Chefes da Defesa de 12 países condenam militares da Birmânia

Moscovo enviou vice-ministro da Defesa à parada militar do Dia das Forças Armadas, marcado por 114 mortos. EUA dizem-se “horrorizados com o banho de sangue provocado pelas forças de segurança birmanesas”.

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Manifestante com uma bandeira da Liga Nacional para a Democracia, em Rangum Reuters/STRINGER

Numa rara declaração conjunta, os principais chefes da Defesa de 12 países, incluindo os Estados Unidos e vários países europeus, como a Alemanha ou a Itália, mas também o Japão e a Coreia do Sul, condenaram as Forças Armadas da Birmânia pela repressão sangrenta contra os manifestantes pró-democracia do país. “Um exército militar tem como responsabilidade proteger – não fazer dano – às pessoas que serve”, lê-se no texto divulgado um dia depois da violência dos militares ter chegado a novos níveis, com pelo menos 114 mortos, incluindo várias crianças, nos protestos de sábado.

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Numa rara declaração conjunta, os principais chefes da Defesa de 12 países, incluindo os Estados Unidos e vários países europeus, como a Alemanha ou a Itália, mas também o Japão e a Coreia do Sul, condenaram as Forças Armadas da Birmânia pela repressão sangrenta contra os manifestantes pró-democracia do país. “Um exército militar tem como responsabilidade proteger – não fazer dano – às pessoas que serve”, lê-se no texto divulgado um dia depois da violência dos militares ter chegado a novos níveis, com pelo menos 114 mortos, incluindo várias crianças, nos protestos de sábado.

“Apelamos às Forças Armadas da Birmânia para pararem com a violência e trabalharem para restaurar o respeito e a credibilidade das pessoas, que perderam com as suas acções”, afirmam os altos responsáveis na declaração.

O comunicado não se refere especificamente à violência da véspera, que coincidiu com o Dia das Forças Armadas, assinalado por uma enorme parada na capital birmanesa, Naypyitaw. Oito países enviaram representantes à parada militar – Rússia, China, Paquistão, Bangladesh, Vietname, Laos e Tailândia –, mas só a Rússia enviou o seu vice-ministro da Defesa, Alexander Fomin.

Estes domingo voltou a haver manifestações na Birmânia, ao mesmo tempo que por todo o país se realizavam funerais: as forças de segurança disparam contra uma destas cerimónias, em Bago, perto da capital comercial, Rangum, descreveram alguns dos presentes à Reuters.

“Palavras de condenação ou preocupação soam francamente vazias para os birmaneses, enquanto a junta militar comete assassínios em massa”, afirmou o relator especial das Nações Unidas para a Birmânia, Tom Andrews. “As palavras não são suficientes. O tempo para uma acção coordenada e robusta já passou”, defendeu.

Andrews diz que se não for possível agir através do Conselho de Segurança da ONU, onde a China e a Rússia podem vetar decisões, é preciso então fazê-lo com uma cimeira internacional de emergência. O fundamental, defende é cortar o acesso dos militares ao financiamento, como os lucros do petróleo e do gás, e o acesso a armas.

De acordo com o portal Myanmar Now, entre os 114 mortos há uma menina de 13 anos morta em Mandalay, a segunda maior cidade do país, e um menino da mesma idade assassinado em Sagaing, no Centro da Birmânia, atingido por um atirador furtivo quando estava à janela de casa. Diferentes relatos dão conta de pelo menos seis crianças entre os dez e os 16 anos mortas.

A delegação da União Europeia na Birmânia afirmou que este sábado “ficará para sempre gravado como um dia de terror e desonra”, descrevendo “o assassínio de civis desarmados, incluindo crianças, como actos indefensáveis”.

“Estamos horrorizados com o banho de sangue provocado pelas forças de segurança birmanesas, que mostra que a junta sacrificará a vida das pessoas em nome de alguns”, escreveu no Twitter o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. “O corajoso povo da Birmânia rejeita o regime de terror dos militares”, acrescentou.

“É impossível expressarmos a dor que sentimos quando vemos estes diplomatas estrangeiros de mãos dados com os que celebram os generais. Todas estas armas que eles exibiram só servem para matar as pessoas da Birmânia”, disse à Al-Jazeera o porta-voz do CRPH (Committee Representing Pyidaungsu Hlutta), um grupo anti-golpe criado pelos deputados depostos, Dr. Sasa.

"Organização terrorista"

“Quantas mais pessoas terão de morrer para a comunidade internacional agir?”, questiona Sasa. “Se não houver acção, só palavras, temos que o meu país tenha de passara pela maior as guerras civis, como nunca vimos antes.” Este representante dos eleitos depostos a 1 de Fevereiro pede à comunidade internacional para considerar o Exército birmanês uma “organização terrorista”.

Perante os acontecimentos de sábado, Phil Robertson, director-adjunto da organização não-governamental Human Rights Watch, diz que o Exército birmanês deve enfrentar acusações num tribunal internacional.

Até sexta-feira, antes deste dia de horror, a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos tinha verificado a morte de 328 civis na repressão que se seguiu ao golpe contra o Governo civil eleito liderado por Aung San Suu Kyi. Há ainda mais de 2400 pessoas detidas, incluindo Suu Kyi e muitos dirigentes do seu partido, a Liga Nacional para a Democracia, que vencera as eleições de Novembro com maioria absoluta.