Covid-19 – Prevenir a 4.ª vaga
Quando se estima que no nosso país se possa ultrapassar os 120 casos por 100 mil habitantes nas próximas duas semanas, cabe avaliar os riscos da reabertura total das escolas.
Numa altura em que o Governo decide reabrir as aulas presenciais do ensino secundário e do ensino superior a 19 de Abril próximo, cabe reflectir sobre o recente alerta do epidemiologista Manuel Carmo Gomes: “com o ritmo de vacinação ainda lento, reabertura total das escolas pode levar a quarta vaga de covid-19”. E se os casos de covid-19 estão a subir na Europa, temos de evitar que isso venha a acontecer em Portugal, porque o actual processo de desconfinamento coincide com a entrada de novas variantes do SARS-CoV-2 no nosso país, designadamente, a brasileira, a sul-africana e a angolana.
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Numa altura em que o Governo decide reabrir as aulas presenciais do ensino secundário e do ensino superior a 19 de Abril próximo, cabe reflectir sobre o recente alerta do epidemiologista Manuel Carmo Gomes: “com o ritmo de vacinação ainda lento, reabertura total das escolas pode levar a quarta vaga de covid-19”. E se os casos de covid-19 estão a subir na Europa, temos de evitar que isso venha a acontecer em Portugal, porque o actual processo de desconfinamento coincide com a entrada de novas variantes do SARS-CoV-2 no nosso país, designadamente, a brasileira, a sul-africana e a angolana.
De referir que, nesta terça-feira, o primeiro-ministro francês suspendeu os voos entre França e o Brasil, devido a uma crescente preocupação com a variante encontrada no Brasil deste vírus. Esta decisão do Governo francês – país onde já faleceram mais de 99 mil pessoas devido à covid-19 – surge depois de vários especialistas franceses alertarem para os riscos dos voos oriundos do Brasil. E se os viajantes vindos do Brasil, excepto nacionais franceses, precisavam de apresentar uma razão essencial para viajar, assim como um teste PCR negativo e uma declaração de honra atestando que cumpririam dez dias de quarentena, mas sem fiscalização por parte das autoridades, a verdade é que estas medidas não foram consideradas suficientes para suster a possível disseminação em França desta variante.
No Brasil – o segundo país do mundo mais afectado pela pandemia, depois dos EUA –, muitos jovens apresentam complicações da covid-19 que não esperavam e é altura de deixar a ideia de que apenas adultos idosos ou as pessoas com doenças pré-existentes correm o risco de contrair covid-19 grave. De facto, no Brasil muitas pessoas com idade inferior a 40 anos estão nas unidades de cuidados intensivos, sendo que, em Março, a taxa de internamento dos jovens atingiu um recorde. Além deste incremento, também aumentou o número de pacientes jovens com necessidade de ventilação mecânica e que não têm comorbidades. De facto, o novo quadro da pandemia no Brasil pode sugerir três conclusões: a primeira é que as novas variantes do novo coronavírus parecem ser mais agressivas; depois, a falta de cuidados da população com o distanciamento social prejudica, sobretudo, os mais jovens; e, por fim, a vacinação dos idosos tem ajudado a conter a doença grave nessas faixas etárias.
Já no que se refere à variante sul-africana e angolana, por um lado, foi anunciado recentemente pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge que houve um crescimento em Portugal da presença da variante do novo coronavírus identificada pela primeira vez na África do Sul e, por outro, cientistas sul-africanos da Universidade do KwaZulu-Natal descobriram uma outra variante “mais transmissível” do novo coronavírus em amostras recolhidas em Angola, em três cidadãos tanzanianos.
Ora, quando se estima que no nosso país se possa ultrapassar os 120 casos por 100 mil habitantes nas próximas duas semanas, cabe avaliar os riscos da reabertura total das escolas, considerando que a maioria da população com menos de 70 anos ainda não está vacinada e que em Portugal já morreram cerca de 17 mil pessoas desde o início desta pandemia. Assim, importa também planear as condições para a prossecução deste ano lectivo, mantendo-se por precaução um modelo de “ensino à distância”, tanto mais que o risco de contágio – tendo em conta que este coronavírus se transmite principalmente pelo ar – aumenta em ambientes fechados.