Voltamos à escola agarrados à primavera
Agarremo-nos à primavera, mesmo que seja com medo, e pensemos que, tal como “Roma não se construiu num dia”, também não poderemos desejar recuperar aprendizagens com receitas-relâmpago.
Há qualquer coisa no ar que nos assusta. A todos: alunos, pais, professores. Voltar à escola já não é sinónimo de alegria, abraços, brincadeiras de gargalhada colorida, aprendizagens de sorrisos brilhantes.
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Há qualquer coisa no ar que nos assusta. A todos: alunos, pais, professores. Voltar à escola já não é sinónimo de alegria, abraços, brincadeiras de gargalhada colorida, aprendizagens de sorrisos brilhantes.
Temos medo. Um medo disfarçado de coragem, de ousadia e de vontade de vencer.
Não tocamos em ninguém. Toda a nossa expressão mora nos olhos. Mas queremos viver.
Voltamos à escola agarrados à primavera!
Voltamos, mas sabemos que será um período longo, árduo. Sabemos que o número de alunos por turma ainda é imenso. Sabemos que estamos todos cansados, saturados e que as aprendizagens estão em falta. Há tanto para se fazer!... Haja condições e que essas condições sejam, no mínimo, humanas. E é tão difícil decidir!
Todos sabemos que para que um aluno aprenda precisa de ter predisposição para o fazer: física, psicológica, material, familiar, social, escolar.
Todos sabemos também que um professor tem as mesmas necessidades.
Afinal somos todos pessoas!
Assim sendo, compreende-se que, neste momento, depois do que já todos passámos, do que ainda estamos a viver, não seja fácil recuperar em três meses tudo o que ficou para trás.
Teremos de ser pacientes e meticulosos.
A aprendizagem não se faz por encomenda. Tem de ser sólida e tem de reunir o máximo possível de condições.
Vai demorar mais tempo? O que fazer? Talvez reduzir ou eliminar conteúdos que não sejam tão pertinentes! Turmas com menos alunos permitem também avançar mais rapidamente no processo de ensino-aprendizagem.
Os que “mandam” também sentem, também são pessoas! Mas precisam de condições para o fazer!
Saber colocar-se no lugar do “outro” é a melhor forma de sentir e, talvez, quem sabe, de mandar.
Por tudo isso, agarremo-nos à primavera, mesmo que seja com medo, e pensemos que, tal como “Roma não se construiu num dia”, também não poderemos desejar recuperar aprendizagens com receitas-relâmpago.
Caros leitores, sou professora e acredito.
Acredito nos outros professores e nos alunos!
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico