Os 50 anos do programa da UNESCO “O Homem e a Biosfera”
Devemos ter a ambição de garantir os recursos necessários para a proteção e o restauro dos ecossistemas – o desafio ambiental e político mais complexo e decisivo para o futuro da Humanidade.
Numa publicação recente, a diretora da UNESCO Audrey Azoulay e a primatóloga Jane Goodall subscreveram um apelo público pela preservação do planeta, contra a destruição da nossa casa comum. “É triste pensar que a natureza fala e a humanidade não escuta”, frase de Victor Hugo que invocaram pelo significado que tem hoje, quando enfrentamos uma pandemia e as consequências do estado de degradação do planeta. Uma trajetória insustentável que é visível na crise climática, no colapso da biodiversidade, na contaminação dos oceanos, na delapidação geral dos recursos, e que resulta de uma relação com a natureza que se baseou no domínio e na exploração, conduzindo à atual destruição de 75% dos ecossistemas terrestres e 40% dos habitats marinhos. A taxa de extinção de espécies é hoje dez a cem vezes mais rápida do que a média dos últimos dez milhões de anos, e continua a acelerar. Dos cerca de dez milhões de espécies de animais e plantas que se estima existirem no planeta, um milhão estão ameaçadas de extinção.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Numa publicação recente, a diretora da UNESCO Audrey Azoulay e a primatóloga Jane Goodall subscreveram um apelo público pela preservação do planeta, contra a destruição da nossa casa comum. “É triste pensar que a natureza fala e a humanidade não escuta”, frase de Victor Hugo que invocaram pelo significado que tem hoje, quando enfrentamos uma pandemia e as consequências do estado de degradação do planeta. Uma trajetória insustentável que é visível na crise climática, no colapso da biodiversidade, na contaminação dos oceanos, na delapidação geral dos recursos, e que resulta de uma relação com a natureza que se baseou no domínio e na exploração, conduzindo à atual destruição de 75% dos ecossistemas terrestres e 40% dos habitats marinhos. A taxa de extinção de espécies é hoje dez a cem vezes mais rápida do que a média dos últimos dez milhões de anos, e continua a acelerar. Dos cerca de dez milhões de espécies de animais e plantas que se estima existirem no planeta, um milhão estão ameaçadas de extinção.
A nossa condição humana é indissociável da natureza; somos parte da natureza. Contamos com a natureza para nos assegurar alimento, água e abrigo, para regular o clima e as doenças, para assegurar a reciclagem de nutrientes e a produção de oxigénio, para a nossa realização espiritual, para a nossa saúde e bem-estar. Para continuarmos a garantir estes bens e serviços, impõe-se uma profunda alteração da nossa relação com a natureza, porque a saúde do Homem depende da saúde do planeta. Devemos, portanto, ter a ambição de garantir os recursos necessários para a proteção e o restauro dos ecossistemas – o desafio ambiental e político mais complexo e decisivo para o futuro da Humanidade.
No âmbito das negociações que decorrem associadas à Convenção sobre a Diversidade Biológica, prevê-se a proteção de 30% da superfície terrestre e marinha até 2030. Para este objetivo contribuirão os 252 sítios do património mundial natural, as 714 reservas da biosfera e os 161 geoparques mundiais da UNESCO; 6% da superfície terrestre, onde vivem mais de 260 milhões de pessoas, já está protegida por este enquadramento que importa reforçar. Portugal contribui para este número global com 12 reservas da biosfera (Castro Verde, Corvo, Gerês-Xerês, Graciosa, Fajãs de São Jorge, Flores, Meseta Ibérica, Paúl do Boquilobo, Santana, Madeira, Tejo-Tajo Internacional e Porto Santo), cinco geoparques (Açores, Arouca, Estrela, NaturTejo da Meseta Meridional, Terras de Cavaleiros) e um sítio natural do património mundial (Laurisilva da Madeira).
A conservação dos valores naturais em harmonia com as atividades humanas, tendo em vista a prosperidade e bem-estar das pessoas e das comunidades, é o desígnio que levou a que mais de 190 países incumbissem a UNESCO de criar e promover o programa “O Homem e a Biosfera”, conhecido por programa MaB, há exatamente 50 anos. Uma decisão histórica e visionária da UNESCO, afirmando uma estratégia de desenvolvimento pioneira na senda de uma sustentabilidade planetária. O programa MaB está na base da constituição das 714 reservas da biosfera hoje classificadas à escala global, territórios justamente considerados laboratórios vivos de sustentabilidade. A sua salvaguarda é parte de uma vontade universal para a conservação dos ecossistemas naturais e dos serviços que prestam à humanidade, integrando as comunidades e a atividade económica, numa coexistência pacífica e dialogante, visando o bem-estar e a prosperidade sustentável dos territórios em que se inserem.
Não é possível continuar a promover um desenvolvimento à custa da destruição da natureza. A agenda 2030 e os seus objetivos para o desenvolvimento sustentável devem inspirar o caminho, respondendo à pobreza, às desigualdades, aos direitos humanos, à educação, à saúde, mas também aos ecossistemas. Temos que ser capazes de construir outros paradigmas de progresso, salvaguardando uma relação de respeito entre o ser humano e a vida em geral. Como afirma a primatóloga Jane Goodall, embaixadora da celebração dos 50 anos do Programa MaB: “Podemos ter um mundo de paz. Podemos caminhar para um mundo onde vivemos em harmonia com a natureza. Onde vivemos em harmonia com os outros. Não importa de que nação viemos. Não importa a nossa religião. Não importa qual nossa cultura. Este é o caminho que estamos a fazer.”
Centro de Ecologia Funcional – Ciência para o Planeta e para as Pessoas
Cátedra Unesco em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável
Projecto Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes (EEA Grants)
Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico