Primeiro-ministro da Etiópia anuncia retirada de militares eritreus da região de Tigré
O conflito armado iniciado em Novembro do ano passado já fez milhares de mortos e de deslocados, e há relatos de assassínios, torturas e violações em massa.
Dias depois de ter reconhecido a entrada de forças eritreias em Tigré, na Etiópia, o primeiro-ministro Abiy Ahmed informou, esta sexta-feira, que a Eritreia acordou retirar as suas tropas da região que tem sido palco de um conflito armado nos últimos meses.
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Dias depois de ter reconhecido a entrada de forças eritreias em Tigré, na Etiópia, o primeiro-ministro Abiy Ahmed informou, esta sexta-feira, que a Eritreia acordou retirar as suas tropas da região que tem sido palco de um conflito armado nos últimos meses.
“No dia 26 de Março de 2021, na discussão com o Presidente Isaias Afwerki durante a visita a Amhara, o Governo da Eritreia concordou retirar as suas forças da fronteira da Etiópia”, disse Ahmed numa declaração partilhada no Twitter.
O primeiro-ministro afirmou que “a Força de Defesa Nacional da Etiópia vai garantir imediatamente a vigilância nas áreas fronteiriças”, e acrescentou que é essencial restaurar as “relações assentes na confiança entre os cidadãos na região de Tigré e os eritreus ao longo da fronteira”.
A declaração surge dias depois de Abiy Ahmed, laureado com o Prémio Nobel da Paz em 2019 por ter dado início ao processo de paz entre a Etiópia e a Eritreia, ter reconhecido a presença de militares da Eritreia, em apoio a Adis Adeba, num conflito que começou em Novembro entre os líderes tigré e as tropas do Governo etíope e que fez milhares de mortos e deslocados.
A cisão entre os dois lados agravou-se quando o Governo federal adiou as eleições legislativas, em 2020, devido à pandemia de covid-19. Descontente, a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), partido regional e étnico de Tigré, organizou as suas próprias eleições, e passou a encarar o primeiro-ministro como ilegítimo. Adis Adeba não reconheceu as eleições e enviou militares para o Norte do país, após alegados ataques a bases militares.
Mas a tensão já existia e estava em estado latente. Os tigré controlaram os destinos do país entre 1991 e 2018, quando Ahmed subiu ao poder. Das várias reformas que implementou, afastou muitos quadros da FLPT de lugares importantes do poder, motivando a formação de milícias e forças paramilitares na região de Tigré.
Milhares de mortos e deslocados
O conflito armado causou milhares de mortes – desconhece-se o número oficial – e pelo menos 43 mil etíopes fugiram para o Sudão. Há vários relatos de mortes, tortura e violações em massa por parte das tropas eritreias.
De acordo com uma investigação levada a cabo pela Amnistia Internacional, as tropas eritreias “avançaram num tumulto e mataram sistematicamente centenas de cidadãos a sangue-frio”.
Os que escaparam, vivem em risco de fome extrema e falta de abrigo e, embora os apoios humanitários tenham chegado à população, a ajuda não é suficiente: muitas pessoas continuam em risco de passar fome.
Uma fonte do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) também avançou, esta sexta-feira, que há cerca de 95 mil etíopes deslocados no distrito de Shiraro, além dos cerca de 20 mil refugiados eritreus que viviam em campos de refugiados em Tigré e que desapareceram.
Os campos de refugiados eritreus – onde a população da Eritreia se refugiava de décadas de violência no país - “estão totalmente destruídos” e, segundo o ACNUR, os refugiados estarão espalhados pelo país.
O Secretário-Geral das Nações Unodas, António Guterres, já tinha pedido para a retirada das tropas eritreias da região, tal como pediu o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, no início do mês de Março. Foi ainda feito o apelo de uma investigação no terreno, pela Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.
E só agora está a ser permitido o acesso de jornalistas e organizações de direitos humanos na região, segundo uma repórter da Al-Jazeera. “Os responsáveis na Etiópia afirmam que estão a investigar as violações dos direitos humanos”, concluiu.