Craig Easton, o fotógrafo que venceu os Sony Awards com rostos que nunca foram mostrados

A série Bank Top, que retrata um bairro homónimo em Inglaterra, valeu ao inglês o título de Fotógrafo do Ano, atribuído pelos Sony World Photography Awards. O fotógrafo retratou os residentes para mudar a narrativa acerca da região e contar os problemas relacionados com “privação social, habitação, desemprego, imigração e representação, bem como o impacto da política de imigração do passado e do presente”.

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Foi o “peso moral” do trabalho fotográfico de Craig Easton que o fez vencer o título de Fotógrafo do Ano dos Sony World Photography Awards. A série Bank Top, que apresentou a concurso, examina a “representação e falta de representação de comunidades do norte da Inglaterra” — captando-a de frente.

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Foi o “peso moral” do trabalho fotográfico de Craig Easton que o fez vencer o título de Fotógrafo do Ano dos Sony World Photography Awards. A série Bank Top, que apresentou a concurso, examina a “representação e falta de representação de comunidades do norte da Inglaterra” — captando-a de frente.

Feita em colaboração com o escritor e académico Abdul Aziz Hafiz, com o apoio da iniciativa Kick Down Barriers do Blackburn Museum & Art Gallery, o projecto foca-se no restrito bairro de Bank Top, em Blackburn, retratado habitualmente como “o mais segregado do Reino Unido”, lê-se em comunicado. Obstinado em mudar esta narrativa, o museu convidou artistas e escritores para “colaborar com os residentes e vários bairros, de forma a criar uma representação robusta e autêntica das suas comunidades”.

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© Craig Easton

Nasceu assim o projecto fotográfico baptizado com o mesmo nome do bairro, que se insere num outro projecto de Craig, também dedicado à região, e que engloba Thatcher’s Children (conseguiu o segundo lugar na categoria Projectos Documentais do Sony Awards 2021) — sobre “a natureza crónica da pobreza experienciada por três gerações da mesma família” —, e Sixteen (finalista na categoria Retrato dos prémios de 2017) — sobre “sonhos, aspirações e medos de jovens de 16 anos de diferentes estratos”.

Durante mais de um ano, Craig e Abdul trabalharam com os residentes da região, para melhor explorarem e captarem as suas histórias e experiências de vida. O resultado: um conjunto de retratos intimistas e sinceros a preto e branco, acompanhados de textos escritos por Abdul. Juntos contam os problemas relacionados com a “privação social, habitação, desemprego, imigração e representação, bem como o impacto da política de imigração do passado e do presente”.

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© Craig Easton

O trabalho quer “combater generalizações simplistas e fornecer contexto sobre como estas comunidades se uniram”, bem como ajudar a uma melhor compreensão sobre “como sobrevivem juntas”. Para Mike Trow, presidente da competição profissional (há também concurso para fotógrafos amadores), afirma que o mais impressionante do projecto é “a dedicação e compreensão que Craig lhes endereçou”.

“Estas não são pessoas que pediram para ser fotografadas, mas Craig ganhou a sua confiança. Elas olham de forma franca para a câmara e vemos uma compreensão mútua entre o sujeito e quem o documenta”, refere, citado no mesmo comunicado. Foi a junção de todos estes elementos que valeu ao fotógrafo a atribuição do título de Fotógrafo do Ano — o prémio de 25 mil dólares (cerca de 21 mil euros) e um conjunto de equipamentos de fotografia da Sony —, mas também o primeiro lugar da categoria Retrato, com a mesma série, e o segundo lugar de Projectos Documentais

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© Craig Easton

Nas palavras de Craig, o trabalho serve para “aprender, tentar entender, documentar e partilhar histórias”. “É um privilégio fazê-lo e desafiar percepções e estereótipos — algo que é especialmente importante para mim”, defende. “Ver estas histórias de comunidades sub-representadas, e mal representadas, do norte da Inglaterra, onde vivo, reconhecidas e partilhadas com o mundo é fantástico”, remata.

Os vencedores dos Sony World Photography Awards foram anunciados esta quinta-feira, 15 de Abril, pela Organização Mundial de Fotografia. Além da distinção de Fotógrafo do Ano, há vencedores nas categorias de Arquitectura e Design, Criativo, Projectos Documentais, Ambiente, Paisagem, Portfólio, Retrato, Desporto, Natureza Morta e Vida Selvagem e Natureza. O português José Pessoa Neto era finalista nas categorias Arquitectura e Retrato na categoria de fotografia amadora, mas acabou por não conseguir o primeiro lugar.

Notícia actualizada às 15h19 de 15 de Abril de 2021: foi corrigida informação relativa à nomeação do fotógrafo português José Pessoa Neto.