Drowned in the sun: a “nova” canção dos Nirvana criada com inteligência artificial
Vinte e sete anos depois da morte de Kurt Cobain, os avanços tecnológicos conduziram-nos a isto: uma canção da banda que liderou criada por inteligência artificial, no âmbito do projecto Lost Tapes of the 27 Club, que antes revelara “novas” canções dos Doors, de Jimi Hendrix e de Amy Winehouse.
Há 27 anos, no dia 5 de Abril de 1994, morria Kurt Cobain e, com ele, desapareciam os Nirvana, a banda que liderava ao lado de Dave Grohl e Krist Novoselic. Nos anos seguintes, foram sendo revelados inéditos guardados por editar ou maquetes de canções inacabadas. O que não tínhamos tido ainda é aquilo que nos é agora revelado. Uma “nova” canção dos Nirvana, sem dedo de Cobain, Grohl ou Novoselic, criada através de software de inteligência artificial (IA). Chama-se Drowned in the sun e faz parte do projecto Lost Tapes of the 27 Club que, anteriormente, criara também “novas” canções dos Doors, de Jimi Hendrix e de Amy Winehouse.
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Há 27 anos, no dia 5 de Abril de 1994, morria Kurt Cobain e, com ele, desapareciam os Nirvana, a banda que liderava ao lado de Dave Grohl e Krist Novoselic. Nos anos seguintes, foram sendo revelados inéditos guardados por editar ou maquetes de canções inacabadas. O que não tínhamos tido ainda é aquilo que nos é agora revelado. Uma “nova” canção dos Nirvana, sem dedo de Cobain, Grohl ou Novoselic, criada através de software de inteligência artificial (IA). Chama-se Drowned in the sun e faz parte do projecto Lost Tapes of the 27 Club que, anteriormente, criara também “novas” canções dos Doors, de Jimi Hendrix e de Amy Winehouse.
Iniciativa da Over the Bridge, uma associação sediada em Toronto, no Canadá, que visa alertar para os problemas de saúde mental da comunidade musical, tendo em conta que – lê-se na apresentação do projecto – estes a afectam em percentagem superior ao registado na população em geral, Lost Tapes of the 27 Club centra-se, como o nome indica, no chamado clube dos 27, ou seja, os músicos que morreram precocemente aos 27 anos (a lista é extensa e, além de Cobain, Hendrix, Winehouse e Jim Morrison, inclui Janis Joplin, Brian Jones, dos Rolling Stones, ou Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, entre outros).
Para atingir as “novas” criações, o sistema de IA é alimentado com até 30 canções do músico a recriar. Analisados e processados o som da banda, o estilo de produção, o tipo de melodias recorrentes, os timbres de voz e as características das letras, a IA trabalha a composição e oferece-nos a sua versão do que seria uma canção nova dos músicos em questão. No caso de Drowned in the sun, a criação informática foi depois cantada por Eric Hogan, vocalista dos Nevermind, uma banda americana de tributo aos Nirvana.
Em declarações à Rolling Stone, Hogan diz ter compreendido o processo de IA que conduziu à canção. “Consigo ouvir algumas coisas nos arranjos que são como ‘ok, está aqui um pouco de In Utero, ali um pouco de Nevermind’. Se ouvirmos o último lançamento dos Nirvana, que foi You know you’re right [gravada em 1994 e editada postumamente em 2002], isto tem o mesmo tipo de ambiente.”
Na verdade, tal como acontecera há cinco anos, quando foi revelada Daddy’s car, uma canção dos Beatles criada com IA, os resultados parecem ilustrar de forma clara os limites da tecnologia no que diz respeito à representação fiel da criatividade humana. Em 2019, a Huawei apresentou em Londres uma versão final da Sinfonia Inacabada de Schubert que, escreveu então no PÚBLICO a crítica Diana Ferreira, não passava de um conjunto de “variações ao alcance da pena menos afiada de um qualquer aluno de conservatório”.
Se Daddy’s car, apesar de as harmonias vocais remeterem para o universo dos Fab Four, não soava, de todo, a uma canção dos Beatles, Drowned in the sun assemelha-se menos aos Nirvana do que a uns dos seus não designados e pouco celebrados sucessores, os Nickelback – no limite, ouvimos uma não particularmente talentosa banda de garagem a tentar imitar os ídolos.
Sean O’Connor, um dos directores da Over The Bridge, confessou à Rolling Stone que, comparativamente às recriações de Jimi Hendrix, Amy Winehouse e dos Doors de Jim Morrison, a dos Nirvana foi a mais árdua para o Magenta, o programa de IA utilizado neste projecto – as letras são geradas através de um programa separado. Aparentemente, a música dos Nirvana não tem “linhas gerais tão identificáveis” que permitam facilmente “à máquina aprender e criar algo novo”.
Talvez isso explique que, se You’re gonna kill me parece canção menor que Jimi Hendrix poderia ter deixado esquecida no final de uma sessão de estúdio, se The roads are alive soa a variação blues-rock de Break on through cantada por uma caricatura de Jim Morrison, e se Man, I know parece saída de uma noite de karaoke temático dedicado a Amy Winehouse, Drowned in the sun está realmente distante, em som e imaginário, daquilo que eram os Nirvana. É inteligência certamente, mas, neste campo da recriação de assinaturas musicais, ainda tem muito a aprender. Por agora, não engana ninguém: é realmente artificial.