Com as escolas a reabrir, como preparar as crianças para o regresso
Depois de mais de dois meses sem terem aulas presenciais, as crianças dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico voltaram, esta segunda-feira, às escolas. Um regresso que pode gerar ansiedade, o que, dizem os especialistas, é perfeitamente normal.
O nosso filho do 5.º ano estava entusiasmado por voltar à escola presencial há umas semanas. Ou, pelo menos, ele achava que estava. Seria um horário híbrido, apenas de quatro dias por semana de duas em duas semanas. E ele tinha a opção de sair por volta da hora do almoço, porque à tarde estaria, de qualquer maneira, a maior parte do tempo em frente a ecrãs. Por outras palavras, o regresso à escola seria de baixo risco.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O nosso filho do 5.º ano estava entusiasmado por voltar à escola presencial há umas semanas. Ou, pelo menos, ele achava que estava. Seria um horário híbrido, apenas de quatro dias por semana de duas em duas semanas. E ele tinha a opção de sair por volta da hora do almoço, porque à tarde estaria, de qualquer maneira, a maior parte do tempo em frente a ecrãs. Por outras palavras, o regresso à escola seria de baixo risco.
O relatório após o Dia 1: Ele compreendeu mais facilmente as instruções. Conseguia encontrar melhor as suas tarefas e trabalhos na confusa plataforma online quando os seus professores lá estavam. Tudo fazia mais sentido, disse. Além disso, viu um punhado de colegas de turma que não via há meses.
Mas esse era o primeiro dia. E ele, verdadeiramente, quer voltar à escola presencial. Mas, ao mesmo tempo, este regresso está a causar uma ansiedade que não tínhamos visto durante o confinamento. Mais: não está sozinho. Outros estudantes recusaram-se a entrar pela porta da frente ou recusaram-se a entrar de todo e enviaram mensagens de texto aos pais durante o dia para lhes dizer que estavam nervosos.
Isto, dizem os especialistas em desenvolvimento infantil, é de esperar.
“Os nossos filhos vão mostrar sinais ou sintomas de ansiedade neste regresso”, resume Harold Koplewicz, fundador do Child Mind Institute e autor de The Scaffold Effect: Raising Resilient, Self-Reliant and Secure Kids in an Age of Anxiety, lançado em Fevereiro. Por outro lado, os pais estão tão aliviados com o regresso dos seus filhos à escola, que poderão ter dificuldade em compreender por que razão os miúdos “não estão felizes”.
Temos de esperar que eles possam ficar desanimados, que possam sentir (e agir) de forma diferente. Podem não frequentar a escola com a mesma energia e excitação que nós desejamos que as suas fotografias de Instagram “de volta à escola” mostrem. Mesmo que nós, pais, percebamos que não somos grandes professores e que eles precisam de profissionais formados, é imperativo percebermos que esta transição de volta (se tiverem a sorte de a ter) será acompanhada de nervosismo, ansiedade e muitas perguntas.
“É importante que os pais se lembrem que mesmo as crianças sem ansiedade social se vão sentir nervosas porque estão sem prática”, diz Robyn Mehlenbeck, director do Centro de Serviços de Psicologia da Universidade George Mason. “É como com a matemática: se não se fizer nada durante o Verão, perde-se velocidade de resolução. Por isso, é expectável que haja soluços sociais, e não há problema. É normal para todos.”
Aqui estão quatro formas de ajudar as crianças com o regresso:
Fornecer rotina e estrutura
“É importante pensar na forma como somos pais, e muito frequentemente não o fazemos. Pensamos nisso quando os nossos filhos estão com problemas em vez de nos prepararmos”, diz Koplewicz. Os pais devem, considera, ser o “andaime” que protege e guia as crianças à medida que crescem, mas “não deve impedir a aprendizagem e a existência de riscos à medida que crescem”.
As fontes de estabilidade vão ajudá-los a sentir-se apoiados nestes tempos de loucura: assegure-se de que os seus filhos têm rotinas e conhecem as regras de casa, e que comunica claramente tudo isto com eles.
