Trabalhadores dos projectos de gás chegaram em segurança a Pemba
Barco com 1800 pessoas já está na capital de Cabo Delgado, depois da fuga aos ataques que visaram os projectos de gás natural na província moçambicana.
Após os ataques que visaram as operações de resgate, provocando vários mortos e feridos, incluindo um português, os trabalhadores das empresas que exploram gás natural em Cabo Delgado chegaram este domingo a Pemba. Um barco com 1800 pessoas em fuga de Palma, a vila sob ataque dos jihadistas desde quarta-feira, atracou na capital da província moçambicana. A bordo estavam cerca de 200 estrangeiros que se tinham refugiado inicialmente no hotel Amarula, na vila de Palma.
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Após os ataques que visaram as operações de resgate, provocando vários mortos e feridos, incluindo um português, os trabalhadores das empresas que exploram gás natural em Cabo Delgado chegaram este domingo a Pemba. Um barco com 1800 pessoas em fuga de Palma, a vila sob ataque dos jihadistas desde quarta-feira, atracou na capital da província moçambicana. A bordo estavam cerca de 200 estrangeiros que se tinham refugiado inicialmente no hotel Amarula, na vila de Palma.
As operações de resgate para levar os estrangeiros de várias nacionalidades para o recinto protegido da petrolífera francesa Total, em Afungi, a seis quilómetros de Palma, tinham começado na quinta-feira. Na sexta-feira, uma das caravanas foi atacada. Segundo noticiou a Lusa, sete civis terão sido abatidos, ao mesmo tempo que um português ficou ferido, como confirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, e está já na África do Sul.
As comunicações com Palma continuam muito difíceis e é difícil saber a situação de muitos dos milhares de residentes que fugiram para a floresta. Os que já chegaram a Afungi ou a campos de deslocados descrevem uma fuga muito difícil e contam ter visto corpos de pessoas assassinadas nas ruas. A bordo da embarcação com trabalhadores estrangeiros seguiam também moçambicanos em fuga da violência, escreve no Twitter o embaixador francês, David Izzo.
A Total tinha acabado de anunciar o regresso gradual aos trabalhos de construção da sua fábrica de gás natural liquefeito (GNL) em Afungi antes dos primeiros ataques. As operações tinham sido interrompidas precisamente por causa de um ataque de menores dimensões, em Dezembro. A empresa confirmou entretanto que “não tem vítimas a lamentar no pessoal que trabalha no local do projecto”, mas vai “reduzir os trabalhadores ao mínimo” e “a reactivação do projecto, ponderada esta semana, fica suspensa”, cita a AFP.
Em resposta a questões colocadas pela Lusa, a Total sublinha que a sua “prioridade absoluta é garantir a segurança e a protecção das pessoas que trabalham no projecto” e expressa ainda “solidariedade e apoio à população de Palma, aos familiares das vítimas e às pessoas afectadas pelos trágicos acontecimentos dos últimos dias”.
Pelo menos um empreiteiro sul-africano foi morto e vários sul-africanos continuam desaparecidos, confirmou o Governo da África do Sul, que decidiu reforçar a sua missão diplomática em Moçambique “para realizar o trabalho de localização, identificação e resposta às necessidades dos afectados”. Segundo os media sul-africanos, o Presidente, Cyril Ramaphosa, reuniu-se entretanto com altos responsáveis da Defesa e está a considerar o destacamento de forças especiais para ajudar a conter a guerra em Cabo Delgado.
Palma tinha sido até agora quase poupada à insurreição que há três anos e meio assola Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, e chegou a ser destino de milhares de pessoas em fuga de outras zonas. Este é de longe o mais grave ataque junto aos projectos que exploram o gás natural na bacia de Rovuma. A Total é a principal investidora do maior destes projectos, estimado em 20 mil milhões de euros, que representa mesmo o maior investimento privado actual no continente africano.
Apesar das indicações credíveis da presença do Daesh em Cabo Delgado, e deste grupo jihadista global ter reivindicado alguns dos ataques entre Junho de 2019 e Novembro de 2020, estando em silêncio desde então, a origem da violência no Norte de Moçambique continua por esclarecer plenamente. Certo é que provocou já uma gigantesca crise humanitária, com perto de 700 mil moçambicanos a viver em campos improvisados, e pelo menos 2600 pessoas mortas, incluindo 1300 civis.