Ex-Presidente do Burkina Faso vai ser julgado pelo homicídio do antecessor, 34 anos depois

Blaise Compaoré foi acusado de atentar contra a segurança do Estado, por cumplicidade no crime de homicídio e ocultação de cadáver.

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O antigo Presidente demitiu-se em 2014 na sequência de uma revolta popular, após 27 anos no poder Lucas Jackson/Reuters

O antigo Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, vai ser julgado in absentia pelo homicídio do seu antecessor, Thomas Sankara, morto durante o golpe de Estado de 1987, no qual tomou o poder, de acordo com fonte judicial, citada pela AFP. O caso foi submetido esta terça-feira ao tribunal militar de Ouagadougou, na capital do Burkina Faso, após a confirmação das acusações, 34 anos depois do crime.

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O antigo Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, vai ser julgado in absentia pelo homicídio do seu antecessor, Thomas Sankara, morto durante o golpe de Estado de 1987, no qual tomou o poder, de acordo com fonte judicial, citada pela AFP. O caso foi submetido esta terça-feira ao tribunal militar de Ouagadougou, na capital do Burkina Faso, após a confirmação das acusações, 34 anos depois do crime.

O ex-Presidente, exilado na Costa do Marfim, foi acusado de atentar contra a segurança do Estado, por cumplicidade no crime de homicídio e ocultação de cadáver, entre outras acusações. A data do julgamento ainda não é conhecida, mas foram já emitidos mandados de detenção contra os arguidos, incluindo Hyacinthe Kafando, o ex-guarda-costas do político, segundo o site Burkina 24.

Também Gilbert Diendére está incluído no caso com as mesmas acusações, somando-se adulteração de testemunhas. Diendére foi um dos principais chefes do Exército durante o golpe de Estado e, mais tarde, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, estando já a cumprir uma pena de 20 anos por um golpe de Estado falhado em 2015.

Foi em Fevereiro de 2020 que a investigação em torno do assassinato reabriu, após o tribunal ter recebido documentos divulgados por França relacionados com o crime. Ainda no mesmo ano, realizou-se uma primeira reconstituição do homicídio no local do crime, na sede do Conselho Nacional da Revolução em Ouagadougou.

Só a partir de então foi possível reunir as acusações contra os principais arguidos, incluindo Blaise Compaoré, confirmadas 34 anos após a morte do ícone africano conhecido localmente como o ‘pai da revolução’, avançaram os advogados de defesa e partidos civis citados pela AFP.

No total, 14 pessoas foram acusadas pelo tribunal. Segundo os advogados, mais arguidos foram implicados inicialmente no crime de homicídio do ícone africano, mas “muitos arguidos morreram”, avançou a France 24.

Tabu durante 27 anos

Thomas Sankara foi um revolucionário marxista também intitulado de “Che Guevara africano” que subiu ao poder num golpe de Estado em 1983. Era conhecido por envergar sempre a farda militar e pela rejeição de um estilo de vida luxuoso.

Mas deixou a sua marca principalmente através das suas políticas. Durante os quatro anos enquanto Presidente, tornou-se o primeiro líder africano a denunciar o perigo da Sida, a manifestar-se contra o Fundo Monetário Internacional e contra o Banco Mundial, e a promover a educação e os direitos das mulheres, opondo-se também à mutilação genital e à poligamia.

Foi morto em 1987 durante um golpe de Estado, encabeçado por Blaise Compaoré, seu companheiro de armas, que tomou depois o seu lugar. Segundo o jornal Le Monde, o homicídio de Sankara foi tabu por 27 anos – período que corresponde à presidência de Compaoré –, uma vez que qualquer tentativa de investigar a sua morte era bloqueada, porque, argumentava o então Presidente, “conhecem-se os factos”, escreve a Europa Press.

Compaoré acabou por ser afastado do panorama político em 2014, depois de ter tentado alterar a Constituição para permanecer mais tempo no poder. A contestação popular invadiu as ruas contra o Presidente e obrigou à sua demissão. Fugiu para a Costa do Marfim, onde, supõe-se, ainda vive.

Após a sua saída do poder, a suspeita em torno do crime foi reavivada, e foi emitido um mandado de detenção em 2016, mas a Costa de Marfim rejeitou o pedido – tendo pedido nacionalidade no país, não pode ser extraditado. Por isso, o julgamento irá decorrer à revelia.