Mais de 3500 cartas de jovens de Vila Nova de Gaia combatem solidão de idosos
Jovens de Vila Nova de Gaia escrevem cartas para idosos que se encontram hospitalizados ou a viver em lares. A iniciativa, criada por Mariana Costa, tem o objectivo de mitigar a solidão dos mais velhos durante a pandemia.
Mais de 3500 cartas escritas por jovens de Vila Nova de Gaia com o objectivo de “combater a solidão em tempos de pandemia” vão ser distribuídas, a partir desta terça-feira, a idosos hospitalizados ou residentes de lares.
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Mais de 3500 cartas escritas por jovens de Vila Nova de Gaia com o objectivo de “combater a solidão em tempos de pandemia” vão ser distribuídas, a partir desta terça-feira, a idosos hospitalizados ou residentes de lares.
“Tenho dois irmãos mais novos e, nesta quarentena, temos tentado distrair-nos, mas mesmo assim parece que todos os dias são iguais. Sinto-me como se sente, isolada. Mas acredito que tudo vai voltar ao normal. Aliás, quando voltarmos, vamos estar mais fortes e com o mundo à nossa espera. Não permita que esta pandemia o deixe triste” - é o excerto de uma das cartas que idosos do concelho de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, vão receber.
A ideia partiu de Mariana Costa, aluna da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, freguesia de Valadares, e o desafio foi lançado aos 12 agrupamentos escolares e aos colégios particulares de Gaia pelo Gabinete da Juventude da Câmara Municipal.
Em declarações à agência Lusa, a mentora do projecto confessou estar “muito satisfeita” com a adesão de outros jovens, por considerar que “é importante mostrar aos idosos que não estão sozinhos” num período, o da pandemia da covid-19, que restringiu as visitas em lares e hospitais.
“Tenho esperança que sintam que a minha mensagem [referindo-se à carta que a própria escreveu e à qual juntou um desenho feito em família] lhes tocou o coração”, disse Mariana Costa.
A estudante de 17 anos teve a ideia de escrever aos idosos quando, há cerca de dois meses, participou num workshop promovido por uma associação juvenil, no qual foram abordados tópicos como o impacto que as iniciativas podem ter na vida dos outros e a importância da empatia pelo próximo.
“Apesar de ser chato estarmos em quarentena, é necessário para nos protegermos. E assim espero que também esteja bem e que com esta carta receba o meu carinho” - é outra das frases que podem ser lidas nas cartas que agora serão partilhadas.
De acordo com o vereador da Juventude da Câmara de Gaia, Elísio Pinto, estão prontas entre 3500 a 4000 missivas, sendo o objectivo “combater a solidão e “estabelecer uma ponte de amizade entre as várias gerações, numa iniciativa sem barreiras.”
“Em Gaia não fazemos nada sem os jovens e os jovens de Gaia aparecem-nos cada vez mais com ideias pioneiras e novas. Este é um gesto com um simbolismo tremendo porque envolve os melhores sentimentos do mundo. É uma atitude muito altruísta”, descreveu.
O autarca confessou à Lusa que leu algumas das cartas, tendo encontrado “mensagens profundas de força, energia e amor” que sintetiza numa frase: “É quase como os netos que agradecem o que os avós fizeram por eles.”
Parte deste conjunto de cartas foi esta terça-feira entregue no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHNVG/E) numa cerimónia na qual o presidente do conselho de administração, Rui Guimarães, deu a conhecer a nova equipa de co-gestão do doente geriátrico.
“Todos sabemos que, quando um doente [idoso] é admitido, quando sai tem muita dificuldade em adquirir as capacidades que tinha antes do internamento, nomeadamente a mobilidade, funções cognitivas e inserção no meio social. Esta equipa está vocacionada para estas situações. Vamos cooperar com todas as áreas para promover uma avaliação global do idoso”, descreveu o coordenador da equipa, Agripino Oliveira.
De acordo com o responsável, e segundo dados de 2013, 40% dos internamentos em Portugal são de pessoas idosas com mais de 65 anos. Acima dos 75 anos, esse número passa para 70%.