A cinco quilómetros da solução
O que se passou há dias no Porto faz-nos pensar naquilo que pode estar a falhar na preservação da memória de um período que levou à matança organizada de cerca de seis milhões de pessoas.
Na cidade do Porto, cerca de cinco quilómetros separam a Rua do Campo Alegre da Avenida do Brasil, mas, na semana passada, estas duas artérias da cidade foram separadas por incontáveis quilómetros e, talvez, por um salto ao passado.
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Na cidade do Porto, cerca de cinco quilómetros separam a Rua do Campo Alegre da Avenida do Brasil, mas, na semana passada, estas duas artérias da cidade foram separadas por incontáveis quilómetros e, talvez, por um salto ao passado.
No dia 5, segunda-feira, na Rua do Campo Alegre, abriu o Museu do Holocausto, com o objetivo de preservar a memória de seis milhões de vítimas e de continuar um trabalho de educação das novas gerações, numa altura em que a extrema direita, um pouco por toda a Europa, dá sinais de vitalidade. No dia 11, domingo, alguém escreveu, num portão da Avenida do Brasil, a infame frase “o trabalho liberta”, presente na entrada dos campos de concentração e extermínio do regime nazi. Sem acasos, no dia em que se assinalavam os 76 anos da libertação do campo de Buchenwald, onde cerca de 60 mil pessoas foram assassinadas.
Quem passou por ali ficou chocado e a Polícia Municipal já fez saber que a situação será comunicada ao Ministério Público. Outra coisa não seria de esperar, mas mais este caso faz-nos pensar naquilo que pode estar a falhar na preservação da memória de um período que levou à matança organizada de cerca de seis milhões de pessoas.
Há duas soluções, a meu ver. Punir e educar. Qualquer que seja a justificação – ignorância, maldade, negacionismo ou outra qualquer –, não pode haver tolerância para quem glorifica um regime comprovadamente assassino. Quem o faz, por qualquer via, tem que ser punido, em qualquer parte do mundo. Mas a tónica maior terá que estar no combate à ignorância, ou seja, educando as gerações para que nunca mais se possa repetir algo assim e para que aquilo que aconteceu seja sempre lembrado e as memórias dos mortos seja respeitada.
Não faltam objetos de estudo em todos os formatos e línguas. No caso do Porto, a solução é ainda mais fácil, está a apenas cinco quilómetros.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico