Presidente de Israel dá mandato a Netanyahu para formar governo
Reuven Rivlin diz que “não foi uma decisão fácil” por Netanyahu estar a responder em tribunal por corrupção. E acrescentou que acha que nenhum candidato tem condições de conseguir uma coligação com uma maioria no Parlamento.
O Presidente de Israel, Reuven Rivlin, mandatou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para tentar chegar a uma coligação de governo em Israel. Mas fê-lo apesar de este não ter uma potencial maioria, e avisando que não vê nenhum candidato com hipóteses reais de formar governo.
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O Presidente de Israel, Reuven Rivlin, mandatou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para tentar chegar a uma coligação de governo em Israel. Mas fê-lo apesar de este não ter uma potencial maioria, e avisando que não vê nenhum candidato com hipóteses reais de formar governo.
O impasse continua após as eleições de 23 de Março, as quartas eleições legislativas em Israel em apenas dois anos, e Rivlin já alertou para a hipótese de haver uma quinta votação.
Netanyahu conseguiu o apoio de 52 deputados, do seu partido, o Likud, que foi o mais votado, e dos partidos religiosos (Shas, Judaísmo Unido da Tora e Sionismo Religioso). Do lado do chamado bloco anti-Netanyahu, o seu principal rival e líder do segundo partido mais votado, Yair Lapid, foi recomendado por 54 deputados, do seu partido, Yesh Atid, do partido de Benny Gantz, dos trabalhistas, do nacionalista Israel é a Nossa Casa e do Meretz. O partido de Naftali Bennett recomendou o próprio Bennett. Por outro lado, o partido do dissidente do Likud Gideon Saar, a Lista Conjunta árabe e a Lista Árabe Unida (Ra'am) não deram apoio a nenhum candidato.
O primeiro-ministro tem agora 28 dias para formar uma coligação e poderá ter uma extensão de duas semanas se as negociações parecerem promissoras.
Bennett, que já foi aliado de Netanyahu, mas que se afastou do primeiro-ministro tentando posicionar-se como o novo líder da direita, falou finalmente ao início da tarde desta terça-feira. Disse que irá participar nas negociações de coligação lideradas por Netanyahu, mas dando a entender, segundo o Jerusalem Post, que mantém em aberto a ideia de vir a ser ele a ocupar a chefia do governo.
Na véspera à noite, Yair Lapid disse que tinha oferecido a Bennett a possibilidade de ser ele o primeiro-ministro na primeira metade de um governo de unidade, apesar de ter apenas sete deputados contra os 17 de Lapid.
Mesmo se Bennett decidir apoiar Netanyahu, este precisaria de juntar no mesmo executivo um partido kahanista, racista anti-árabe, e ainda um partido árabe, o que parece difícil até para quem é conhecido na política israelita como “o mágico”. Um governo destes teria ainda uma maioria mínima, podendo ser derrubado por qualquer um dos partidos que fizessem parte dele, ficando sujeito a um grande potencial de instabilidade.
Alguns analistas dizem que parte do caminho vai ser tentar convencer deputados a sair dos seus partidos e se juntarem ao governo, mas há limites para essas potenciais trocas e os partidos de onde poderiam vir são, como aponta no Haaretz Anshell Pfeffer, o partido de Gideon Saar cuja razão de existir é ter um governo sem Netanyahu, ou do partido de Gantz, que caiu no erro de se juntar a um governo liderado por Netanyahu e acabou ultrapassado por ele.
Por outro lado, aponta Yossi Verter também no Haaretz, Netanyahu “está cada vez mais desesperado, e isso torna-o cada vez mais perigoso”. Manter-se no cargo é o seu reduto de poder face ao processo judicial que enfrenta – mas o arrastar de negociações que lhe serviu no passado “não deverá ser útil desta vez, em que enfrenta a perspectiva provável de um governo Bennett-Lapid”.
As negociações para um executivo decorrem quando, ao mesmo tempo, Netanyahu responde em tribunal por acusações de corrupção, fraude e abuso de confiança. A lei israelita só obriga à demissão de ministros que sejam acusados em tribunal, mas não do chefe do Governo. No dia da tomada de posse dos deputados, a líder trabalhista Merav Michaeli apresentou uma proposta de lei proibindo um chefe de Governo acusado judicialmente de se manter no cargo, e ainda limitando a dois o número de mandatos do chefe de Governo.
Rivlin admitiu que tomar a decisão de nomear Netanyahu, neste contexto, “não foi fácil”. “Tenho consciência de que os que pensam que alguém que enfrenta acusações de crimes não deveria ser encarregado de formar um governo, mas a lei permite que um primeiro-ministro acusado se mantenha em exercício”, declarou. “Para preservar a instituição da presidência, não posso usar essa consideração”, disse ainda o Presidente.
Quando mencionou potenciais “questões de valores e ética” na audiência com os deputados do Likud na segunda-feira, o partido indignou-se com potencial “interferência”, já que Rivlin é muito crítico da direcção em que Netanyahu levou o Likud, em especial por acções como a promoção da chamada lei do Estado nação que diminui direitos para os árabes e outras comunidades não judaicas no Estado de Israel.