só íamos estar em casa um par de semanas. E depois passaram-se meses, e meses, e meses.”

Zobel explica que se as rodagens já tinham começado noutros países, Mare of Easttown foi “uma das primeiras séries americanas a voltar à produção”: Não havia um guia [de boas práticas] e estava constantemente com medo de que tivéssemos entre nós algum caso assintomático que acabasse por contagiar a avó de alguém. Montaram uma bolha, impuseram quarentenas a todos os que entrassem nela. “Fizemos dez mil testes durante as filmagens da série. Algumas pessoas contraíram o coronavírus, mas eram pessoas com muito contacto com o mundo exterior, como seguranças e afins, que não estavam directamente junto às câmaras. Foi um grande desafio e bastante assustador.”

Kate Winslet, que é também produtora executiva da série, foi uma das responsáveis pela gestão inicial dos protocolos de segurança sanitária. Fala muito e rapidamente recupera um lado solar: o privilégio de contracenar com Guy Pearce na série. “Estou apaixonada pelo Guy desde os 11 anos, ele é o meu único fraquinho de sempre”, ri-se. “Yes!”, grita. “Tive de fazer quarentena com a minha paixão da adolescência por dez dias, e quando estávamos a filmar vivemos juntos porque tínhamos muitas cenas em conjunto. Eu cozinhava para todos, lavava-lhe a roupa interior. Ele é obcecado por reciclagem e andei a remexer o lixo com ele. Tive de lhe dizer: ‘Não fazia parte da fantasia’.”