Mau tempo deixou a Madeira às escuras por duas vezes

Tempestade atingiu a ilha com aguaceiros, granizo e um festival de relâmpagos e trovões. Dois deles atingiram e desligaram a rede eléctrica da Madeira.

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O temporal deste fim-de-semana obrigou ao corte de várias estradas HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Na Madeira, o 20 de Fevereiro de 2010 é uma espécie de divisor de águas. Há um antes daquele dia em que um aluvião provocou 47 mortos, quatro desaparecidos e mil milhões de euros em prejuízos, e há um depois. Sempre que a precipitação é forte e se abate sobre a ilha uma tempestade semelhante à daquele dia, a tendência é comparar.

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Na Madeira, o 20 de Fevereiro de 2010 é uma espécie de divisor de águas. Há um antes daquele dia em que um aluvião provocou 47 mortos, quatro desaparecidos e mil milhões de euros em prejuízos, e há um depois. Sempre que a precipitação é forte e se abate sobre a ilha uma tempestade semelhante à daquele dia, a tendência é comparar.

Este sábado, em que os aguaceiros fortes praticamente não pararam durante todo o dia e madrugada de domingo, entrecortados pela queda de granizo, pelo raiar de relâmpagos e estrondo de trovões, essa comparação não deixou de ser feita. No Funchal, contabilizou Vítor Prior, responsável na Madeira pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), aos jornalistas, o volume de precipitação deste fim-de-semana foi superior ao registado no 20 de Fevereiro. A diferença foi que o grosso da chuva caiu este sábado no Funchal, enquanto há 11 anos o pico aconteceu nas serras que circundam a cidade.

“Entre as 9h da manhã de ontem [sábado] e as nove da manhã de hoje [domingo], durante 24 horas, choveu mais no Funchal do que no 20 de Fevereiro”, explicou Vítor Prior, ressalvando as diferenças. “No Funchal [no 20 de Fevereiro] o valor foi superior 150 mm e agora temos na ordem dos 280 mm, mas a grande diferença é que no 20 de Fevereiro a quantidade de precipitação no Pico do Arieiro foi o dobro da do Funchal, cerca de 300 ou 350 ml, enquanto que agora foi de 40 ml. Portanto, um valor muito mais baixo.”

Esta diferença ajuda a explicar porque as consequências do temporal deste fim-de-semana não foram tão graves, apesar das cerca de 100 ocorrências registadas, relacionadas com quedas de árvores, desabamentos, inundações e, claro, com os dois apagões gerais, que deixaram a ilha completamente às escuras, durante várias horas.

O primeiro aconteceu na noite de sábado, cerca das 20h30, e a Empresa de Electricidade da Madeira (EEM) levou mais de duas horas para repor a normalidade. O segundo, já na manhã deste domingo, aconteceu por volta das 7h, com a electricidade a ser restabelecida também duas horas depois.

Ambas as ocorrências, explicou pela manhã de domingo o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, foram provocadas por quedas de raios que atingiram a linha que sai da principal central eléctrica do arquipélago. “Um raio com esta carga é o equivalente ao abastecimento total da região. Provocou danos, mas trabalhámos para repor a electricidade rapidamente”, enquadrou Albuquerque, dizendo que durante a tempestade foram registadas mais de 20 mil descargas eléctricas, muitas deles, cerca de três mil, atingiram o solo ou o mar junto à ilha.

O Funchal foi o concelho mais afectado pelo mau tempo. A chuva forte e o granizo provocaram danos em várias infra-estruturas e cinco famílias, num total de 14 pessoas, foram realojadas provisoriamente devido a danos nas residências. Um estacionamento subterrâneo ficou inundado, afectando uma dezena de automóveis, e várias estradas ficaram intransitáveis, ou foram cortadas, devido a desabamentos.

Durante a tarde, o vice-presidente do governo madeirense, Pedro Calado, fez uma ronda pelas principais ribeiras que atravessam a cidade, que foram, depois do 20 de Fevereiro, alvo de uma profunda requalificação. “Tiveram um comportamento exemplar, face à quantidade de água que comportaram”, disse aos jornalistas, referindo-se aos cursos de água que, no 20 de Fevereiro, transbordaram, provocando danos avultados na baixa da cidade.

Calado lembrou os investimentos que foram feitos, destacando o sistema de controlo de aluviões que foi montando na região autónoma, adiantando que o executivo prevê investir mais 30 milhões de euros este ano, na mitigação destas ocorrências, através da consolidação de escarpas e contenção de linhas de água.

Em relação aos prejuízos, o número dois do governo regional diz que ainda não estão contabilizados, mas garante que o executivo vai trabalhar em conjunto com as autarquias mais afectadas.

As previsões do IPMA apontam para que o mau tempo regresse à Madeira na próxima quarta-feira, embora sem a mesma intensidade deste fim-de-semana.