Quanto pesa um burro de Miranda? Investigadores criam fórmula “específica”
Trabalho resulta da colaboração entre a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino.
Investigadores desenvolveram uma fórmula específica para o burro de Miranda que permite pesar este animal apenas com recurso a uma fita métrica, evitando o uso de balanças e simplificando a acção no terreno, foi divulgado esta quinta-feira.
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Investigadores desenvolveram uma fórmula específica para o burro de Miranda que permite pesar este animal apenas com recurso a uma fita métrica, evitando o uso de balanças e simplificando a acção no terreno, foi divulgado esta quinta-feira.
“As fórmulas existentes têm uma grande discrepância com a realidade, pelo que o desenvolvimento de uma fórmula adaptada aos nossos animais é de extrema importância”, afirmou à agência Lusa Miguel Nóvoa, veterinário da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA), uma organização não-governamental que trabalha no melhoramento do gado asinino e molar desde 2001.
A iniciativa junta a AEPGA, com sede Atenor, concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança, e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, e quer facilitar a pesagem dos animais, necessária para calcular doses de medicação ou capacidade de carga.
“Nos tratamentos que fazemos a animais doentes é essencial saber o peso exacto, para podermos dar a quantidade de medicações adequadas”, referiu Miguel Nóvoa.
O uso do perímetro torácico para estimar o peso vivo de animais é uma prática já usada e validada cientificamente. No entanto, segundo o investigador e veterinário da UTAD, Miguel Quaresma, verificou-se que as fórmulas já disponíveis subestimavam o peso dos burros de Miranda, animal que possui uma constituição corporal maior comparativamente com outras raças. “As fórmulas já existentes davam variações em relação ao peso real demasiado grandes para serem muito fiáveis”, explicou o especialista.
A AEPGA possui centros de recria e protecção do burro mirandês, uma espécie autóctone do Nordeste transmontano, onde se encontram cerca de 90 animais que serviram de base para o estudo.
Miguel Quaresma explicou que os investigadores fizeram uma série de medições corporais e pesagens de burros de várias idades e criaram uma fórmula específica para este animal. Para o efeito, explicou, basta medir o perímetro torácico com uma fita métrica de centímetros e depois aplicar a fórmula (através do Excel) para calcular o peso do animal.
Miguel Quaresma referiu que se pretende também criar uma fita métrica específica, na qual aparecerá já o peso (calculado através da fórmula) em vez de centímetros.
“Adicionalmente, possibilitará ainda a criação de uma aplicação móvel, na qual, através da introdução da medida do perímetro torácico de um burro de Miranda, se obterá o peso estimado desse mesmo animal”, adiantou a veterinária da AEPGA, Zélia Cruz. “A criação da fita e da aplicação poderão ajudar criadores, veterinários e outras pessoas a ter acesso ao peso estimado do seu animal, sendo particularmente útil em animais fora do solar da raça, que não contam com o apoio diário da AEPGA”, sublinhou ainda Zélia Cruz.
De futuro, os investigadores pretendem conseguir medir os animais à distância, não precisando de fitas métricas, mas usando lasers, uma técnica já aplicada em sítios onde existem, por exemplo, animais selváticos.
A fórmula foi desenvolvida em conjunto com Severiano Silva, docente da UTAD e, apesar de criada especificamente para o burro de Miranda, poderá ser também aplicada a outras raças. A colaboração entre a AEPGA (que é uma organização não-governamental que trabalha no melhoramento do gado asinino e muar desde 2001) e a UTAD começou em 2012, altura em que a mesma equipa iniciou e publicou diversos trabalhos sobre a avaliação da condição corporal dos burros de Miranda.