Queremos continuar a ser mães, mesmo sendo já avós
Continua a ser o vosso número que marcamos quando temos uma grande novidade. Continua a ser o vosso cheiro que nos faz logo sentir “em casa”.
Querida Mãe,
A verdade faz-nos mais fortes
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Querida Mãe,
Ontem estava a brincar com a Martinha e perguntei-lhe se ela ia gostar mais de mim ou dos filhos dela. Passado uns segundos, disse-me: “Mãe, vai parecer que gosto menos de ti, mas é só porque vou estar muito ocupada com os meus filhos.” E, nesse instante percebi que era exactamente isso que lhe queria dizer a si!
Avós/mães,
Continuam a ser vocês aquelas que mais queremos e chamamos quando a febre começa a subir. Continuam a ser vocês com quem mais rapidamente começamos (e nos deixamos) chorar. Continua a ser a vossa voz (tanto nos momentos difíceis como nos bons) que mais ouvimos dentro da nossa cabeça. Continua a ser o vosso número que marcamos quando temos uma grande novidade. Continua a ser o vosso cheiro que nos faz logo sentir “em casa”. Continua a ser a vossa casa que guarda as nossas memórias, que nos lembra de quem somos para lá da maternidade, do casamento ou do trabalho.
Continuamos a rezar diariamente para que estejam bem e que fiquem connosco para sempre.
Continuam a ser os vossos gestos que vamos copiando, as vossas frases que vamos repetindo aos nossos filhos. Quando falamos convosco, podemos continuar num estado semi-adolescente em que achamos sempre que o nosso cansaço, as nossas preocupações e o nosso dia-a-dia é o que existe de mais importante, e sei que não vos dizemos tantas vezes quanto queríamos e devíamos, mas... We love you!
Querida Filha,
Oh, que bom. Tudo isto porque, algures a semana passada pensei em mandar-vos — aos três — uma mensagem lamecha e carente em que pateticamente perguntaria: “Ainda gostam da vossa mãezinha?!”
O medo do ridículo impediu-me de a chegar a enviar, mas pelos vistos as vibrações mentais chegaram. De uma forma subliminar qualquer entrou no teu subconsciente, e agora esta carta já cá canta, e vou imprimi-la e colá-la na porta do frigorífico, e partilhá-la e partilhá-la e partilhá-la com todas as outras mães/avós, porque tenho a certeza de que é isto que sentem todas as filhas delas também.
Porque nós sabemos que é mesmo assim, porque já estivemos aí, nesse lugar onde as horas do dia não chegam e toda a nossa atenção e energia é pouca para gerir o dia-a-dia, e não tínhamos disponibilidade mental para dizer, isto tudo que me dizes hoje, às nossas próprias mães. E, às vezes, quando o quisemos dizer, já cá não estavam, mas não faz mal porque lhes dizemos na mesma, na certeza de que estão sempre connosco.
A verdade é que não precisamos de ouvir isto todos os dias, nem todas as semanas, nem sequer todos os meses, mas é mesmo bom quando na nossa caixa de correio encontramos uma birra assim. Queremos muito continuar a ser mães. Mesmo sendo já avós.
Obrigada.
No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.