Empresário e activista Jimmy Lai condenado a 14 meses de prisão por protestos em Hong Kong

Proprietário do jornal Apple Daily é uma das vozes mais críticas da interferência do Governo chinês no território semiautónomo e enfrenta uma série de outras acusações com penas mais pesadas.

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Jimmy Lai apelou à população que continue a protestar contra o Governo chinês JEROME FAVRE

Jimmy Lai, o magnata dos media de Hong Kong e um dos principais líderes do movimento pró-democracia no território semiautónomo da China, foi condenado, esta sexta-feira, a 14 meses de prisão pela sua participação nos protestos de 2019.

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Jimmy Lai, o magnata dos media de Hong Kong e um dos principais líderes do movimento pró-democracia no território semiautónomo da China, foi condenado, esta sexta-feira, a 14 meses de prisão pela sua participação nos protestos de 2019.

Lai, de 73 anos, é o proprietário do jornal Apple Daily e é um dos nove veteranos do movimento pró-democracia que foram condenados a penas de prisão esta sexta-feira, num processo que é visto pelos seus apoiantes como um exemplo para o resto da população.

A ofensiva das autoridades locais contra o movimento foi redobrada no último ano, na sequência dos protestos de 2019 contra a crescente interferência do Governo chinês no estatuto semiautónomo de Hong Kong, garantido no processo de transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.

Os protestos levariam Pequim a forçar a aprovação de uma lei no território, em Junho de 2020, que ilegaliza quaisquer manifestações da oposição e prevê a aplicação de penas muito duras, até à prisão perpétua.

Segundo o Governo chinês e o Executivo de Hong Kong, a nova lei tem como objectivo devolver a segurança às ruas e criminalizar os protestos, que são vistos pelo poder como actos de secessão.

"Eliminar a oposição"

Esta sexta-feira, Jimmy Lai foi condenado a 15 meses de prisão por ter participado nos protestos a 18 de Agosto de 2019, e a oito meses pelo seu envolvimento nos protestos a 31 de Agosto de 2019. Depois de uma redução nas duas penas, vai cumprir um total de 14 meses de prisão efectiva.

Ao todo, foram condenados sete dos mais veteranos líderes do movimento pró-democracia, incluindo Martin Lee, de 82 anos – conhecido em Hong Kong como o “pai da democracia” –; e Margaret Ng, de 73 anos, uma antiga deputada e outra das figuras proeminentes no movimento pró-democracia no território.

Devido à idade de ambos, e como “reconhecimento pelas suas contribuições para a sociedade”, a juíza Amanda Woodcock decidiu suspender as penas aplicadas – 11 meses de prisão para Martin Lee e oito meses para Margaret Ng.

As condenações foram criticadas pela directora da Amnistia Internacional na região da Ásia-Pacífico, Yamini Mishra. 

“A acusação, condenação e sentença destes activistas sublinha a intenção do governo de Hong Kong de eliminar toda a oposição política no território”, disse a responsável num comunicado.

Mais acusações

Para além das duas penas de prisão pela participação nos protestos de 2019, Jimmy Lai foi ouvido, esta sexta-feira, no âmbito de outros dois processos e foi notificado de mais duas acusações.

“Quatro processos no mesmo dia? Isto é ridículo”, disse Mark Simon, o braço direito de Jimmy Lai. “Isto é uma demonstração de que podem esmagar a pessoa que eles vêem como a mais poderosa no movimento. Estão a enviar uma mensagem para toda a gente.”

Num dos casos ainda por julgar, o proprietário do jornal Apple Daily é acusado de fraude relacionada com a aquisição do edifício da sua empresa. Lai foi detido em Dezembro de 2020 sob a acusação de fraude, num caso que o jornal Wall Street Journal descreveu, na altura, como uma campanha para manchar a imagem do empresário e preparar o caminho para acusações mais graves – a violação da lei aprovada em 2020.

O empresário e activista é também acusado de colaboração com um país estrangeiro, por ter defendido a aplicação de sanções a Hong Kong pelos Estados Unidos da América; de conspiração para actos subversivos; e obstrução da Justiça.

No início da semana, o Apple Daily publicou uma mensagem que Jimmy Lai escreveu na cadeia em que apela à continuação dos protestos: “A nossa responsabilidade, como jornalistas, é lutar por justiça. Enquanto não permitirmos que o mal nos invada, estaremos a cumprir a nossa responsabilidade.”