Irão já está a enriquecer urânio a 60%
Explosão na central de Natanz veio complicar as negociações para salvar o pacto internacional sobre o nuclear iraniano, mas também “acrescenta urgência” ao processo. Nova ronda já decorre em Viena.
Menos de uma semana depois de ter acusado Israel de um ataque contra a sua principal central nuclear, o Irão diz estar a enriquecer urânio com uma pureza de 60%, a maior já registada, precisamente nas instalações de Natanz, abaladas por uma explosão no último fim-de-semana. “Tenho orgulho em anunciar que, às 00h40, jovens e piedosos cientistas iranianos conseguiram obter urânio enriquecido a 60%”, escreveu no Twitter o presidente do Parlamento iraniano, Mohammad Bagher Qalibaf.
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Menos de uma semana depois de ter acusado Israel de um ataque contra a sua principal central nuclear, o Irão diz estar a enriquecer urânio com uma pureza de 60%, a maior já registada, precisamente nas instalações de Natanz, abaladas por uma explosão no último fim-de-semana. “Tenho orgulho em anunciar que, às 00h40, jovens e piedosos cientistas iranianos conseguiram obter urânio enriquecido a 60%”, escreveu no Twitter o presidente do Parlamento iraniano, Mohammad Bagher Qalibaf.
Teerão apresentou a decisão de enriquecer urânio a 60% – três vezes acima do que estava a fazer, ainda longe dos 90% necessários para desenvolver uma arma nuclear – como resposta ao “terrorismo nuclear” de Israel. O Governo israelita não confirmou oficialmente nenhuma operação contra o complexo de Natanz, a sul de Teerão, mas responsáveis dos serviços secretos israelitas e norte-americanos ouvidos sob anonimato pela televisão estatal de Israel e pelo diário The New York Times apontavam para o envolvimento da Mossad, antecipando que levaria meses a recuperar a produção.
A verdade é que 48 horas depois da explosão que destruiu o sistema de energia da central, Teerão anunciava que Natanz já estava a funcionar graças a um sistema alternativo. Segundo o regime, as centrifugadoras afectadas eram todas de tipo “IR-1”, menos eficientes, e seriam substituídas pelas novas – no sábado, pouco antes da quebra de energia, o Presidente, Hassan Rohani, tinha inaugurado uma nova fábrica de montagem de centrifugadoras capazes de enriquecer urânio mais rapidamente e em maiores quantidades.
“Estamos a produzir cerca de nove gramas de urânio enriquecido a 60% por hora”, disse entretanto o chefe da Organização de Energia Atómica do Irão, Ali Akbar Salehi.
A explosão em Natanz seguiu-se ao regresso das negociações para salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, que Donald Trump abandonou unilateralmente e que o Irão deixou entretanto de respeitar. Iranianos e norte-americanos ainda não voltaram a negociar directamente, mas as discussões, mediadas pelos representantes da União Europeia, centram-se em definir que sanções terão os Estados Unidos de levantar e que pontos do pacto internacional terão os iranianos de voltar a cumprir para isso.
Um trabalho gradual de recuperação de confiança que o incidente em Natanz parece ter virado a favor do Irão, aumentando a sua margem para impor pressão nas negociações, em vez de enfraquecer as suas posições. A tratar-se de uma operação israelita, a ideia seria minar as negociações – Israel sempre se opôs ao acordo alcançado em 2015.
Segundo os termos do pacto que permitiu limitar e manter sob supervisão as actividades nucleares iranianos, o Irão só poderia produzir urânio com o máximo de 3,67% de pureza. À partida para as negociações, Teerão exigia o levantamento de todas as sanções reimpostas por Trump para parar a produção de urânio enriquecido a 20%.
"Diplomacia, sanções, sabotagens"
As conversações para salvar o acordo recomeçaram na quinta-feira em Viena, ainda com os enviados da Administração de Joe Biden ausentes dos encontros entre a delegação iraniana e os restantes membros do chamado P5+1 – os países com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, França, Rússia e Reino Unido) mais a Alemanha – e a UE, mas disponíveis para fazerem sugestões através dos europeus.
Em princípio, o ataque em Natanz – e a reacção iraniana de apresentar avanços no seu programa, que seria facilmente antecipável – complica as negociações. Mas a verdade é que estes desenvolvimentos também “recordam às duas partes que o statu quo é uma situação em que todos perdem” e, nesse sentido, “acrescentam urgência” à diplomacia, defende Ali Vaez, director do projecto sobre o Irão do think tank International Crisis Group, ouvido pela AFP. “Quanto mais o processo diplomático se arrastar, maior é o risco de que seja prejudicado por sabotadores ou por quem esteja a agir de má-fé.”
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, avisou que a explosão em Natanz desencadeou uma “espiral perigosa” que só pode ser contida pelo levantamento das sanções. “Não há alternativa. Não sobra muito tempo”, disse. “Não era realista esperar que o Irão não respondesse a um ataque tão humilhante no coração do seu programa nuclear”, nota Vaez. “Nas últimas duas décadas, só a diplomacia limitou efectivamente o programa iraniano, e não sanções nem sabotagens.”