De máscara mas cheios de cor, retratos de 110 profissionais do S. João chegam a estações de metro do Porto
Estações do Bolhão, Faria Guimarães, Aliados, Marquês e Combatentes acolhem, a partir desta sexta-feira, 9 de Abril, 110 retratos de profissionais do Centro Hospitalar de S. João. Marcus Garcia, o fotógrafo, quis “mostrar os rostos por trás das máscaras que vamos vendo nos meios de comunicação”.
Foi a vontade de “mostrar os rostos por trás das máscaras que vamos vendo nos meios de comunicação” que levou Marcus Garcia ao Centro Hospitalar de S. João, no Porto. As imagens que chegaram dos hospitais de Itália e Espanha, em Abril e Maio de 2020, deram-lhe vontade de “produzir algo” — que, agora concretizado, chega a cinco estações de metro no Porto: Bolhão, Faria Guimarães, Aliados, Marquês e Combatentes.
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Foi a vontade de “mostrar os rostos por trás das máscaras que vamos vendo nos meios de comunicação” que levou Marcus Garcia ao Centro Hospitalar de S. João, no Porto. As imagens que chegaram dos hospitais de Itália e Espanha, em Abril e Maio de 2020, deram-lhe vontade de “produzir algo” — que, agora concretizado, chega a cinco estações de metro no Porto: Bolhão, Faria Guimarães, Aliados, Marquês e Combatentes.
São 110 retratos de profissionais deste “hospital de referência” do Porto, captadas durante os meses de Junho, Julho e Agosto, que mostram não só as pessoas, mas também “o próprio espaço onde trabalham”, conta o fotógrafo de 50 anos ao P3. Mas Marcus, para quem o retrato já não é uma novidade, tornou-os mais imprevisíveis: deu-lhes um toque quase futurista, marcado por cores vibrantes, para “contrariar a imagem muito clínica que temos dos hospitais”. “Ela é real, existe — até porque há essa preocupação de higienização —, mas queria transpor isso, mostrar [o espaço] como algo vivo”, refere.
Apesar de, na altura em que fez os retratos, o número de casos ser mais baixo e, consequentemente, o ritmo de trabalho no hospital ser “mais calmo”, havia ainda “muitos cuidados a ter e uma preocupação muito grande com uma segunda vaga (que aconteceu)”, o que impediu o fotógrafo de “conhecer melhor e dar a conhecer as pessoas”. “Normalmente [os retratos] eram feitos em horário laboral. Eles vinham ao espaço escolhido, eu fazia o retrato e iam embora”, lamenta. Ainda assim, o fotógrafo nascido no Rio de Janeiro, mas a viver no Porto desde criança, espera conseguir relembrar que existem pessoas debaixo da máscara, da viseira, dos fatos de protecção.
Por isso, leva os retratos para a rua — antes de os transformar num livro —, “um espaço privilegiado de comunicação”, onde espera que atinjam “o carácter social” que gosta que os seus projectos tenham. Porque, além de querer mostrar os profissionais que têm combatido a pandemia, quer alertar para “o quão importante é o trabalho do artista para nos propor reflexão”.
Rui Guedes, enfermeiro do Serviço de Doenças Infecciosas e um dos retratados, vê o projecto como “uma forma de reconhecimento e agradecimento para com todos os profissionais de saúde durante esta fase”. Num ano atípico e “muito cansativo, mas também recompensador”, o reconhecimento da profissão “atingiu o auge”, considera. “Sentimo-nos agradecidos e acarinhados por haver pessoas que se preocupam e agradecem o nosso trabalho”, afirma.
A máscara, o símbolo da pandemia presente nas fotografias, é também um símbolo do desafio: “O que antes transmitíamos com um sorriso ou um olhar, agora temos que transmitir de outra forma. No caso de doentes com dificuldade de audição, que conseguiam entender-nos através da leitura labial, isso agora não é possível.” Ainda assim, considera que foi um ano “recompensador por tudo o que se alcançou”. “Apesar de todas as pessoas que perdemos, muitas foram recuperando e isso deu-nos força.” Estas fotografias são também um sinónimo dessa força. “Eles são nós e nós somos eles”, diz Marcus. “Estamos todos juntos.”