“Tudo tinha de ter um fim”. Ramalho diz que Novo Banco começa ciclo de “renascimento”
O presidente executivo do Novo Banco apresentou novo prejuízo milionário em 2020. O banco pede de novo recurso a fundos públicos.
O presidente-executivo (CEO) do Novo Banco, António Ramalho, disse esta sexta-feira que a instituição financeira terminou um ciclo de reestruturação e prepara-se para iniciar uma fase de “renascimento”. O CEO do banco afirmou que “tudo tinha que ter um fim”, que “todos os compromissos que o banco tinha até 2020 foram cumpridos”, mas não garantiu que esta seja a última vez que recorre ao Fundo de Resolução.
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O presidente-executivo (CEO) do Novo Banco, António Ramalho, disse esta sexta-feira que a instituição financeira terminou um ciclo de reestruturação e prepara-se para iniciar uma fase de “renascimento”. O CEO do banco afirmou que “tudo tinha que ter um fim”, que “todos os compromissos que o banco tinha até 2020 foram cumpridos”, mas não garantiu que esta seja a última vez que recorre ao Fundo de Resolução.
O líder do banco adiantou que a instituição vai iniciar um período de “resultados positivos desde o primeiro trimestre” e falou no início de um “novo caminho em 2021”. Não quis, porém, adiantar o valor, mas assegurou estar a ser “realista” até porque já tem uma estimativa com base no que se passou em Janeiro e Fevereiro na actividade do banco.
Ao longo e toda a conferência de imprensa, António Ramalho mostrou-se satisfeito com o que tinha para anunciar. Começou desde logo por dizer que era com “agrado” que apresentava pela última vez o balanço separado entre o que é a actividade do banco e a herança que recebeu do BES. Adiantou que o balanço do banco está limpo - “os critérios de limpeza de balanço foram desenvolvidos até final de 2020”, afirmou -, embora não tenha entrado em detalhes sobre o que aconteceu aos créditos dos grandes devedores do banco. Ramalho assegurou apenas que o banco “não deixou de perseguir os objectivos de recuperação” e referiu que a instituição tem “mais de 90 mil acções em tribunal”, numa tentativa de mostrar que o banco tenta ir atrás dos devedores sempre que há condições para recuperar dívidas.
Para marcar a tónica de fecho de um ciclo, o CEO do banco usou mais do que uma vez a expressão “cumprimento religioso” de compromissos. E fez questão de ser detalhado a explicar do que se trata: “Deu-se cumprimento claro ao que estava e constava da nota 94 dos pressupostos, dos objectivos fixados pelo acordo” de venda do banco em 2017. Ou seja, “as perdas com activos do Mecanismo de Capital Contingente (CCA na língua inglesa) devem ser registados nos primeiros quatro anos”. Isto significa até 2020, já que o acordo de venda é de 2017. O objectivo é que “em 2021 não haja mais surpresas para activos CCA”, afirmou.
Os resultados conhecidos esta sexta-feira “fecham não um mas dois ciclos do que foi a resiliência e a recuperação e que precederão o renascimento”, afirmando que “tudo tem que ter um fim” e que o banco tem entra agora numa fase de lucros, depois dos prejuízos de 1300 milhões de euros com que fechou o ano de 2020.
Ramalho, “cauteloso”, guarda margem para injecção futura
Porém, nem tudo são facilidades para os tempos que se avizinham. E, por isso, o presidente do banco prefere ser “cauteloso em relação a todos os problemas” com que a economia vai ficar depois da pandemia. Incluindo em relação aos compromissos que assume, nomeadamente, quanto a uma nova injecção de capital.
Entre os problemas possíveis estão as moratórias do crédito à habitação, cuja extensão quer que seja feita agora e não em Setembro. O presidente do banco adiantou que a instituição tem um nível “adequado” de imparidades registadas por causa das moratórias e revelou que o banco tem 268 milhões de euros em “imparidades excepcionais” por causa da pandemia.
Além disso, Ramalho lembrou que o contrato que criou a rede de segurança de 3,89 mil milhões de euros para o banco poder usar está válido até 2025, com possibilidade de prorrogação de um ano. Ou seja, esta ajuda, que ainda não esgotada, existe “para além do meu mandato”. “Oxalá o Estado não seja chamado”, disse, sem ir mais além.
Na conferência, anunciou que o Novo Banco vai voltar a pedir verbas ao Fundo de Resolução, no valor de 598 milhões de euros, o que eleva a 3,57 mil milhões de euros o valor a usar do mecanismo de capital contingente (que tem um total de 3,89 mil milhões de euros). O valor pedido agora vai além das previsões do executivo (que previa apenas 476 milhões), mas o líder do banco acredita que ele será pago, até pelo “histórico” dos accionistas do banco.
Além disso, não vê que ele possa ser condicionado pela auditoria especial que a Deloitte está a terminar. Lembrou a este propósito que essa auditoria resulta de uma lei de 2019 e que o contrato de venda do banco é de 2017. Leia-se: não contempla essa condição.
Ramalho não acredita também que a auditoria do Tribunal de Contas pedida pelos partidos possa pôr em causa a injecção de capital. “De política não sei nada”, afirmou, enumerando os vários escrutínios do banco e mostrando-se disponível para colaborar com os fiscalizadores.
Esta sexta-feira, o banco anunciou que fechou o ano passado com prejuízos e que vai de novo recorrer ao Fundo de Resolução para ter acesso a fundos públicos, no valor de 598 milhões de euros.
Em 2017, o Novo Banco foi vendido ao Lone Star que tem 75% do capital, tendo o Fundo de Resolução ficado com 25%. Na altura, foi criado o mecanismo de capital contingente, uma rede de segurança de 3,89 mil milhões de euros, que serve para compensar o dono por perdas com activos tóxicos que ponham em causa a solidez da instituição financeira.