Em Miranda do Douro há 11 burros para apadrinhar e um planalto para descobrir

Já é uma tradição, a campanha de apadrinhamento do burro de Miranda, mas desta vez tem segundas intenções. Não só ajudar e visitar os afilhados, mas descobrir as suas raízes. São 11 burros e 11 destinos para explorar entre a vertigem das arribas do Douro e a planura agreste do Planalto Mirandês.

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O Dom Quixote, tal como o seu homónimo literário, tem um modo de vida errante e aventureiro, “é um autêntico asinino andante”, mas a sua Dulcineia é a irmã gémea que tem como melhor amiga a Bulhaca, “doce, meiga e extremosa” - aos 15 anos, já foi mãe várias vezes. O Atenor é um viajante nato com queda para a comédia (gosta especialmente de “fazer caretas”, com a sua língua, comprida, de fora) e a Cuca é a “top model” do grupo, com regime rigoroso de treinos diários no lameiro - inseparável da Dália, são as coscuvilheiras do estábulo. A Gaivota é uma gastrónoma e, portanto, é à mesa, que é com quem diz, no pasto, que se sente bem, escolhendo sempre as ervas mais gourmet para se saciar, enquanto a Gorongosa transita entre a casmurrice e a meiguice e a Hera é um pouco narcisista - todas as atenções têm de recair sobre ela. A Lavanda é a benjamim do grupo e também das mais responsáveis, o é o mais velho e tal reflecte-se na sua sapiência e ponderação - já não está para grandes cavalgadas, porém é o mais paciente.

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O Dom Quixote, tal como o seu homónimo literário, tem um modo de vida errante e aventureiro, “é um autêntico asinino andante”, mas a sua Dulcineia é a irmã gémea que tem como melhor amiga a Bulhaca, “doce, meiga e extremosa” - aos 15 anos, já foi mãe várias vezes. O Atenor é um viajante nato com queda para a comédia (gosta especialmente de “fazer caretas”, com a sua língua, comprida, de fora) e a Cuca é a “top model” do grupo, com regime rigoroso de treinos diários no lameiro - inseparável da Dália, são as coscuvilheiras do estábulo. A Gaivota é uma gastrónoma e, portanto, é à mesa, que é com quem diz, no pasto, que se sente bem, escolhendo sempre as ervas mais gourmet para se saciar, enquanto a Gorongosa transita entre a casmurrice e a meiguice e a Hera é um pouco narcisista - todas as atenções têm de recair sobre ela. A Lavanda é a benjamim do grupo e também das mais responsáveis, o é o mais velho e tal reflecte-se na sua sapiência e ponderação - já não está para grandes cavalgadas, porém é o mais paciente.

Estes são os burros “de” Atenor (Miranda do Douro) - e, calma, se burros há muitos, estes estão em extinção: são burros mirandeses, acolhidos pela Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA). Vivem no Centro de Valorização do Burro de Miranda (CVBM) e, mais uma vez, buscam padrinhos - em troca, desta vez, dão dicas de passeios pelo seu solar, o Planalto Mirandês.

É uma tradição, esta de apadrinhamento do burro de Miranda promovida pela AEPGA: acontece desde 2005 e é uma forma de financiar o trabalho da associação (criada em 2001) que abrange a manutenção do CVBM, a apoio (veterinário e logístico) aos criadores da região, a promoção de actividades de sensibilização e investigação. Este ano, porém, o apadrinhamento vem com segundas intenções, motivadas pela actual situação pandémica e os seus efeitos sobre o turismo: a AEPGA e uma série de entidades e organizações da região que se associaram querem incentivar os padrinhos a não só visitarem os afilhados como a descobrirem as suas raízes - a descobrirem o Planalto Mirandês, este pedaço do Nordeste Transmontano de onde é originário o burro de Miranda, “de forma consciente e sustentável do ponto de vista ambiental”, lê-se na declaração de interesses da AEPGA. Por isso, este ano a campanha chama-se “11 Burros, 11 Destinos” e cada um dos protagonistas apresenta um recanto deste território que abraça os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso e ainda parte de freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo.

São paisagens remotas, encostadas a Espanha, empoleiradas em arribas, onde a intervenção do homem não domou a natureza, antes se insere nela: as aldeias despontam entre colinas que terminam em bosques de carvalhos e azinheiras, lameiros bordados a freixos, rios que escavam as rochas e formam vales que são casa para grifos, abutres-do-Egipto, águias-reais e a ameaçada águia-de-Bonelli, mas também para corços, raposas e lontras. Os pombais, brancos com os seus telhados em ferradura, espalham-se pelas encostas, os artesãos sobrevivem em artes ancestrais, a música continua a soar como se vinda de outros tempos e a convidar a bailar, a gastronomia sabe como aconchegar os espíritos - e a língua mirandesa permanece como elo.

E o Dom Quixote e amigos apontam o caminho para algumas destas paragens, compondo um roteiro que passa pelo Centro de Actividades Lúdico-Pedagógicas do Burro de Miranda e moinho de Quintanelas (ambos em São Joanico, Vimioso), pelo Castelo de Algoso (Algoso, Vimioso) e igreja de Algosinho (Algosinho, Mogadouro), pelo vale do rio Angueira (Teixeira, Miranda do Douro) e pelo lameiro de Angueira (Angueira, Vimioso), pelo Centro de Acolhimento do Burro (Pena Branca, Miranda do Douro) e CVBM (Atenor, Miranda do Douro), pela igreja de Azinhoso (Aldeia de Azinhoso, Mogadouro), Centro de Interpretação dos Pombais Tradicionais (Uva, Vimioso) e pelo deslumbrante miradouro de São João das Arribas (Aldeia de Aldeia Nova, Miranda do Douro).

Os apadrinhamentos podem ser individuais (mínimo 30 euros por ano) ou institucionais (mínimo de 200 euros por ano) e são feitos na página da AEPGA.