Luxo: relojoeiros suíços começam a aceitar o mercado em segunda mão

Mercado de relógios usados em crescimento. Marcas de luxo podem sair beneficiadas. Na quarta-feira começou o evento online da indústria Watches & Wonders.

Foto
Reuters/DENIS BALIBOUSE

O mercado dos relógios em segunda mão parece estar a ganhar terreno, com as marcas de relógios de luxo suíças a vê-lo hoje como podendo fornecer-lhes uma valiosa visão sobre os preços e a procura, e menos como uma possível ameaça ao seu negócio. Nesta quarta-feira arrancou online o grande evento da indústria relojoeira Watches & Wonders.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O mercado dos relógios em segunda mão parece estar a ganhar terreno, com as marcas de relógios de luxo suíças a vê-lo hoje como podendo fornecer-lhes uma valiosa visão sobre os preços e a procura, e menos como uma possível ameaça ao seu negócio. Nesta quarta-feira arrancou online o grande evento da indústria relojoeira Watches & Wonders.

Richemont, proprietária da Cartier, tem sido até agora a única grande empresa de produtos de luxo a abraçar o mercado dos relógios usados, através da aquisição da loja online Watchfinder, em 2018, onde se vendem e compram relógios de luxo em segunda mão. Recentemente, por causa da pandemia, o site lançou um serviço de recolha ao domicílio para facilitar as transacções.

Alguns dos benefícios vistos neste tipo de consumo são a possibilidade de avaliação do valor de um relógio ao longo do tempo e ainda a liquidez obtida pelos proprietários de relógios que queiram trocar o que têm por um novo. De acordo com Justin Reis, chefe executivo da plataforma de relógios de luxo usados WatchBox, o seu negócio tem crescido cerca de 25% por ano, incluindo no ano passado, quando as vendas de novos relógios sofreram um duro golpe. De acordo com o proprietário, isto não tem ocorrido apenas com modelos das marcas mais populares como Rolex, Patek Philippe ou Audemars Piguet, mas também com outras mais pequenas e independentes como H. Moser & Cie, F.P. Journe ou De Bethune, que têm começado a ganhar tracção. “Houve uma mudança cultural em que as pessoas são mais enfáticas sobre itens coleccionáveis”, explica.

Edouard Meylan, chefe da H. Moser & Cie, afirma que a procura de novos relógios da sua marca tem beneficiado do “bom trabalho” que empresas como a WatchBox e outras têm realizado no mercado em segunda mão. Tanto a WatchBox como a Watchfinder, que se surgiram enquanto plataformas online, têm hoje já algumas lojas físicas. “Algumas marcas ainda tentam lutar contra este mercado em vez de trabalharem com ele”, constata Meylan. Não é o seu caso. “Monitorizamo-lo quase dia após dia, dá-nos indicações sobre os preços, sobre o que devemos produzir”, explica.

Marcas de relógios como Audemars Piguet e retalhistas estabelecidos como a Bucherer já começaram a vender relógios em segunda mão, enquanto o eBay, uma das maiores empresas de comércio electrónico, lançou recentemente uma garantia de autenticidade para os relógios de luxo vendidos na sua plataforma. De acordo com o analista Jon Cox, da Kepler Cheuvreux, empresa europeia independente de serviços financeiros, estima-se que a dimensão do mercado em segunda mão seja à volta de 20 mil milhões de dólares (cerca de 17 mil milhões de euros).

Segundo Cox, as marcas costumavam ver este mercado como um canal para produtos com desconto, mas um controlo mais apertado terá contribuído para atenuar esse problema, com alguns modelos em segunda mão a serem vendidos agora a preços elevados. “Isto é positivo”, constata. “É parte da mudança que em última análise pode rejuvenescer uma indústria que esteve em dificuldades durante grande parte da última década”, conclui.