DGS lança manual para lanches saudáveis no regresso às aulas presenciais

No dia em que as aulas presenciais são retomadas para os alunos do 2.º e 3.º ciclos, a DGS avisa que não pode faltar água nas mochilas e lanches que privilegiem produtos lácteos, cereais, pão, fruta e hortícolas. Tudo em pequenas quantidades

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DGS quer crianças a comer melhor no regresso às escolas, para acabar com maus hábitos provocados pelo confinamento Daniel Rocha

A Direcção-Geral da Saúde admite que o confinamento possa ter prejudicado o combate à obesidade infantil e lança esta segunda-feira um manual para ajudar os pais a escolherem lanches saudáveis para os filhos levarem para a escola.

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A Direcção-Geral da Saúde admite que o confinamento possa ter prejudicado o combate à obesidade infantil e lança esta segunda-feira um manual para ajudar os pais a escolherem lanches saudáveis para os filhos levarem para a escola.

No dia em que regressam às aulas presenciais os alunos dos 2.º e 3.º ciclos, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) lembra que os lanches que as crianças e jovens levam para a escola representam um quarto do consumo energético do dia e aconselha os pais a optarem pelo leite e derivados, como iogurtes e queijos, cereais e pão, fruta, hortícolas e frutos gordos, em pequenas porções e sem adição de sal.

Sabemos que a pandemia provavelmente veio colocar grandes desafios e pode, de facto, estar a pôr em causa os progressos que estávamos a conseguir obter ao nível da prevalência da obesidade infantil”, disse à Lusa Maria João Gregório, responsável pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS, reconhecendo que muitas crianças alteraram as suas rotinas, com aulas em formato não presencial e menor actividade física.

Sublinhando a importância de ajudar as famílias a reintroduzir hábitos e rotinas alimentares saudáveis, a especialista disse que o manual lançado agora pela DGS serve para continuar a trabalhar em conjunto com as famílias, sobretudo porque a maior parte dos lanches que as crianças consomem nas escolas são levados de casa.

“Nestas refeições muitas vezes são consumidos alimentos com pouco valor nutricional e com elevada densidade energética, elevado teor de sal, açúcar e gordura”, afirmou a responsável, acrescentando: “Melhorar a qualidade destas refeições pode, de facto, fazer a diferença”.

Maria João Gregório frisa ainda que é importante ter em conta não só a diferença entre o lanche da manhã e o lanche da tarde (que pode ser mais reforçado), mas também as porções, exemplificando: “As crianças mais pequenas devem consumir porções menores”. “No que diz respeito à distribuição energética total, o lanche da manhã pode representar entre 5% e 10% e o lanche da tarde entre 10% e 15%”, explicou.

“O lanche da manhã para uma criança entre 3 e 9 anos de idade pode ser um pacote de leite simples e uma peça de fruta, ou iogurte e uma peça de fruta, e um lanche da tarde já pode ser para esta mesma faixa etária meio pão com queijo e, eventualmente, alguns hortícolas, como palitos de cenoura, ou também frutos gordos, como nozes e amêndoas”, sugeriu.

Questionada pela Lusa sobre a importância de ter nutricionistas nas escolas, depois de a Ordem dos Nutricionistas ter criticado o Governo pelo atraso no concurso para estes profissionais, Maria João Gregório afirmou: “Temos de ter os profissionais adequados para poder trabalhar nestas duas vertentes, quer seja a melhoria da oferta alimentar em contexto escolar, quer seja depois num conjunto de iniciativas na área da educação para a saúde, na qual naturalmente a educação alimentar se enquadra”.

O manual da DGS sobre os lanches escolares revela que cerca de 25% da ingestão energética diária das crianças e jovens provém dos lanches (manhã e tarde) e recorda que, em Portugal, 29,6% das crianças entre os 6 e os 9 anos têm excesso de peso, incluindo obesidade.

“Uma percentagem ainda muito elevada, mas que ao longo dos últimos anos tem vindo a decrescer, em resultado, possivelmente, da implementação de um conjunto de importantes medidas de saúde pública”, lembra a autoridade de saúde, dando como exemplo a alteração da oferta alimentar em ambiente escolar, o imposto sobre as bebidas açucaradas e a restrição da publicidade alimentar dirigida a crianças.

Os dados do último Inquérito Alimentar Nacional indicam que é no grupo das crianças e dos adolescentes que se verificam hábitos alimentares mais desequilibrados. Relativamente ao consumo de fruta e hortícolas, 69% das crianças e 66% dos adolescentes portugueses não atingem a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) referente a um consumo diário de, pelo menos, 400 gramas.

A DGS lembra ainda que o consumo elevado de refrigerantes e/ou néctares é uma realidade, principalmente na faixa etária dos adolescentes, e que a percentagem de adolescentes que bebe diariamente refrigerantes (consumo diário=220g/dia) é de 42%.

O documento organiza os alimentos em três grupos distintos: os que devem ser privilegiados por terem nutrientes essenciais e baixo teor de sal e/ou açúcar e/ou gordura (iogurte, leite, fruta, pão de mistura, hortícolas e cereais sem açúcar); os que devem ser consumidos apenas de vez em quando, porque geralmente têm elevados teores de sal e/ou açúcar e/ou gordura (sumos de fruta, bolachas, bolos à fatia e leites aromatizados) e aqueles que se devem evitar, como os produtos de charcutaria, refrigerantes, chocolates e barras de cereais comerciais.

“Muitas das avaliações que fazemos à qualidade das refeições mostram-nos que há ainda um trabalho grande a fazer”, reconhece a DGS, alertando para a importância do consumo de água, um alimento que não pode faltar nas mochilas ou lancheiras.