Uma americana apaixonou-se pela cortiça portuguesa: assim nasceu a Corc Yoga
Com recurso apenas a cortiça, os tapetes de ioga são hipoalergénicos e antimicrobianos. Em 2021, Christine Moghadam quer conquistar o mercado europeu a partir de Portugal.
Antes de 2016, Christine Moghadam nunca tinha ouvido falar de Portugal, muito menos de cortiça. Pouco mais de um ano depois, a americana fundou a Corc Yoga — uma marca de colchões de ioga sustentáveis feitos a partir de cortiça, 100% produzidos em Portugal. Em 2021, quer começar a conquistar o mercado europeu a partir da “ocidental praia lusitana”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Antes de 2016, Christine Moghadam nunca tinha ouvido falar de Portugal, muito menos de cortiça. Pouco mais de um ano depois, a americana fundou a Corc Yoga — uma marca de colchões de ioga sustentáveis feitos a partir de cortiça, 100% produzidos em Portugal. Em 2021, quer começar a conquistar o mercado europeu a partir da “ocidental praia lusitana”.
Foi num “período muito difícil da vida” que Christine Moghadam conheceu Portugal, conta a empresária americana ao PÚBLICO. “Fechei os olhos e pus o meu dedo num mapa e disse: ‘Onde o meu dedo aterrar, é para onde iremos.’ E acertou em Portugal”, recorda. Num passeio por Lisboa, as peças em cortiça — típicas das lojas para turistas — chamaram-lhe a atenção, explicaram-lhe o tipo de material e que era tipicamente português.
Quando regressou a casa, no Sul da Califórnia, começou a fazer pesquisa intensiva sobre cortiça. “Nasci na costa do Noroeste Pacífico, em Washington, conhecida como a zona mais verde dos EUA, e sempre fui fascinada por árvores. O que mais me fascinou com os sobreiros é que, quando se remove a casca, é terapêutico para a árvore”, explica, acrescentando que se tornou “uma nerd da cortiça”, ou seja, alguém que sabe e pesquisa obsessivamente sobre determinado tema.
“Quanto mais estudava a cortiça, mais começava a perceber Portugal como um todo e a sentir uma ligação.” A sua paixão pelo ioga — um refúgio para a saúde física e mental — fez com que pesquisasse e descobrisse que “não havia um tapete que fosse feito de forma tão sustentável quanto pode ser com cortiça”. Voltou então a Portugal com o plano traçado e visitas marcadas a fábricas de cortiça. Apenas uma se mostrou disponível para embarcar no projecto e criar um tapete feito apenas de cortiça, sem borracha. Ser o mais sustentável possível é o mote da Corc Yoga, que quer também “fazer uma ponte entre o ioga e a saúde mental”, duas das grandes paixões de Christine Moghadam.
Aliás, a marca tem, desde o primeiro dia, uma parceria com a associação portuguesa Desafio Jovem. Parte dos lucros da venda dos tapetes de ioga destina-se a ajudar jovens com comportamentos adictivos. “Temos de cuidar do nosso corpo inteiro. Sou uma grande crente nisto: é tão importante fazer exercício como é cuidar da nossa mente”, defende a empresária.
O que torna este tapete tão especial?
Christine Moghadam sabe resumir de trás para a frente e da frente para trás o processo da cortiça. Depois de se retirar a casca ao sobreiro, é necessário que seque ao ar durante nove meses. Os pedaços de casca são depois cuidadosamente seleccionados e granulados em tamanhos diferentes. Só depois a cortiça é prensada — “é o processo que lhe dá valor”, sublinha a empresária.
Demoraram seis a oito meses a encontrar o tapete de ioga perfeito. Tipicamente, é a borracha que dá a flexibilidade ao tapete, mas usar plástico estava fora de questão. Com recurso apenas a cortiça, os tapetes da Corc Yoga são hipoalergénicos e antimicrobianos. “O ioga tem tudo que ver com a respiração, e quando se inspira e a pele está em contacto com o tapete, nenhum químico da cortiça é prejudicial para o corpo”, assegura. Os tapetes já foram, inclusive, usados num projecto de recuperação de doentes de cancro da mama, por não acumularem pó ou micróbios, avança.
Desde 2017 que a Corc Yoga estavafocada no mercado norte-americano, mas “é muito difícil”, lamenta a empresária, que explica que aquele “não percebe o valor” deste material. Por isso, o objectivo agora é conquistar o mercado europeu, onde, até agora, os tapetes só estavam à venda em hotéis de luxo. A marca está “tão ligada a Portugal que faz mais sentido que nos estabeleçamos no país de origem, de onde é tudo”, defende a empresária, que planeia mudar-se em breve para o país.
A norte-americana reconhece que os tapetes, com preços a partir de 145 euros, são para “um mercado de nicho”, mas garante que “não é sobre o dinheiro, mas sobre as pessoas”. Com esse espírito, está a organizar o retiro The Renewal em Évora, entre os dias 27 de Junho e 3 de Julho. “Não é só um retiro, é uma extensão da marca, onde as pessoas podem experienciar o que é a Corc Yoga”, informa.
Durante uma semana, os participantes — para já, são sobretudo americanos — vão fazer ioga, meditação, workshops de culinária, provas de vinho e azeite no Ecork Hotel. Christine Moghadam considera que esta é uma forma de retribuir a Portugal, “depois de um ano em que o turismo perdeu tanto”. Não tem quaisquer laços familiares ao país, mas, garante, já se sente totalmente portuguesa.