Quando for grande quero trabalhar na área da saúde?
Continua a ser um desafio, sem aparente solução, encontrar aliciantes para as aspirações de remuneração e de carreira dos profissionais de saúde.
Há um conjunto de profissões que fazem parte do imaginário da maioria das crianças: astronauta, veterinário, bombeiro, médico ou enfermeiro. Mas será que ser médico ou enfermeiro continua a ser uma profissão de sonho?
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Há um conjunto de profissões que fazem parte do imaginário da maioria das crianças: astronauta, veterinário, bombeiro, médico ou enfermeiro. Mas será que ser médico ou enfermeiro continua a ser uma profissão de sonho?
No último ano, os profissionais de saúde assumiram o comando, com um trabalho incansável de salva-vidas. Na verdade, sempre o fizeram. Porém, o seu trabalho, mais visível e exposto devido à pandemia, teve o merecido reconhecimento e tornaram-se “heróis” nacionais.
Mudam-se, assim, os tempos e é também desejável que se mudem as vontades. A formação académica e profissional nas escolas médicas em Portugal está ao nível das melhores da Europa, ou até do mundo. Ao médico é reconhecida qualidade clínica e há uma relação muito gratificante de prestígio-proximidade com a comunidade, o que se deve também ao facto de a grande maioria trabalhar, parte do seu tempo, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde a experiência e prática clínica são mais-valias. Mas continua a ser um desafio, sem aparente solução, encontrar aliciantes para as aspirações de remuneração e de carreira dos seus profissionais.
A Organização Mundial da Saúde lançou várias recomendações para dar resposta aos principais problemas dos enfermeiros: investimento na formação; melhoria das condições de trabalho; reforço do seu papel na tomada de decisão. Estas orientações ganham particular relevância, não só no contexto da pandemia, mas para o planeamento da necessária reforma da Saúde.
O desenvolvimento estratégico do SNS não pode ignorar uma forte política de recursos humanos. Para tal, é necessário valorizar os profissionais, apostando na formação e especialização em áreas chave, bem como promover e integrar o conhecimento produzido no terreno, que resulta da investigação e da prática clínica. Estas são questões essenciais para uma efetiva produtividade do sistema. Caso contrário, corremos o risco de investir, sem otimização, em infraestruturas, equipamentos e na digitalização da saúde, desperdiçando-se uma excelente oportunidade de mudança, capaz de responder às exigências demográficas, sociais e epidemiológicas atuais.
Num serviço de saúde que se pretende de proximidade, que deve incrementar os cuidados domiciliários, os enfermeiros assumem um papel vital. Desempenham não só tarefas administrativas e de coordenação essenciais ao bom funcionamento das instituições, como garantem a qualidade e segurança dos cuidados de saúde primários. Deles depende, em muito, o bem-estar físico e emocional dos doentes e das suas famílias.
O enfermeiro é essencial no SNS, pelo que a sua contratação não deve ser encarada como uma despesa, mas como um investimento na capacitação profissional e educação continuada de profissionais que implementam políticas de qualidade em saúde, com impacto comprovado na segurança do doente. Há atualmente uma crescente oferta de especializações e pós-graduações, nomeadamente na Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias, que representa um investimento na vigilância e prevenção, na mudança de comportamentos, o que poderá exigir menos recursos financeiros ao SNS, face aos elevados custos associados ao tratamento e cura em saúde.
Hoje, o ensino superior proporciona qualidade com idoneidade e mérito. Um projeto de cooperação entre as Escolas Superiores de Enfermagem e as Faculdades de Medicina será um caminho para o objetivo comum de melhorar os cuidados de saúde a prestar aos cidadãos.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico