Deve Ronaldo bater os livres na selecção? Os números sugerem que não

Cristiano Ronaldo é o “dono” dos livres directos no clube e na selecção. Está, porém, longe de ser eficaz neste capítulo do jogo, quer em concretizações absolutas, quer em rácio de aproveitamento. Portugal e a Juventus sofrem com isso.

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Ronaldo em acção pela selecção portuguesa Reuters

Uns livres na barreira, outros à mercê do guarda-redes e outros sem ameaçarem a baliza adversária. Cristiano Ronaldo está, nos últimos meses, num mau momento em matéria de concretização de livres directos e, naquele que é o seu “pelouro”, na selecção nacional e na Juventus, o jogador português não tem justificado o “monopólio” dos livres.

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Uns livres na barreira, outros à mercê do guarda-redes e outros sem ameaçarem a baliza adversária. Cristiano Ronaldo está, nos últimos meses, num mau momento em matéria de concretização de livres directos e, naquele que é o seu “pelouro”, na selecção nacional e na Juventus, o jogador português não tem justificado o “monopólio” dos livres.

Desde o início da temporada 2018/19, Ronaldo marcou apenas três golos de livre directo. Um número modesto, sobretudo tendo em conta que é um jogador que, neste período, já tentou largas dezenas de pontapés livres – acima dos 70.

Será boa ideia entregar quase todos os livres directos ao capitão? No prisma meramente estatístico, talvez não. Na equipa nacional há dois jogadores com melhor registo goleador nos últimos dois anos: Bruno Fernandes, com oito golos marcados de livre directo, e Sérgio Oliveira, com cinco.

Aproveitamento abaixo dos demais

O registo absoluto pode, porém, ser enganador – afinal, quanto mais um jogador tentar maior é a probabilidade de sucesso. Importa, portanto, analisar a eficácia.

Cruzando dados dos sites FBREF e Transfermarkt, Cristiano Ronaldo tem, desde 2018/19, em jogos da Juventus, uma percentagem de acerto de 1,51% – um golo em 66 livres tentados (marcou outros dois pela selecção nacional, o que melhorará bastante a média, mas não há registos fidedignos das tentativas).

Entre os possíveis batedores de livres da selecção nacional não há quem tenha registo tão modesto. Com conjugação de dados cedidos ao PÚBLICO pela Opta, Bruno Fernandes soma, desde 2018 (Sporting e Man. United) um aproveitamento de 9,6% (cinco golos em 52 tentativas – aos quais se somam outros três em jogos de Taça, mas sem registos de tentativas). Já Rúben Neves anda na casa dos 10,5% (dois golos em 19 tentativas).

Há, depois, dois casos específicos. Sérgio Oliveira tem, por jogar fora das “big 5” dados incompletos, pelo que o barómetro é apenas o valor enviado pela Opta sobre jogos de campeonato, que diz que o jogador do FC Porto teve uma eficácia de 11,8% (dois golos em 17 tentativas, embora o portista até some outros três, na Champions e na Liga grega).

Por fim, também Cédric já marcou de livre desde 2018, pelo Arsenal, mas o número de tentativas não é amostra suficiente para uma análise fidedigna.

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Na selecção há ainda um caso curioso. Raphaël Guerreiro tem a vantagem de ser um canhoto com capacidade de bater livres quando a bola está perto da área e descaída para o lado direito. E Guerreiro teve, de facto, o seu momento de glória. Em 2016, num amigável frente à Noruega, teve a honra de bater um livre e marcou. Nesse jogo… não havia Ronaldo.

“Ronaldo marca nos treinos”

Segundo dados do Transfermarkt, Ronaldo leva, em três épocas de Juventus, apenas um golo marcado em 66 tentativas (há dados em Itália que falam de mais de 70). O único golo marcado de livre directo – ao Torino, em Julho de 2020 – chegou depois de mais de 40 pontapés tentados.

Por que motivo um jogador com baixo aproveitamento tem a honra de principal batedor de livres? Além do estatuto e da memória dos grandes golos haverá, acima de tudo isto, a eficácia nos treinos – que, caso impere a lógica, será grande.

Com as sessões fechadas ao público e aos jornalistas é impossível aferir o aproveitamento do madeirense dentro de portas, mas, em Itália, o jornal italiano Tuttosport quis abordar este prisma.

Carlo Pinsoglio, terceiro guarda-redes da “Juve”, garantiu ao jornal italiano que Ronaldo é eficaz nos treinos. “Ele bate sempre livres nos treinos e marca a toda a hora. Não sei por que motivo não marca nos jogos, talvez por azar”, afiançou.

A chegada de Ronaldo à Juventus alterou a hierarquia no clube do Norte de Itália, apesar de os números recomendarem maior prudência nessa decisão. Segundo Paulo Dybala contou à Gazzetta dello Sport, o argentino falou com o bósnio Miralem Pjanic – até então, eram os batedores de livres da Juventus – quando Cristiano Ronaldo chegou a Itália.

“Eu e o Pjanic tínhamos um pacto: à esquerda batia ele, à direita batia eu. Escrevi ao Pjanic e disse-lhe ‘desculpa, mas acho que não vais bater livres nesta temporada’”, contou ao jornal italiano.

A brincadeira de Dybala não ficou longe da verdade. De facto, Ronaldo passou a ser o n.º1 dos livres directos na Juventus – na frequência com que batia, mas não necessariamente na eficácia.

Um estudo feito em 2019 pela Soccerment, portal especializado em análise estatística, aponta que um livre directo tem 6% de probabilidade de dar golo (fala-se de um valor a rondar um golo por cada 17 tentativas).

O estudo analisou os melhores especialistas do mundo (com pelo menos dez livres batidos e três golos marcados) e concluiu que Ronaldo está longe dessa elite: entre 2014 e 2019, o português apresentou uma taxa de sucesso abaixo dos 5%, sendo que os principais batedores de livres estão bem acima desse valor.

Messi, por exemplo, ronda os 10% de eficácia, mas os principais “artistas” estão mesmo acima ou perto dos 20% – nomes como James Rodríguez, James Maddison, Ángel Di Maria, Iago Aspas, Juan Mata, Antoine Griezmann, Philippe Coutinho ou… Miralem Pjanic e Paulo Dybala.