Pradarias marinhas podem reverter acidificação do mar
Estudo instalou sensores durante cinco anos em pradarias marinhas na Califórnia. O que foi surpreendente, diz uma das investigadoras, é que se observou a redução da acidez da água tanto de dia como de dia.
Os ecossistemas conhecidos como pradarias marinhas podem ser fundamentais para fazer recuar a acidificação dos oceanos, de acordo com um estudo conduzido ao longo de seis anos por cientistas da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos.
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Os ecossistemas conhecidos como pradarias marinhas podem ser fundamentais para fazer recuar a acidificação dos oceanos, de acordo com um estudo conduzido ao longo de seis anos por cientistas da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos.
Estes habitats - compostos por extensões de leito marinho, em águas pouco profundas, coberto por plantas semelhantes às ervas terrestres, mas adaptadas à vida no mar - conseguem reduzir em cerca de 30% a acidez da água onde se encontram porque têm capacidade de absorver dióxido de carbono por fotossíntese mesmo quando não recebem luz solar.
“Isto faz o ambiente das pradarias marinhas recuar para níveis de pH pré-industriais, semelhantes ao que aconteceria nos oceanos por volta de 1750”, afirmou a investigadora Tessa Hill, do Departamento de Ciências Planetárias e da Terra, co-autora do estudo agora publicado na revista científica Global Change Biology.
As pradarias subaquáticas sustentam ecossistemas complexos com animais como tartarugas marinhas, raias, pequenos tubarões, focas-comuns, cavalos-marinhos, lesmas-do-mar e várias espécies de peixes e moluscos, funcionando não só como zona de alimentação, mas também como “berçário” de juvenis de muitas espécies.
alterações climáticas">Em Portugal, a zona com maior cobertura de pradaria marinha é a ria Formosa, segundo a organização Ocean Alive, mas existem também no estuário do Sado, na zona da Arrábida, onde a apanha comercial de bivalves causou grandes estragos, levando a tentativas de replantação em curso.
“São uma floresta marinha sem árvores”, ilustrou a investigadora Aurora Ricart, do Laboratório de Ciências Oceânicas Bigelow (Maine, EUA), citada num comunicado da Universidade da Califórnia em Davis.
Para o estudo, foram instalados sensores durante cinco anos em pradarias marinhas na Califórnia. “O que foi surpreendente foi que [a redução da acidez da água] acontece durante a noite tal como de dia, mesmo quando não há fotossíntese”, indicou Aurora Ricart, acrescentando que o efeito de alcalinização da água perdura durante semanas.
A nível global, a acidificação oceânica está a aumentar enquanto os ecossistemas das pradarias marinhas estão em declínio. Com mais dióxido de carbono libertado para a atmosfera, cerca de um terço é absorvido pelos oceanos, o que altera o pH, tornando a água mais ácida, com impactos ambientais significativos, como por exemplo a maior dificuldade de animais com concha gerarem o carbonato de cálcio que constitui as conchas e os esqueletos externos de crustáceos.
Descobertas as capacidades das pradarias, o investimento na sua conservação pode ter um papel nas orientações de política ambiental dos países para melhorar a acidificação dos oceanos, defende a investigadora Melissa Ward, da Universidade da Califórnia.