Irão vai aumentar produção de urânio enriquecido em resposta ao “terrorismo nuclear” de Israel

A nova meta de produção, 60%, é três vezes superior aos níveis actuais. Governo iraniano convocou o embaixador português para condenar as acções “imprudentes” da UE.

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Hassan Rouhani, Presidente do Irão IRANIAN PRESIDENTIAL OFFICE HANDOUT/EPA

O Presidente iraniano Hassan Rouhani confirmou esta quarta-feira que o Irão vai aumentar em 60% a produção de urânio enriquecido a partir da “próxima semana”, em resposta ao “terrorismo nuclear” de Israel, que, segundo as autoridades iranianas, orquestrou a explosão de domingo a um dos principais complexos nucleares do Irão. A decisão, garante Rouhani, deixa o Irão de “mãos cheias” para renegociar no acordo nuclear.

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O Presidente iraniano Hassan Rouhani confirmou esta quarta-feira que o Irão vai aumentar em 60% a produção de urânio enriquecido a partir da “próxima semana”, em resposta ao “terrorismo nuclear” de Israel, que, segundo as autoridades iranianas, orquestrou a explosão de domingo a um dos principais complexos nucleares do Irão. A decisão, garante Rouhani, deixa o Irão de “mãos cheias” para renegociar no acordo nuclear.

“Aparentemente é um crime dos sionistas e, se actuam contra a nossa nação, responderemos” à “sua malícia”, disse Rouhani, na sequência do último incidente nas tensões entre Israel e o Irão. A disputa tem vindo a escalar desde Fevereiro, com os dois países a trocarem acusações.

De acordo com Kazem Gharibabadi, embaixador da República Islâmica na Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o plano é “acumular o produto [de duas centrifugadoras dedicadas a 60% de urânio] na próxima semana”.

Atingindo os 60% da produção, os níveis aproximam-se da capacidade necessária à produção de armas, que requerem 90% ou mais de urânio puro. Mesmo os valores actuais, de 20%, são os mais elevados desde o acordo nuclear de 2015, que limita a produção do Irão nos 3,67%.

Apesar dos riscos do aumento da produção, os serviços de inteligência norte-americanos determinaram num relatório divulgado na terça-feira que o “Irão não está de momento a levar a cabo as actividades chave para o desenvolvimento necessárias à produção de material nuclear”, lê-se na Associated Press.

Além de que a capacidade de produção da central poderá não atingir os valores tão cedo como as entidades iranianas fazem crer. Um responsável iraniano, citado pelo New York Times, confirmou que milhares de centrifugadoras ficaram “completamente destruídas”, e repará-las pode levar algum tempo.

E não há indícios de que a produção aumentou o suficiente desde a saída unilateral do então Presidente Donald Trump em 2018 para produzir material para fins militares, de acordo as secretas norte-americanas.

Poder de negociação em Viena

A jogada de Teerão parece ter um segundo objectivo, como sugeriu depois o Presidente iraniano, uma vez que confere às autoridades iranianas mais poder nas negociações de Viena, retomadas recentemente.

“Queriam que tivéssemos as mãos vazias nas negociações, mas as nossas mãos estão cheias”, disse Hassan Rouhani, e agora pode tentar usar a diminuição dos níveis de urânio como moeda de troca para o levantamento das sanções económicas impostas pelo ex-Presidente norte-americano, que têm contribuído para a crise económica no Irão.

Já o relatório dos serviços secretos norte-americanos alertou para a situação, caso as sanções não sejam levantadas: se isso não acontecer, “as autoridades iranianas provavelmente vão considerar opções mais abrangentes, desde enriquecer os níveis de urânio até 60% a construir um novo” reactor nuclear que poderia, a longo termo, produzir material nuclear, citou o New York Times.

Irão convoca embaixador português em protesto

Num gesto de protesto contra a renovação das sanções impostas pela União Europeia contra Teerão, por violações dos direitos humanos, o Governo iraniano convocou o embaixador português no país, Carlos Costa Neves, por ser o representante da presidência rotativa portuguesa da UE.

A crítica foi feita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohamad Yavad Zarif e, por considerar considerar as sanções “imprudentes”, anunciou o fim da cooperação com o bloco em matérias de terrorismo, narcóticos e refugiados.

Mais: acusou o grupo dos 27 de ser “um seguidor das políticas norte-americanas, mas também um seguidor dos grupos mais extremistas dos Estados Unidos e do regime sionista”, disse Zarif em referência a Israel, acrescentando que o Irão responderá àquilo que entendeu por “acção destrutiva”.