Pode até fazer com que as crianças entrem agora numa rotina escolar, mesmo que ainda sejam remotas, sugere Koplewicz. Peça-lhes que acordem na sua hora habitual de escola, tomem o pequeno-almoço, escovem os dentes, mesmo que estejam sentados numa secretária em casa. E modelar isto para eles: “Se os pais estão sempre a andar de pijama, isso não é estrutura”, diz Koplewicz.
Prepará-los para a mudança
A escola a que os seus filhos estão a regressar provavelmente não será parecida com a que eles deixaram. Prepare-os para o que estão prestes a ver e a sentir, diz Jay Berger, presidente de pediatria da ProHealth em New Hyde Park, Nova Iorque. Diga-lhes que haverá máscaras, distância entre amigos, talvez divisórias em acrílico e horas de almoço e de intervalo diferentes das que tinham quando fecharam a escola.
Uma das maiores coisas que irão contribuir para a ansiedade de uma criança no regresso à escola e na vida fora do encerramento é “toda a incerteza”, diz. “Quanto mais informação as crianças possuírem, ao nível de desenvolvimento adequado, melhor”.
Ao mesmo tempo, mantenha as suas próprias ansiedades sob controlo. “As crianças são muito impressionáveis e vão seguir o seu exemplo.” Não deve transmitir os seus próprios medos, mas capacitar as crianças com as ferramentas de que necessitam para permanecerem seguras na escola”, diz Berger. Para tal, certifique-se de que elas conhecem a orientação adequada sobre máscaras, desinfectantes e distanciamento social. “Depois, quando chegam à escola, essas ferramentas estão lá e podem permanecer em segurança. As crianças são espectaculares e fazem as coisas acontecer.”
Não finja que não há preocupações
“Há tantas crianças preocupadas com a ideia do regresso”, nota Mehlenbeck. “Há muitos sítios que falam disso como se se estivesse a regressar ao normal, o que não é verdade. É realmente importante que os pais e as escolas ajudem as crianças a esperar que não é um regresso ao normal, mas que é uma nova oportunidade para sair de casa e aprender e ver os amigos pessoalmente, de uma forma segura.”
Não assumam que os vossos filhos não têm preocupações. O facto de se debruçarem sobre as questões só irá exacerbar quaisquer preocupações que possam ter, diz Mehlenbeck. “Os pais e professores devem normalizar as preocupações. Todos as têm.”
Algumas formas de o fazer? Encontre locais onde, como família, se possam relacionar e sentirem-se confortáveis. Se não se tiverem sentado juntos para refeições familiares durante a pandemia, tentem fazê-lo agora. “É um momento em que as coisas realmente se revelam”, diz Mehlenbecks. Para adolescentes e pré-adolescentes, uma viagem de carro pode ajudar, porque não se está a olhar uns para os outros. Faça perguntas abertas e não apenas a habitual “Tiveram um bom dia?”, sugere. “O que se passa hoje? O que aconteceu hoje na escola? Que redes sociais usaste hoje?”: estas perguntas, conta, são úteis se uma criança quiser partilhar, porque é uma espécie de abrir de porta para a conversa. “Se não estiverem prontos para partilhar, tudo bem. Eles sabem que estamos lá.”
Ajude-os a trabalhar os músculos sociais
Esta pandemia tem tido um impacte negativo nas crianças que perderam as interacções sociais, por isso é importante tentarmos reunir os nossos filhos com os amigos de forma segura, tanto quanto possível. “Não estou a falar apenas de Zoom, o que é útil”, explica Berger. “Estou a falar [de encontros] em pessoa. É essencial para as crianças socializarem com os seus amigos”, sublinha. “Caminhar, fazer um passeio de bicicleta, ir ao parque. Usar uma máscara e ficar a dois metros de distância... Eu mando o meu filho [adolescente] sair e ele vai passear de bicicleta [com um amigo]. Este miúdo que andava a chorar, de repente está tão feliz.”
E, com o tempo, eles provavelmente voltarão para casa da escola presencial reanimados e felizes, também.