Ciberataque à Coindu “custou” 2,5 milhões de euros na produção

Grupo Coindu, com sede em Famalicão e quatro fábricas em três países, regressou ao trabalho após dois dias de paragem total.

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Coindu/Famalicão MadeIn

A empresa têxtil Coindu, com sede em Famalicão e unidades fabris em Arcos de Valdevez, na Roménia e no México, retomou a laboração depois de sofrer um ciberataque que lhe custou dois dias de paragem total e uma quebra de produção de cerca de 2,5 milhões de euros.

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A empresa têxtil Coindu, com sede em Famalicão e unidades fabris em Arcos de Valdevez, na Roménia e no México, retomou a laboração depois de sofrer um ciberataque que lhe custou dois dias de paragem total e uma quebra de produção de cerca de 2,5 milhões de euros.

Entre terça, quando o problema foi detectado, e quinta-feira, pelo menos 2500 trabalhadores estiveram em paragem total, devido ao ataque informático que terá começado na filial mexicana. No total, cerca de 5000 mil pessoas estiveram sem acesso aos sistemas informáticos deste grupo especializado na produção de revestimentos usados por muitas marcas automóveis e que também faz artigos para moda de luxo na fábrica que tem no Alto Minho, a Coindu Couture.

Os responsáveis da empresa apresentaram queixa na Polícia Judiciária, mas não notificaram o Centro Nacional de Cibersegurança, segundo confirmou a assessoria de imprensa deste órgão ao PÚBLICO.

No caso desta empresa, que não respondeu a esta pergunta enviada por escrito, essa notificação de incidente era voluntária e não obrigatória. A lei portuguesa só impõe a notificação de incidentes a entidades da Administração Pública, bem como a “operadores de infra-estruturas críticas, operadores de serviços essenciais e prestadores de serviços digitais”.

A empresa também não respondeu a outras perguntas, sobre o tipo de sistemas que estiveram sob ataque, que tipo de ataque foi, e por que razão foi necessário parar a laboração.

Numa mensagem enviada por email ao PÚBLICO, assinada pelo responsável financeiro da empresa, Marcus Teschner, limitou-se a confirmar que o grupo “foi alvo de um ciberataque na passada terça-feira à noite” e que esse ataque “afectou todas as unidades do grupo”.

“As nossas equipas reagiram de imediato, o que evitou danos de maior, no entanto, a dimensão e a complexidade dos nossos processos levaram a uma paragem total da produção para que fossem asseguradas todas as condições de segurança”, afirma aquele responsável, acrescentando que o regresso ao trabalho estava a ser “gradual”.

Em declarações à TVI, na quinta-feira à noite, António Cândido Pinto, administrador da Coindu, disse que a secção de corte “já estava a funcionar” e que nesta sexta-feira seria retomada a costura. “Estimamos que amanhã [hoje] durante o dia todo o grupo esteja já a trabalhar”, afirmou.

Marcus Teschner afirmou, por seu lado, que a produção anulada pela paragem forçada será recuperada “nos próximos dias com recurso a trabalho suplementar”, pelo que “não haverá qualquer impacto nos clientes”. 

Não há notícia recente de um incidente do género a vitimar uma empresa portuguesa desta dimensão ao ponto de a obrigar a parar. Segundo a descrição de António Cândido Pinto, “houve um ataque informático” em que os dados da empresa passaram a estar encriptados. “Ficámos sem acesso aos nossos dados. Felizmente, com o sistema de supervisão, nos primeiros momentos, desligámos logo todo o circuito. Na prática, desligámos quase 5000 pessoas no grupo, mas com isto foi possível minimizar o dano.”

O caso está nas mãos da Unidade de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica.

A empresa fundada em 1988 por uma família alemã e dois empresários portugueses facturou quase 350 milhões de euros em 2018, último ano com dados publicamente disponíveis. Com as quatro fábricas em três países, é um dos maiores produtores de componentes têxteis para a indústria automóvel. 

O catálogo inclui capas para assentos, apoios de braço, encostos de cabeça e painéis laterais. Em Arcos de Valdevez, além da linha de negócio dedicada à moda, produz componentes para as marcas Porsche e Seat. Tinha ali cerca de 800 trabalhadores, segundo diz no site. Em Joane (Famalicão), serve a Lamborghini e a Mini, com 2100 trabalhadores. A fábrica de Curtici (Roménia) tem como clientes a BMW e a Skoda e emprega cerca de 1500 pessoas. Por fim, em Tetla, no México, tem 1000 trabalhadores e produz para as marcas Audi e Volkswagen.

O leque de clientes inclui outros fabricantes do sector automóvel, como Peugeot, Citroën, Aston Martin, Renault, Rolls Royce, Volvo, Mercedes e Lotus.