Investidura do presidente do governo catalão chumbada no parlamento

Abstenção do Juntos pela Catalunha inviabilizou a tomada de posse de Pere Aragonès. Nova sessão na próxima semana pode manter impasse.

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Falta de apoio do JxC inviabilizou investidura de Pere Aragonès QUIQUE GARCIA / POOL / EPA

Tal como esperado, a primeira tentativa de investidura do presidente do governo autonómico catalão falhou, depois do chumbo anunciado do Juntos pela Catalunha (Junts). O partido independentista pediu ao coordenador da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Pere Aragonès, para abrir mão de uma segunda sessão de investidura enquanto as negociações para a formação do novo executivo regional não terminarem.

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Tal como esperado, a primeira tentativa de investidura do presidente do governo autonómico catalão falhou, depois do chumbo anunciado do Juntos pela Catalunha (Junts). O partido independentista pediu ao coordenador da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Pere Aragonès, para abrir mão de uma segunda sessão de investidura enquanto as negociações para a formação do novo executivo regional não terminarem.

Na sessão plenária desta sexta-feira, Aragonès contou apenas com os 33 votos da sua própria bancada e com os nove da Candidatura de Unidade Popular (CUP, anticapitalistas), um número insuficiente para alcançar os 68 necessários para assegurar uma maioria no parlament. Para isso, é necessário que a ERC garanta o apoio do outro esteio do independentismo catalão, o Junts, do ex-presidente da Generalitat, em autoexílio, Carles Puigdemont, que conta com uma bancada de 32 deputados.

A abstenção dos independentistas de direita inviabiliza a investidura de Aragonès, pondo em evidência o desacordo entre as duas grandes representantes deste sector, que nas últimas eleições autonómicas logrou, pela primeira vez, uma maioria eleitoral. As atribuladas negociações para a atribuição dos cargos directivos no parlamento catalão, há duas semanas, já tinham deixado claro que a formação do executivo seria longa e contenciosa.

O diálogo entre a ERC e o Junts tem conhecido muito poucos progressos e está numa fase preliminar. Segundo o diário catalão La Vanguardia, não se abordou sequer a partilha de pastas no futuro governo nem se discutiu um programa de governação.

Os dois partidos discordam acerca da melhor forma para trilhar o caminho rumo à independência catalã, o objectivo político último de ambos e que se intensificou na última década. Os republicanos – que a nível nacional viabilizaram o Governo do Partido Socialista (PSOE) – defendem uma maior abertura ao diálogo directo com o Governo central, enquanto o Junts quer um maior protagonismo do Conselho da República, uma entidade independentista criada por Puigdemont, mas que não é consensual no seio do movimento secessionista.

“Diálogo de surdos”

No seu discurso, Aragonès pediu que se evite um “diálogo de surdos” e falou na necessidade de “honestidade” e “absoluta transparência” nas negociações. O coordenador da ERC pautou a sua posição pela urgência de responder aos problemas imediatos representados pela crise sanitária e económica causada pela pandemia da covid-19. Os objectivos a que o govern em formação se propõe são o de acudir “às urgências sociais, reconstrução económica e resolução do conflito com o Estado”.

O Junts recebeu com alguma frieza as palavras de Aragonès e fez uma proposta para que o processo de investidura seja interrompido para que as negociações prossigam. Ao chumbo da primeira tentativa de investidura segue-se outra, provavelmente na terça-feira, em que passa a ser necessária uma maioria relativa. No entanto, se os deputados do Junts votarem contra a investidura, esta voltará a falhar.

A ERC tem criticado as exigências dos seus interlocutores, defendendo que tem cumprido a sua parte ao ter, por exemplo, viabilizado a eleição da candidata do Junts, Laura Borràs, para presidir o parlamento.

Enquanto as forças independentistas arrastam os pés, o cronómetro começou a contar, transformando as negociações numa luta contra o tempo. A partir desta sexta-feira, os partidos têm dois meses para chegar a um acordo para a formação de um governo, caso contrário terão de ser convocadas novas eleições autonómicas.